Glória Fácil...

...para Ana Sá Lopes (asl), Nuno Simas (ns) e João Pedro Henriques (JPH). Sobre tudo.[Correio para gfacil@gmail.com]

quarta-feira, maio 3

Sombra (II)

Hoje o Sol será apresentado às massas. Quero aqui dizer que, independentemente de todas as maluqueiras que o arquitecto Saraiva já disse e escreveu sobre os mais variados assuntos, não subestimo a sua capacidade para liderar um projecto jornalístico rentável - e mesmo nos tempos de crise que vivemos.

Só uma avestruz com a cabeça enfiada na areia daqui até à Nova Zelândia pode ignorar a obra do arquitecto no sucesso português de vendas que o Expresso (ainda) é. Aliás, digo mais: nunca consegui perceber verdadeiramente porque é que o arquitecto foi corrido da direcção do semanário. Comungo das explicações conspirativas que ligam essa decisão de Balsemão à pacificação das relações entre o grupo Impresa e o Grupo Espirito Santo. Saraiva foi a moeda de troca para isso acontecer - mas, repito, isto é pura especulação.

Empiricamente falando, parece-me que, dado o estado pré-comatoso em que se encontra O Independente e o crescente processo de acinzentamento do Expresso, há espaço comercial para um novo jornal semanário. Tendo em conta a concorrência da Visão e da Sábado, acho também que a questão do preço desse novo jornal é importantíssima. Tem de ser baixo, necessariamente, porque será muito por aí que o novo semanário poderá roubar leitores aos produtos com quem irá concorrer.

Grande parte do povo leitor de jornais está hoje mais pobre do que há uns anos. Em tempo de crise, quando é preciso começar a cortar despesas, o jornalinho que se vai comprando está no topo da lista. Além do mais, os preços dos jornais em Portugal são absolutamente incríveis (caros, quero dizer). E portanto concorrer a sério, impor no mercado um produto novo, implica necessariamente abrir uma guerra de preços com os produtos já instalados. Não é por acaso que o arquitecto Saraiva tem sempre dito que a redacção do seu Sol será curta. Não se consegue um preço baixo de venda sem custos de produção igualmente baixos. Segundo o que o arquitecto já anunciou, o seu novo semanário custará dois euros (o Expresso custa três).

Dito isto, só receio que o arquitecto engrende uma coisa assim a meio caminho entre o tablóide e o chamado jornal de referência - e sabe-se que ele não esconde a sua admiração por produtos tablóide. Nada mais condenado ao fracasso do que as meias-tintas. Recordo, por exemplo, que o 24 Horas só começou a descolar quando se decidiu definitivamente por um caminho (no caso, o do jornalismo tablóide). Portanto, se o Sol tiver de ser alguma coisa, que seja mesmo só uma - e não duas ou três ao mesmo tempo.

Quanto ao resto, o costume: não há ninguém que se torne cliente de um jornal se este não lhe disser coisas que ele antes não sabia. Coisas que se chamam notícias. Ou, se preferirirem, novidades. Ou ainda, na gíria jornalística, cachas. É nisto que tudo o resto deve assentar.

[O arquitecto explica hoje o seu Sol aqui]
|| JPH, 11:34

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