Glória Fácil...

...para Ana Sá Lopes (asl), Nuno Simas (ns) e João Pedro Henriques (JPH). Sobre tudo.[Correio para gfacil@gmail.com]

terça-feira, janeiro 10

Isabel Pires de Lima

Destas danças na Cultura pouco entendo. Do assunto só sei o que alguns anos de observação me dizem: quando as "personalidades" da cultura começam a disparar sobre o Governo isso significa, geralmente, que o Governo está a ir bem. Mas posso, claro, estar enganado.

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Dança de cadeiras no D. Maria

Tem sido com surpresa e revolta que tenho acompanhado o que se está a
passar na sequência da notícia da substituição do director do Teatro
Nacional D.Maria.
Fui daqueles que recebi com optimismo a notícia da nomeação de
António Lagarto: é um cenógrafo/artista plástico de mérito
reconhecido e um homem de teatro com um percurso cheio. Esperei que a
sua proximidade com Ricardo Pais (e a linha de programação do Teatro
Nacional S. João) viesse trazer uma dinâmica que o Teatro Nacional
de Lisboa merecia, quer em movimentação de espectadores, quer no
impacto e relevância na cidade.
Mas não é isso que tenho verificado nos últimos tempos: a casa está
longe de andar cheia e não me parece que tenha operado a ressureição
que muitos lisboetas esperam de um teatro que pode ser referência na
cidade. É por isso que não me surpreende a indicação de um novo
director que se propõe a fazer funcionar a casa numa outra
perspectiva (embora desconheça se essa substituição foi feita de
forma correcta).

Esclareço uma coisa: não sou amigo nem de António Lagarto, nem de
Carlos Fragateiro, nunca trabalhei para eles, nem tenho planos de
trabalhar, nem tenho uma qualquer agenda que os inclua. Sou artista
plástico e autor de banda desenhada, tendo ao longo dos últimos 15
anos trabalhado em projectos de palco em teatros nacionais, salas de
vão-de-escada, salas de exploração comercial e até ao ar livre;
estive em projectos subsidiados pelo estado, noutros com
financiamento comercial, e noutros sem remuneração.

Tenho por isso isenção para afirmar que não me revejo na ideia de que
os "artistas" e "criadores" se insurgem contra a nomeação de Carlos
Fragateiro. Ainda por cima vejo no surgimento desta "carta à Ministra
da Cultura" uma forma cobarde dos seus impulsionadores de escamotear
a fulanização deste assunto e de conseguir arregimentar apoios: o SMS
que recebi ontem de alguém que me mobilizava para a vigília no D.
Maria e que dizia "merceeiro do teatro da trindade perigosamente
perto do d. maria" parece-me muito mais coerente. Repugna-me aquilo
que me parece ser um julgamento sumário de alguém que é um homem de
teatro e que dirigiu nos últimos anos uma casa onde pude ver
representado, em salas cheias, Luiz Pacheco, Inês Pedrosa, José
Saramago ou uma opera de José Eduardo Rocha.

O que me parece estar aqui em jogo não é uma preocupação isenta
acerca dos destinos do Teatro Nacional ou o respeito democrático pela
alternância de estratégias: é um acto de poder tendo em vista a
protecção de um território onde alguns têm o rabo bem assente. A
verdade é que a elite das artes está cheia de gente que passa a vida
a trazer argumentação ética e programática para caucionar opções que
são estéticas.

Se calhar precisamos mais neste momento de quem saiba fazer contas às
nossas artes, do que alguém para falar de Pinter à mesa do café.

António Jorge Goncalves
(artista plástico e autor de banda desenhada)

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Caro João Pedro Henriques, uma dúvida sobre o contributo de António Jorge Gonçalves a propósito da substituição no D. Maria: não lhe parece uma argumentação demasiado contaminada pela retórica das presidenciais? será Fragateiro o Cavaco do Nacional?
(Outra dúvida, já que tanto se insiste em números: alguém comparou o nº de espectadores do D. Maria e do Trindade? E que público é esse, vem por si ou chega - é só uma hipótese de trabalho - de autocarro alugado como nos comícios?) . Cumprimentos do
Francisco Frazão
|| JPH, 11:15

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