Já deu para perceber que não se perde nada evitando a leitura dos blogues oficiosos ou semi-oficiosos-ou-lá-o-que-sejam de apoio às candidaturas presidenciais de
Cavaco Silva e
Mário Soares.
Quem estava à espera de ver no tal carácter não-oficial dos ditos blogues algum distanciamento crítico (ou seja, alguma isenção) face aos respectivos candidatos - evidentemente que se enganou (foi o meu caso). Não. Aquilo é prosa rigorosamente oficial/oficialista travestida de prosa oficiosa; prosa de barricada, clubística, na melhor tradição fundamentalista/irracional da blogosfera portuguesa nos seus debates mais acesos.
Vejam-se, por exemplo, as reacções no Pulo do Lobo à entrevista de Cavaco Silva na TVI. À falta de melhor elogia-se o facto de o candidato não ter respondido a legítimas perguntas que lhe foram feitas, ainda por cima arrogando-se o autor do
post em causa com certezas (divinas?) sobre o que interessa e o que não interessa aos eleitores.
Pergunta-se: mas agora são de elogiar os candidatos que não respondem a perguntas inteiramente legítimas (como por exemplo sobre a apreciação da dissolução parlamentar levada a cabo por Jorge Sampaio)? Elogia-se o silêncio? Elogia-se a recusa do candidato em sujeitar-se, de corpo inteiro, ao escrutínio democrático do eleitorado sobre as suas opiniões políticas? Se queremos um país cada vez mais democrático, é este o caminho?
Evidentemente que não. E, como tal, eu prefiro, se quiser estar a par de apreciações isentas do lado cavaquista, ler 'posts' de gente que, embora simpatizante da candidatura, está completamente liberta de constrangimentos e consegue ser crítica quando acha que o deve ser. Como escrevi ontem, é o caso do
David e do
Martim - sendo que o David mostrou com clareza o principal risco desta estratégia de Cavaco, o de transformar as eleições em "meros actos de fé" (doença de que os blogues oficiosos já padecem, ambos, e com gravidade).
Acrescento que, à esquerda, o panorama ainda é pior: se no lado pró-Cavaco ainda se apanham uns suspiros ligeiramente críticos, no lado dos candidatos da esquerda só sobra mesmo, com algum distanciamento crítico, que eu saiba...este que aqui se assina (mas se não for o único avisem-me).
PS - Nota extra: no lado cavaquista andam claramente a enfiar a cabeça na areia. Não vos merece nenhum comentário o facto de o professor ter dito na TVI que teria sido preferível, no Iraque, uma intervenção "feita sob a égide das Nações Unidas", recordando também que na altura manifestou "estranheza pela falta de tacto da diplomacia americana"? Reparem: está em causa a eleição de alguém que, sendo eleito, será também o Chefe Supremo das Forças Armadas. Aceitará ele o envio de tropas (ou forças de segurança) para operações conduzidas fora da égide das Nações Unidas?