Glória Fácil...

...para Ana Sá Lopes (asl), Nuno Simas (ns) e João Pedro Henriques (JPH). Sobre tudo.[Correio para gfacil@gmail.com]

quarta-feira, março 1

capote, dois

também fui ontem ver. também no monumental. também na sala quatro.

a outra hora, porém.

atrás de mim, umas sras de uma certa idade (e experiência, decerto) riam cinicamente do cinismo de truman (já repararam como truman se decompõe em verdadeiro homem?), da sua auto-complacência.

não me incomodou a sucessão de planos fixos que maçou o jph: há vertigem moral que chegue.

a traição de truman, no entanto, é só uma caricatura da sempre traiçoeira promessa de todo o jornalista ao entrevistado, tanto mais traiçoeira quanto mais bem sucedida na sua ilusão empática (ilusão em que os dois, jornalista e outro, se iludem).

fale para mim, só para mim. eu oiço. estou aqui para ouvir. estou aqui para compreender e absorver.

estou disponível. estou só para si.

isto tem um tempo: o tempo da utilidade.

não é raro os entrevistados apegarem-se a quem assim lhes manifesta o penhor de uma quase impossível entrega (em troca da deles, claro).

mas isto liga-se e desliga-se. como um interruptor.

e depois dessa entrega impossivelmente laboriosa, impossivelmente inteira, queremos descanso. queremos o fim.

penso nisso como um mergulho numa longa piscina, um longo mergulho em que sustenho o ar até ao limite, até à meta, até que a pressão do sangue e da asfixia me tiram dali.

depois disso não tenho mais uso para aquilo. é pura delicadeza que me impede de o dizer e de agir em conformidade.

percebo o truman. conheço em mim a mesma crueldade.
|| f., 20:38

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