O Rui é ingenuamente
acusado de pertencer à brigada anticavaquista. Ele - dissimulado -
nega, claro. E assim vejo-me forçado a entrar na conversa.
O Rui, conheço-o bem, ao Rui, olá se conheço. Pelo que garanto: não só é anticavaquista como muito pior, muito pior mesmo, já digo o quê. Não me apercebi a tempo, lamentavelmente. Até o convidei para padrinho do meu filho mais novo e ele - dissimulado - aceitou. Erro meu, gravíssimo erro meu, imperdoável. Mas ele - dissimulado - até trata bem a criança. Visita-a com frequência; enche-a de prendas. Até lhe comprou uma bicleta. Cercou-me, o malandro, através da criança. Agora se eu lhe renegasse o apadrinhamento teria direito a uma berraria insuportável da criança, sabe-se lá por quanto tempo. Apanhou-me! Sou compadre do Demo!
Aos poucos fui percebendo. Um almoço aqui, um jantar ali, uma conversa no Snob, e fui percebendo. Sim, sim, foi devagarinho, mas fui percebendo. Coisas ao de leve: uma simpatiazinha suave pelos sindicatos; uma compreensão mal disfarçada pelos direitos adquiridos dos funcionários públicos; e coisas enfim.
Enfim. Tenho o rapaz lá em baixo à espera para almoçar. E portanto abrevio. O homem não é só cavaquista...é muito pior...pior até que sportinguista...algo que me custa a dizer...desculpem...não sei se consigo...o homem...o homem é, na verdade...
um bolchevique!
(
Ohhhhh! comoção geral! desmaios na sala!)