Por acaso concedo uma especial autoridade aos judeus nas discussões sobre o Holocausto. E não é só por terem sido eles as principais vítimas. É também porque nunca vi dois judeus dizerem a mesma coisa sobre o assunto, vi sempre discordância, debate, um povo em que cada voz é mesmo só uma voz, ninguém fala por todos. É isto que lhes dá autoridade: nas discussões judaicas sobre o Holocausto o fanatismo existe mas não domina, nem pouco mais ou menos (basta, por exemplo, ler Hanna Arendt e as violentíssimas polémicas que as suas teses da
A Banalidade do Mal desencadearam).
Dito isto, recomendo fortemente a leitura do artigo de Esther Mucznik, hoje, no
PÚBLICO (não há link, sorry), intitulado "
Reconciliação", a palavra necessária. Deixo um só parágrafo, o último:
"Seria pena que a minúcia míope da análise esvaziasse o significado da ida do Papa a Auschwitz. Até porque, parafraseando o rabino americano David Rosen: 'As relações entre judeus e católicos já não se baseiam no passado.' A palavra reconciliação ainda não sai com facilidade, ainda queima muitos lábios. Mas só ela permite construir um futuro diferente."
Disse.