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segunda-feira, fevereiro 13

O "bom senso" - derradeira pregação

Por mim, este será o último post sobre o assunto. A não ser, evidentemente, que alguma interpelação me force a voltar. A ver vamos. E o que me interessa, agora, é tentar explicar como a solução do "bom senso" é inviável.

1. O "bom senso" não é prático. No Ocidente publicam-se milhares de jornais; ouvem-se milhares de rádios e vêem-se milhares de canais de TV. Além de que, só na Europa, somos mais de 400 milhões de habitantes e a isto acresce a Internet. Ninguém pode, em bom rigor, evitar que, aqui ou ali, haja alguém que, por alguma razão, que até pode ser a pior de todas, decida fazer algo que venha a ser considerado blasfemo. É impossível impedir isso.

2. No Ocidente só há uma entidade com poder para garantir o "bom-senso" aos media: os governos. A filosofia do "bom senso" mediático implica, portanto, que a liberdade de expressão nos media ficaria sujeita aos interesses de Estado. É claro que sei que há circunstâncias em que essa subordinação acontece, imposta por lei (segredos de Estado, segredos militares). Mas admitimos nós que essa subordinação se alargue? Eu não. E pensam que exagero? Pois digo que não: na Holanda ponderaram-se leis anti-blasfémia depois do assassinato de Theo Van Gogh.

3. O "bom senso" sugere que os media ocidentais se deixem de actos que possam contribuir para incendiar a animosidade do Islão contra o Ocidente. Fosse esta teoria levada à letra e o News of The World não teria contado a história da brutalidade de soldados britânicos contra iraquianos. É isso que querem? Ou haverá uma liberdade (maior) para jornalistas e outra (mais pequena) para caricaturistas?

4. O "bom senso" sugere igualmente que, quanto à representação de Maomé (que uso aqui apenas como exemplo) se faça a vontade ao Islão, deixando de o representar (porque o problema islâmico não é só a sátira, é a representação, pura e simples). Por outras palavras: o "bom senso" sugere todos no Ocidente se subordinem a directivas religiosas, sendo crentes ou não.

5. A teoria do "bom senso" legitima o radicalismo islâmico. Leva-os a pensar que até têm alguma razão na forma como protestam, porque do lado de "cá" há quem lhes dê alguma razão. Isso sim é que é "fazer o jogo de Bin Laden", como dizia um dia destes aquela triste figura que chefia a diplomacia nacional.

6. Os vários discursos "compreensivos" dos Governos ocidentais face à indignação islâmica não tiveram qualquer efeito de acalmia do lado de "lá". Se repararem bem, foi depois de vários desses discursos que as embaixadas foram incendiadas. Para o radicalismo islâmico é pura e simplesmente inintelígel que um Governo não possa fechar um jornal (porque "lá" é assim que as coisas funcionam). Era isso que queriam e isso não lhes podia ser dado. A resposta ocidental "compreensiva" soou portanto fraca aos ouvidos do radicalismo islâmico e, nessa medida, contribuiu para incendiar ainda mais os ânimos.

7. Já disse (e repito) que não vejo obrigação nenhuma no Ocidente de andar a fazer proselitismo democrático pelo Islão - e muito menos pela força, como está a acontecer no Iraque. O que quero, apenas, é deixar claro que o inverso também se aplica: não me apetece ver a terra onde vivo subordinada à tirania do Islão radical. E dessa tirania faz parte tudo o que o "bom senso" defendeu: a subordinação dos media aos interesses dos governos; a compreensão com formas violentas de manifestação da indignação; a subordinação de toda a gente a ditames religiosos que só obrigam os crentes.

8. Tenho dito. Viva a República! Viva a Democracia! 25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!
|| JPH, 12:12

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