Na questão dos crucifixos o argumentário de Pavlov também tem brilhado esplendorosamente. Mais uma vez é tudo muito simples:
defensores da lei = mata-frades, hereges, bisnetos do Afonso Costa e do Estalineetc, etc, etc.
Mais uma vez é tudo muito simples, dizia eu, e mais uma vez pelas mesmas razões:
1. Dá trabalho perceber a história completa
2. Percebendo a história completa fica-se sem nada para dizer.
Tem este mal, a blogosfera. Não se tendo opinião não se escreve. E não se escrevendo as audiências baixam. E ficamos chateados e depois inventa-se qualquer coisa para, como se diz na rádio, encher a antena.
E depois sai
disto. Sinceramente, não entendo como é que o Martim se diminui na sua inteligência com argumentos deste género. Pelos vistos, deixou-se ir na maré dos que acham que vem aí uma espécie de Holocausto anti-cristão e que o Estado laico se está a preparar para ser agora o que em tempos a Igreja Católica foi para outros (uns milhõezitos, nada por aí além, o que vale é que eram só judeus).
Arma-se logo a grande conspirata e aí vamos todos, de avental à cintura, dar cabo dos presépios e mudar os nomes às ruas (como na Luanda marxista, de R. de Santo António para rua Camarada Che Guevara e coisas assim), numa Grande Marcha sanguinária que percorrerá o país incendiando igrejas e enforcando centenas de padres nas tripas de centenas de freiras. Um festim que terminará num clamor orgásmico vivido em simultâneo por milhões no mundo inteiro (imaginem a gritaria, vai ouvir-se na Lua...) perante a gloriosa implosão do Cristo-Rei de Almada (além do mais, um valente mamarracho) accionada em directo para as câmeras da CNN por um engº Sócrates exibindo o seu mais luciferino sorriso, qual
mullah Omar perante os Budas gigantes do Afeganistão.
Estão a ver o filme? Este género de argumentário, demagogo e profundamente desonesto, visa apenas incendiar, mais do que discutir. O que está em causa é algo tão simples como isto: há uma lei (da Liberdade Religiosa), que até foi conversada com a hierarquia católica e aprovada no tempo do
mui canónico engº Guterres, evidentemente com a sua santa benção. E, além dessa lei, a Constituição. E ambos os textos estão muito longe de prever - mesmo muito longe - o que se prevê em França, por exemplo (ler
aqui o que escreveu Vital Moreira). E pronto. É só isto. Rigorosamente só isto.
Tudo o mais tem sido pura ficção. Tenho aliás por mim que os césares das neves desta alegre paróquia à beira mar plantada só exacerbaram a questão porque estão em
warm up argumentativo para o referendo do aborto. Neste "caldinho" radical, eles sabem que voltarão a ganhar.
Por isso volto ao princípio. Seria importante não entrar nas discussões sobre matéria controversa sempre da mesma maneira simplista, do género "ou és por mim ou és contra mim" ou "só criticas o Bush porque és anti-americano" ou ainda, como se usava antigamente, "tudo pela Nação, nada contra a Nação". Se quisermos ser algo mais que os pobres cães do Pavlov temos de admitir que há mais vida para lá destas "verdades" esquemáticas. O maniqueísmo foi a "massa" que estruturou a propaganda das ditadutas e a perseguição aos seus adversários. Convém não repetir asneiras que representam passos civilizacionais à rectaguarda.
Leituras recomendáveis.
1. A
Constituição da República (artigos 41º e 43º)
2. A
Lei da Liberdade Religiosa (artigos 4º e 9º)
PS -
E, a propósito, amanhã almoçamos?