Eu juro que se fosse alguma vez entrevistado pela Maria João Avillez (com dois éles, ou mesmo três ou quatro) também dificilmente não me comportaria de forma arrogante e até mal educada. A impreparação é tanta, o manteiguismo besuntista atinge tais níveis, as banalidades sucedem-se a tal ritmo que só mesmo um entrevistado dispondo de níveis inumanos de autocontrole consegue não deixar de transparecer uma certa irritação com aquilo tudo. Reparem: não estou a dizer que a entrevista de ontem à noite na SIC foi difícil para o entrevistado (como por exemplo foram algumas de Constança Cunha Sá na TVI aos candidatos presidenciais). Pelo contrário: estou a dizer que foi uma passeata absoluta para o engº Sócrates.
Mas a velocidade das vulgaridades é tanta e o molho de manteiga em que aquilo tudo foi imerso é de tal maneira espesso que um entrevistado minimamente humano não pode deixar de se sentir incomodado. Para a história da entrevista deixo aqui um pormenor. A certa altura a "entrevistadora" perguntou ao primeiro-ministro sobre os obstáculos da maioria PS no Parlamento a iniciativas da oposição. Sócrates deu a resposta mais que previsível: pediu exemplos. A "entrevistadora" gaguejou, deu um único exemplo (o caso Eurominas) e depois acrescentou algo (sobre as iniciativas da oposição impedidas pelo PS) que devia ficar marcado para sempre na memória do jornalismo nacional: "Tenho a lista em casa."
Moral da história: há listas que não se devem esquecer em casa. As das perguntas e as do supermercado. Suponho que nem com umas nem com outras Maria João Avillez teve alguma vez de se preocupar. É coisa pró sopeiral. Mas para a próxima ponham a sua "fiel Sebastiana" a fazer a entrevista. Lá em casa é quem tem o departamento das listas e a sua própria patroa já por várias vezes atestou da sua competência.
PS. Por outras palavras: o que faz falta são entrevistas competentes ao primeiro-ministro. Por jornalistas de política competentes e até (ou mesmo acima de tudo) por jornalistas de economia competentes, que saibam do que falam (e não se esqueçam das listas em casa, já agora). Só não sei se o primeiro-ministro está para aí virado. Tenho dúvidas.