maria josé nogueira pinto, no dn de sexta (faço o link depois, o mac não deixa), explica como o ' a correcção política e o discurso dominante' querem destruir a família. começou tudo, diz, da forma mais aparentemente inocente: os malandros do 'discurso dominante' acrescentaram um 's' à família. com uma simples letrinha, retiraram-na assim do centro da correcção. já não havia só uma família, a única, mas várias.
note-se que esta correcção ortográfica tão singela criou em si uma nova realidade. as 'novas categorias' de família assim alcandoradas à dignidade do vocábulo 'apareciam como conquistas dos tempos modernos' mas 'ninguém exprimiu a dúvida pertinente quanto aos benefícios dessas conquistas'.
e mjnp exemplifica: 'as famílias monoparentais, sabemos, resultam na sua esmagadora maioria do facto de os homens abandonarem as mulheres e os filhos, ficando estas entregues a si próprias e à dura missão de prover às necessidadesc da família agora reduzida a um único adulto, a mãe'. (que giro. eu cá achava, na minha ignorância e má fé, que o crescimento do número das famílias monoparentais -- que de resto sempre existiram e não eram mais porque há uns anitos, nem muitos, as crianças que nasciam fora do bendito e sacrossanto casamento iam parar à roda e os casamentos se desfaziam na realidade mas não no papel, até porque, talvez convenha lembrar, o divórcio era interdito -- se devia ao facto de as mulheres, mais autonomizadas económica e culturalmente, estarem muito menos dispostas a aguentar relações massacrantes).
e continua, em direcção às uniões de facto e ao casamento de pessoas do mesmo sexo, depois de descrever como as políticas de ordenamento e habitação erradas deram cabo da família alargada (curiosamente, mjnp fala do caso português e apenas do caso português, como se as mesmas políticas -- portuguesas -- servissem para explicar um fenómeno global. mas isso agora não interessa nada): 'em espanha, onde tudo é avaliado, os números indicam que poucos recorreram à união de facto, após a entrada em vigor da nova lei, sendo possível concluir que não seriam muito numerosas as pendências nesta matéria... em breve teremos os números dos casamentos celebrados entre homossexuais'. (desculpem, esta tem mesmo de levar um parentesis. quer mjnp levar-nos a concluir que a realidade 'união de facto' é pouco expressiva? e poucos são quantos? não estará a confundir o registo das uniões com a sua existência real? e, ainda, a haver mesmo 'poucos' casos, isso significa o quê? -- a mesma questão se coloca no caso do casamento entre pessoas do mesmo sexo. é curioso como as pessoas que defendem que a homossexualidade é uma coisa indesejável e que deve ser, a existir, o mais disfarçada possível, pretendem retirar conclusões sobre o número de assunções públicas de ligações entre pessoas do mesmo sexo ao fim de um ano de vigência da lei).
para concluir: 'não vale a pena confundir as necessidades, que todos reconhecemos, de tratar juridicamente novas realidades sociais, com a subversão de instituições indispensáveis à saúde e ao desenvolvimento das pessoas e das comunidades'.
e que 'instituições' (o 's' é da autora, certamente já baralhada pelos que denomina de 'donos do pensamento dominante', os tais que 'actuam como censores ditatoriais, banindo os desconformes e silenciando os críticos' -- e que silenciada e banida que a sôtora maria josé, mais os outros todos que pensam como ela, tem sido, ao contrário dos que não pensam como ela, que pululam para aí por tudo quanto é coluna de opinião e cargo de poder e contra os quais nunca por nunca se movem campanhas, não) serão essas, perguntamos nós? mjng responde: 'o pilar que sustenta o indivíduo e a sociedade'; 'o âmbito privilegiado onde cada pessoa aprende a dar e a receber amor'; a instituições intermédia entre o indivíduo e a sociedade insubstituível nessa mediação porque assente numa profunda relação interpessoal'; 'da escola de humanização do homem no seu processo de crescimento'.tudo isto é a 'família'. sem 's'. e para isto tudo, percebemos, não servem as 'famíliaS'.
não se é sustentado como indivíduo numa família monoparental, nem numa união de facto, nem num casamento entre pessoas do mesmo sexo. não se aprende aí nada sobre dar e receber amor. nem se encontram aí profundas relações interpessoais, nem se cresce, nem se passa por um processo de humanização (seja lá isso o que for). não. aí é só sexo, infelicidade, pobreza e doenças (já diz o nosso presidente, deus o proteja). e, quiçá, violência -- toda a gente sabe que violência não há na família sem s, pela simples razão de que uma família onde há violência passa logo a caber no conceito famíliaS.
vá lá, não se divorciem. vocês, ó mulheres, não se deixem abandonar pelos homens. vocês, ó homens, não abandonem as vossas mulheres. quando engravidarem uma por engano vosso e dela, façam o vosso dever, casem com ela e sejam os dois mais os rebentos infelizes para sempre. se vos apetecer outra coisa de vez em quando, sabem o que têm a fazer -- as trabalhadoras e os trabalhadores do sexo fizeram-se para essas ocasiões (se existem, é porque deus nosso senhor lhes reserva um papel no mundo, não acham?). e, sobretudo, não amem quem amam. ou, se amarem, paciência: o amor não é tudo. a felicidade não interessa. a vida não importa. o importante é a família. a FAMÍLIA.
o problema, cara maria josé, é que esta gente é burra. não quer ouvir. só quer fazer o que lhe dá na realíssima. gentinha sem educação, sem sentido da responsabilidade. qu'hórror.