o exibicionismo, a insistência em exibir, tem vário tipo de manifestação.
há quem exiba os afectos -- ainda ontem passei por um par, por acaso composto de menino e moça, ali na avenida da liberdade, que se beijava com aparente paixão, e, imaginem, enterneci-me (mas isto sou eu, uma incurável romântica; deveria ter chamado a polícia, ou ligado ao souto moura, ou verificado se havia, na vizinhança, uma escola primária ou um infantário ou mesmo crianças soltas cuja educação sexual à moda exclusiva dos encarregados de educação pudesse de algum modo ser afrontada por aquele destemperado arroubo, que por acaso me faz lembrar uma foto de robert doisneau que para além de ter dado o nome a um
blogue é muito comum em posters,
alguns deles em gabinetes de pessoas que, constato agora, afinal se chocam com beijos e apalpões públicos - (sempre a aprender/desaprender) - há quem exiba os desafectos (que alguns defendem ser uma forma de afecto, mas travestida), há quem exiba o dinheiro, há quem exiba a sua falta, há quem exiba o poder e quem exiba a miséria, há quem exiba a sapiência e quem exiba a ignorância, e até quem não se coíba de exibir a estultícia (sempre gostei desta palavra, é uma mania antiga).
há quem exiba a coragem mas há pouco quem exiba a cobardia -- o primeiro caso, concedo, é uma forma de soberba, mas pronto, ninguém é perfeito; o segundo caso é compreensível.
e há quem, mesmo se abruptamente, exiba uma espécie de
neutralidade (gostava de saber o que pensam os neutrais, já que, obviamente, o assunto lhes não é neutro, e obviamente -- no caso-- até pensam, além de provocar).
há também quem exiba a indiferença. que era por acaso o que mais me apetecia.
isto tudo para dizer que sobre este assunto nada me apeteceria dizer, por muitas e variadas razões (estou como o manuel alegre em viseu, nesse aspecto) -- uma delas é porque sobre isto já muito disse e repetir-me é coisa que me chateia, as outras não vêm ao caso. mas já estou a dizer, e portanto que remédio: digo.
digo por exemplo que o bom gosto que alguns apregoam defender começa na exactidão e na honestidade e na boa fé. e, já agora, na escolha das palavras e das combinações -- algumas há que só para risada alvar servem ('erecção escandalizada dos mentores do politicamente correcto'?????????????!!!!!!!!!!!!!).
ao que interessa (mesmo sendo muito pouco interessante), então: portanto o exibicionismo sexual é 'um comportamento infelizmente muito típico da comunidade gay e lésbica'.
realmente, apanhamos todos os dias com o espectáculo de homens e rapazes e mulheres e raparigas enlaçadas pelas ruas, de mão dada, de braço dado, de braço no ombro, de ombro no ombro, aos beijos e (horror! horror!) aos apalpões, tipo aquelas palmadas que vá-se lá saber porquê os homens e os rapazes adoram dar nos dérrieres das mulheres e raparigas, mas em nojento, em abjecto, em porcalhoto, em vicioso, em virulento, em, em suma, exibicionista. então não se está mesmo a ver que quando os malandros dos facínoras dos porcalhões dos gays e das lésbicas fazem essas coisas as fazem não porque lhes apeteça ou porque estejam apaixonados ou porque de repente ali no meio da rua à frente de toda a gente a rua e a gente se suspendem com o mundo mas porque querem, justa e precisamente, exibir-se.
e querem exibir-se, os malandros, porque sabem muito bem que toda a gente vai olhar e comentar e arrepelar os cabelos com tanto topete porque sabem muito bem, os porcalhões, que aquilo é uma coisa anormal, que até já nem é ilegal e por acaso até já alguém conseguiu garantir constitucionalmente (num dia de grande distracção das boas almas e dos guardiães da moral), mas é para fazer no recato do lar ou das casas de maus costumes ou nos guetos lá deles, longe do olhar puro e inocente das criancinhas e dos seus igualmente puros encarregados de educação e de todos os que em geral, embora nem sempre em particular, prezam as boas maneiras e o bom gosto.
coisas da maricagem e da paneleiragem e da fressureiragem, que como se sabe é, por definição, uma categoria de gente sem elevação nem bom senso, que leva nos dentes e à desfilada o freio dos seus mais vis instintos, atropelando-se na ânsia de ir contra a plácida e evidente natureza das coisas.
logo, as 'miúdas de 14 ou 15 anos' da escola de vila nova de gaia, que por acaso até são um pouco mais crescidas, que andaram 'a exibir a sua mútua atracção' 'através de beijos e apalpões' (tem graça que ninguém, nem sequer o conselho executivo que repreendeu uma delas, alegou isso publicamente, mas deve tratar-se de mui esclarecida inside information), tão ao contrário dos seus colegas de liceu, que como se sabe nunca se dedicam a esses exibicionismos revoltantes, são um caso talvez perdido de falta de gosto (desde logo por gostarem uma da outra) e de ímpeto terrorista de afrontar os pares -- e ímpares.
enfim. um horror.
outra coisa revoltante, ao que parece, é a pedofilia homossexual.
já o disseram aqueles rapazes de cabelo muito curto e apreço pela suástica que se manifestaram há coisa de mês e tal no parque eduardo vii, e que tinham até em poder dos seus bastos neurónios um estudo cientificíssimo que provava que a maioria dos pedófilos são homossexuais (do qual, no entanto, não lembravam nome, autor ou proveniência) sobre essa categoria clínica que se designa por pedofilia e que, segundo todos os manuais de psiquiatria geralmente ao dispor (lá está, há-de haver outros, só ao dispor de certas pessoas insuspeitas de má in/formação), se caracteriza por uma atracção por corpos pré-púberes, ou seja, pré-adolescentes.
parece pois que é isso da pedofilia homossexual que está em causa no artigo 175º do código penal, 'actos homossexuais com adolescentes', mesmo se, por definição, pedofilia é coisa que não tem nada a ver com adolescentes -- concretamente, no caso do artigo em causa, com adolescentes entre os 14 e os 16 anos. mas isso agora não interessa nada: o que interessa é que por força das tais 'erecções escandalizadas' mencionadas acima e do 'silenciamento' 'terrorista' dos 'discordantes' o tribunal constitucional cá do burgo tá a um fósforo de decretar inconstitucional o dito artigo, privando de protecção legal todos os adolescentes entre 14 e 16 anos que tenham sexo com pessoas do mesmo sexo com 18 ou mais anos, a não ser que provem que a sua inexperiência foi abusada -- caso em que outro artigo do mesmo código os protege, em regime de igualdade com os adolescentes da mesma idade que tenham sexo com pessoas de 18 anos ou mais mas de sexo diferente.
é uma confusão, não é?
e ainda se torna mais confuso quando se lê o código penal, que é uma coisa que toda a gente pode fazer (até está na internet, se não quiserem gastar dinheiro, que há gente muito agarrada) e se constata que o abuso sexual de menores/crianças e a violação são crimes autónomos que dão precisamente por esses nomes e que portanto não está nem nunca esteve em causa no artigo 175º 'um miúdo ser abusado ou violado'.
donde não se trata de avaliar se 'é exactamente igual um miúdo ser abusado ou violado por uma mulher ou por um homem', ou de 'sem curar de saber qual das situações poderá causar maior abalo ou mais danos permanentes ou futuros à vítima', considerar 'que o essencial é preservar o direito à orientação sexual do abusador'.
trata-se, apenas, de estabelecer qual a idade a partir da qual um jovem tem autonomia para decidir se quer ou não ter sexo com um adulto -- no caso, alguém do mesmo sexo. e o que artigo 175º estabelece é que a idade para decidir isso é mais elevada que a idade para decidir ter sexo com adultos de sexo diferente. do que resulta que um adulto que tenha sexo com um jovem do mesmo sexo entre 14 e 16 anos comete sempre um crime, enquanto se tiver sexo com jovem entre 14 e 16 de sexo diferente só comete crime se se provar que abusou da inexperiência do jovem.
é uma chatice repetir isto tudo, sobretudo para mim, que até sou jornalista e ao contrário de outros jornalistas não tirei um curso de direito e não exerci advocacia e portanto tenho até mais desculpa se me enganar ou não me explicar bem.
é uma chatice ainda maior ter de o repetir e de me sentir instada, por várias instâncias, a fazê-lo.
mas algum dia teria de ser -- mesmo se há silêncios que se quereriam eternos.
também eu gostaria de ter a liberdade de não ter de assistir a certos exibicionismos -- mas levar com eles é o preço da democracia (e estou muito satisfeita com haver uma democracia, mesmo se muito imperfeita, obrigada). além disso exibicionistas é, hélas, coisa que sempre existiu e existirá em qualquer democracia -- por mais que se ensinem o bom gosto e as boas maneiras, e se tenham mães e pais exemplares.
portanto, jph, eu, provando ser muito mais bem mandada do que gosto de admitir, fiz o que me mandasteS fazer e reagi, como os dálmatas de pavlov, da forma esperada. happy?