prometi que voltava a este assunto e volto (embora a caixa de correio do glória não esteja, por incrível que pareça, a abarrotar de pedidos pungentes nesse sentido).
já confessei que fui aos émetiviauórdes. com o meu amigo alexandre. e que vimos a mandona e que estava linda.
não contei foi que eu e o alexandre, que ficámos até ao fim daquela coisa interminável não sei por alma de quem (embora eu de 5 em 5 minutos sugerisse 'vamos mas é ao gambrinus comer aqueles croquetes que tou cheia da fome') e que passámos o tempo todo a, entre bocejos e risos histéricos, perguntar: quem são estes? o que é qu'ele disse? ãh? que foi aquilo? quem é esta? já acabou? falta muito?
sim, é triste.
bem sei que não temos exactamente 20 anos, mas partilhamos uma presunção de up-to-datismo e o alexandre tadito até foi, durante algum tempo, especialista residente de hip hop num programa de tv e eu usei o cabelo em pé e tudo, esticado com sabão, coisa que me dava uma trabalheira homérica e me obrigava a levantar uma hora mais cedo quando andava na faculdade, e conhecia todas as bandas mais esconsas de manchester e andávamos todos de preto e fomos dos primeiros frequentadores do bairro alto, e assim (e tudo isto há cerca de três milénios, sim, e então?). além disso temos a pretensão -- quase sempre justificada, dizemos nós -- de conseguir distinguir o bom do mau, o interessante do frouxo, e assim. e conhecemos green day, e cold play, e até sabemos quem é o snoop (aquele horroroso com cara de facínora sempre cheio de gajas seminuas a abanar-se que é uma lástima não tenha ainda sido apanhado no meio de uma troca de tiros de ak47 dos gangs lá do bairro) e o atrasado mental do piroso do robbie williams e assim. e gostamos dos the gift. e assim.
mas, porra, achamos que a maioria daqueles gajos do hip hop são não só iguais como igualmente nulos e já não aguentamos mais casacos de chinchila e mais blingues e chocalhos e gajas boazonas de bikini de pailletes a abanar a peida ao lado dos mercedes marfim ao som de líricas insuportavelmente machistas e violentas.
e rebentamos a rir quando vem um rapaz cabeludo para aí com 30 e tal anos ao micro e diz, com ar de quem descobriu a solução para os problemas da humanidade: 'civilization is a fucking failure'. eheh, compared to what, u fucking moron?
e temos dificuldade em perceber que haja quem grite indiscriminadamente pelos green day, pelos system of a down, pelas sugar babes, pelos black eyed peas e pelo robbie e pelo snoop e por um gajo que grita enjoativamente 'you're beautiful' com ar de grande sofrimento (deve DE ter levado com os pés da dita pessoa linda, coitado) cujo nome, confesso, não retive (nem me interessa). isto quando não estão a gritar portugal, que é, como dizia o almirante, que nunca me cansarei de citar, 'uma coisa que me chateia'.
quer dizer: já não há critério? agora é tudo igual? passa na mtv, logo é bom? q'horror.
ainda por cima o som era péssimo e os balcões estavam cheios de tiazada toda ataviada, toda de convite vip (nunca deixará de me maravilhar a quantidade de vips que há neste país) e ar de seca e, suspeito, com tanta fome como eu.
digo-vos: que martírio.
vi depois na tv uns miúdos à porta do pavilhão a dizer que tinham vindo da austrália e que mesmo que não conseguissem entrar iam 'pelo menos sentir o ambiente'. qual ambiente, mates?
enfim. é realmente muito triste uma pessoa ser confrontada com o seu lugar na pirâmide etária. e se calhar mais triste ainda achar graça. nós achámos.
(além disso a madonna tem 47 anos)