aquele gajo do irão anda-me a enervar solenemente.
e a dar-me uma vontade irreprimível de repetir aquela citação do bill clinton que, salvo erro, já aqui citei há uns meses largos -- aquela em que ele diz que, todas as diferenças com o estado de israel incluídas, se algum dia a sua existência estiver em causa, ele tenciona pegar numa metralhadora, enfiar-se numa trincheira e combater até à morte.
o que clinton diz vale o que vale -- mas a frase vale muito mais que isso (e que ele?).
o filho da mãe iraniano é uma besta, claro. mas o pior nem é ele e os como ele -- sei exactamente como se deve lidar com os como ele. o pior são os outros. por exemplo: lembro-me de uma noite na jordânia em 2003 em que, horas antes de seguir para o iraque, jantei com um jovem arquitecto jordano de origem palestiniana e uma não tão jovem professora jordana de origem palestiniana (uma parte considerável dos jordanos são, como se sabe, de origem palestiniana). eram pessoas civilizadas, simpáticas, e estávamos num lugar civilizado e afável, cheio de jovens civilizados e afáveis e trendy, a comer comida italiana (era o que havia). a dada altura, eles, os jordanos, começaram a falar de israel. já não me lembro do que disseram, mas foi algo que me levou a dizer, 'discutir a existência do estado de israel está fora de questão'. eles ficaram a olhar para mim como se tivesse pronunciado algo de indizível.
eram pessoas simpáticas, civilizadas. sem barbas façanhudas nem kefiahs sequer. nada parecidas, na aparência pelo menos, com o gajo iraniano.
ah, é verdade: no mesmo dia, à tarde, o arquitecto tinha-me mostrado uma nota jordana com a imagem da mesquita de al-aqsa. a mesquita de al-aqsa é em jerusalém. e jerusalém ou é israel ou é palestina, na actual discussão geo-estratégica. já ninguém diz que é jordânia. achava eu, claro.
quando pensares que estás a perceber o médio oriente, é porque ainda não percebeste nada, dizia um cartaz no gabinete de timur goskel, o chefe das forças da onu no sul do líbano, em 1992. true. há coisas que nunca se vão perceber e, sobretudo, há coisas que nunca se vão poder racionalizar. talvez a minha determinação em não discutir a existência do estado de israel (mesmo se posso discutir longamente os métodos e a política do estado de israel) seja uma delas -- todas as coisas e causas pelas quais nos imaginamos a pegar em armas o são. Escolher um lado deriva, mesmo que possamos fazer uma lista em que cabem todas as palavras e noções certas, de uma adesão de sangue e coração.
há coisas em que há um nós e um eles, como um bem e um mal -- coisas que não se discutem nem se negocieiam nem relativizam. israel é uma delas.