Responder a uma declaração de amor é complicado. Do tom ao olhar às palavras, tudo é aferido ao nanomilímetro pelo contra-campo. O silêncio, a não ser que por arrebatamento (desmaiar de felicidade e alegar amnésia ao acordar é uma hipótese, embora um beijo prolongado seja mais trivial), está vedado em absoluto: tem de se dizer alguma coisa. O quê é o busílis – sobretudo se, verdade verdadinha, não palpitamos assim tanto por aquela pessoa mas não a queremos magoar ou (ainda) mandar bugiar (quando a devoção é mútua é muito mais fácil encontrar le mot juste, n’est ce pas?). Diga-se o que se disser, nunca por nunca “E eu gosto muito de ti”(explicando ao outro que está ao nível dos cereais de pequeno almoço, ou nem isso). Tudo o que inclua a palavra “também” é – também – desaconselhável. Tradução: “prontos, toma lá a bicicleta”. Não admira então que a (i)mortal frase tenha encontrado o seu justo lugar nos “modelos” de sms de uma marca de telefones portáteis. Entre o “Reunião, tel. + tarde” e o “Não posso ajudar” (todo um programa, este), lá está: “Também te amo”. O pragmatismo é o fim do romance, ponto.
(texto publicado no contra os canhões do dn e republicado aqui, para o
francisco -- que tem um nokia destes)