Glória Fácil...

...para Ana Sá Lopes (asl), Nuno Simas (ns) e João Pedro Henriques (JPH). Sobre tudo.[Correio para gfacil@gmail.com]

sexta-feira, janeiro 6

odeio odeio odeio

quando destroem a geografia da minha vida.

fico danada. pior: fico até triste.

já o ano passado, no início do ano, o meu merceeiro, que há uma década me levava caixotes de fruta e legumes a casa -- caixotes com quilos de laranjas, limões, peros bravos de esmolfe, tomate, bróculos, courgettes e tudo isto por aqueles quatro andares sem elevador acima -- telefonou a dizer que ia fechar a loja. quase chorei.

agora foi o adamastor. a tabacaria onde eu mandava guardar a vanity fair está fechada. o senhor que me atendia desapareceu. o rapaz que trabalhava para ele também. as caixas de tabaco para cachimbo e os guias de portugal e as revistas estrangeiras todas penduradas à porta também. nem um papelinho a dizer: mudámo-nos para... nada. tive de ir à cena de bifanas na esquina da 1º de dezembro com a rua do carmo perguntar ao homem da frigideira o que tinha acontecido: 'venderam tudo e foram-se embora'.

não sei se estão a ver: todos os fins de mês lá ia eu ao adamastor e nem precisava de perguntar se já tinha chegado, eles punham logo a revista reluzente em cima do balcão e diziam 'a sua amiga [a joão, que manda lá guardar a revista também] ainda não veio'.

porra. isto custa. lá vou agora ter de mudar o mapa todo dos meus passos, seduzir outro dono de tabacaria, integrar outras caras na minha geografia.

odeio.

já sei que tudo é transitório e não sei quê, que não podemos ter nada como certo. mas não podia haver assim meia dúzia de coisas imutáveis, coisas sem importância que nos confortassem da terrível infiabilidade de tudo?

o mundo não podia ter assim uns compartimentos estanques para as mercearias, as tabacarias e os sapateiros, e já agora para os batons e o verniz das unhas, que as marcas passam a vida a descontinuar só para me prejudicar?

não chega já a amizade, o amor, a pele, o cabelo, o tempo, os empregos, as paisagens, os gostos e os pensamentos?

não podem parar quietos um bocado?
|| f., 15:45

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