Pudor = moralismo hipócrita
ou
Abertura de espírito = voyeurismo
Foi nisto que andou parte do debate bloguístico à volta do
Bilhete de Identidade. Estímulos simples implicam respostas simples, há muito que o sr. Pavlov explicou isto. E as almas mais simples disto
não conseguem sair. Por duas razões:
1. Dá trabalho.
2. Se elaborassem um pouco mais ficavam sem nada que dizer.
Portanto, se quiserem ler uma autobiografia que, além de interessante, é importante, leiam
Tempos Interessantes, do quase centenário Eric Hobsbawm. Vão ver o que é uma vida. Ele achou - talvez por ser judeu ou inglês ou marxista ou militante comunista ou produto académico de Cambridge - que o mais importante e interessante era mesmo o tempo em que ele viveu e visto como ele o viveu. Isto remete para um aviso prévio: não estejam à espera de ali encontrar as suas experiências sexuais. Nem as dele nem as das pessoas com quem se cruzou. Não se fica a saber de nenhum falhanço sexual de nenhum famoso intelectual ainda vivo e operante nos jornais. Há quem o lamente - eu não.
Não recomendo este livro por sobranceria. Só o faço para dizer que há quem consiga publicar as suas memórias sem incluir os detalhes picantes (seus e de terceiros). Mesmo em Portugal. Até treinadores e jogadores de futebol, seres cuja vida íntima costuma ser bastante preenchida e variada, segundo rezam as lendas.
Não foi o caso de Filomena Mónica. Alguém - a própria - sentiu necessidade de incluir a história completa. Eu, de certa forma, até compreendo: haveria memórias suas publicáveis sem esses detalhes? Memórias de quê?
PS - O
"Milhafre" refere-se ainda ao "
feminismo histérico" do Glória Fácil. Levo-o a sério - porque o conheço. No que toca a histerismo o homem é uma autoridade.