Glória Fácil...

...para Ana Sá Lopes (asl), Nuno Simas (ns) e João Pedro Henriques (JPH). Sobre tudo.[Correio para gfacil@gmail.com]

segunda-feira, março 6

agora a sério, mas a sério mesmo

o ppm resolveu falar 'muito a sério' sobre o assunto jornalismo de causas. aplaude-se a franqueza e a honestidade (juro que não sabia que era militante do cds/pp, nem adivinharia) e o separar de águas... até ao momento em que afirma que o dn se comprometeu com a causa do casamento da teresa pires e da helena paixão. eu, que sou jornalista do dn e escrevi sobre o caso, gostava que o ppm concretizasse o motivo do que diz.

não sei se o ppm sabe, mas a petição que eu e a maioria da redacção do dn assinou não era sobre o casamento da teresa e da helena -- era sobre o direito das pessoas do mesmo sexo a terem acesso ao casamento civil e foi assinada em novembro, meses antes de as duas mulheres terem feito conhecido o seu propósito. não faz diferença? é o mesmo? provavelmente. é como assinar uma petição a favor de que as crianças infectadas com hiv tenham tratamento nas escolas igual aos das outras crianças e de repente aparecer um caso em que há crianças com hiv discriminadas na escola. só podem ir fazer a reportagem as pessoas que acham que as crianças devem ser discriminadas? ou é preciso encontrar um jornalista que não tenha NENHUMA opinião sobre o assunto?

é como ir a timor fazer uma reportagem quando se participou da manifestação a favor da independência de timor. é como ir a israel fazer uma reportagem quando se tem opinião sobre quem tem razão (embora o mais certo seja sair de lá a achar que ninguém tem razão). é como ir ao iraque fazer uma reportagem durante a ocupação quando se tem uma opinião sobre a ocupação -- e quem a não tem?

ou seja, como o ppm deve -- ou, pelas razões aduzidas no post, devia -- saber, o que está em causa, sempre, não é a opinião que se tem sobre o assunto mas o trabalho que se faz. o que sai publicado. e sobre o trabalho que fiz, peço meças. não quero com isto dizer que o meu trabalho é melhor que o dos outros jornalistas que fizeram a cobertura. quero dizer que sei que é um trabalho jornalístico. percebe-se no que escrevi o que penso do assunto? é possível. isso é grave? a meu ver não. a questão é: estão lá as questões relevantes? estão lá as perguntas certas? escamoteei algum facto de que tenha tido conhecimento para fazer passar uma mensagem?

é isso que importa quando se discute jornalismo. como é o que importa quando o ppm escrever sobre algum assunto em que o seu partido tenha uma posição oficial. sendo que, lamento, não é o mesmo ser militante de um partido e defender uma causa cívica. nas causas cívicas não há hierarquias nem linhas oficiais nem obrigações que não advenham dos posicionamentos individuais.

é facílimo mandar lama para cima de alguém ou de um jornal com acusações gratuitas e infundamentadas. pode até render alguns dividendos (para a concorrência, por exemplo). mas não é minimamente sério, e muito menos 'muito sério'.

e só mais uma coisa: quando eu lhe quiser dizer alguma coisa, paulo, seja na sua caixa de comentários ou noutro local qualquer, tenha a certeza que o farei com o meu nome. não lho mandarei dizer por ninguém
|| f., 18:16

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