Ontem o Presidente da República conversou, em Belém, com o ministro Manuel Pinho sobre o "caso EDP". Audiência pública e publicitada. Não discuto se a iniciativa foi (ou não) tardia. Pergunto apenas: agora os ministros são os interlocutores do Presidente da República? Eu pensava que era o primeiro-ministro. Mas pelos vistos não tem que ser. Pode ser um ministro. Um dia, na ausência ou indisponibilidade de um ministro, que venha um secretário de Estado. E, na falta deste, um director-geral. E por aí adiante.
Fervendo em patriotismo, habitual nestas épocas, logo todos os candidatos presidenciais se multiplicaram em elogios ao gesto presidencial. Todos - repito. Asneira, e da grossa. Está aberto um precedente complicado. Mais um de autoria sampaística. (O primeiro foi fazer cair um Governo, o de Santana, por incompetência. Pode ser compreensível, de um ponto de vista pragmático, mas está completamente para lá dos poderes presidenciais.)
Não se queixem um dia os candidatos derrotados se (por exemplo) Cavaco Silva, eleito PR, começar a convocar a Belém ministros atrás de ministros, por tudo e mais alguma coisa, passando ao lado (ou por cima) do primeiro-ministro. As formalidades da democracia têm, nalguns casos, conteúdo substantivo. Para isso é que existem. Não me venham depois falar em "exorbitação" de funções e quejandos. Elogiaram o gesto de Sampaio e agora aguentem-se, para o que der e vier. Habituem-se.