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quinta-feira, janeiro 26

O ovo

Fiquei espantado com o artigo de ontem de Eduardo Prado Coelho. Passo a citar o destacado apoiante de Alegre:
"António Vitorino, Jaime Gama, Vitor Constâncio não estavam interessados em ser candidatos. Acontece. Manuel Alegre, sondado em quarto lugar, não aceitou de imediato e ficou a reflectir. É compreensível. Soares não resistiu e propôs-se a Sócrates. Acontece."

Nesta meia dúzia de frases - que não me parecem escritas naquele registo ultra-irónico à contrário que EPC por vezes utiliza - fico a saber que, afinal:
1. Alegre poderia ter sido o candidato oficialmente apoiado pelo PS;
2. Só não o foi porque ficou a "reflectir", permitindo que Soares se antecipasse;

Muito bem. Interessantes revelações (pelo menos para mim). Que permitem, legitimamente, perguntar:
1. Não terá feito Alegre os possíveis e os impossíveis para não ser o candidato oficial do PS?
2. Como poderia ter protagonizado o discurso que protagonizou sendo o candidato oficialmente apoiado por um partido?
3. Que mais-valia eleitoral teria Alegre se não pudesse ter explorado o discurso da "crise dos partidos"?
4. Ou seja: não acabou por ser uma enorme vantagem para Alegre o facto de o PS não o apoiar?

Tem-se pensado que Alegre explorou o discurso da "crise dos partidos" como consequência da rejeição da sua candidatura pelo PS. Mas experimentemos, por uma vez, virar o raciocínio do avesso: Alegre fez por não ser o candidato do PS precisamente porque essa era a única forma de poder continuar a ter o discurso da "crise dos partidos" (que aliás já tinha feito na disputa pela liderança do PS que travou com Sócrates). Depois de ter lido a crónica de EPC isto parece-me uma evidência.

Findas as especulações, segue o meu modesto julgamento moral desta história: Não gosto de políticos que gerem 30 anos de carreira política sem um único beliscão. E que o fazem pela recusa sistemática de assumir funções de risco, precisamente porque na única vez que o fizeram - Alegre foi o secretário de Estado da Comunicação Social no famoso "caso O Século" - se deram tremendamente mal, jurando para nunca mais. Assim é muito fácil. Mas isto não é política - porque político que é político vai à guerra e dá e leva. Isto é outra coisa, gestão de carreira apenas.

"Políticos" assim fazem-me sempre lembrar uma frase que um dia Vasco Pulido Valente dedicou a Durão Barroso (outro artista...): "Perfeitinho que nem um ovo. Não tem ponta por onde se lhe pegue."

PS. E agora para algo completamente diferente. Para que não me voltem a acusar de "mau perder" presidencial, decidi adequar a nossa Discoteca ao presente momento de regozijo geral com a eleição do prof. Cavaco Silva.
|| JPH, 13:54

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