uma semana depois da descoberta do corpo de gis (ou gi, parece que os amigos lhe chamavam gi e os miúdos que a mataram também -- 'vamos dar lenha ao gi', disse-se que eles teriam dito naqueles dias em que se entretiveram naquela 'brincadeira que correu mal'), estranhei que o seu rosto nunca aparecesse nas notícias. nem nos jornais nem nas tvs.
cinco meses depois, houve jornais que publicaram fotos da gi. fotos de fotos tiradas durante a vigília que decorreu no porto, pouco tempo após a morte dela. e snap shots fornecidos pela família. gostava de as colocar aqui, agora. hei-de fazê-lo, amanhã.
mas lembrem-se, puxem pela cabeça: quando é que viram uma foto de gi na tv? quando é que, durante as peças feitas durante o julgamento, ou nas que, hoje, dia da leitura do acórdão, fizeram 'a história' do caso, viram a cara da morta? lembram-se de algum caso em que haja uma morte e um julgamento e fotos da pessoa que morreu e essas fotos não apareçam na tv? é que eu não me lembro.
como não tenho a mania das conspirações, até posso crer que tudo isto se passe, se não por acaso, por inépcia e preguiça. também posso crer que, passado este tempo todo, as tvs insistam em falar de gisberta no masculino -- 'o transexual', 'o sem abrigo', 'o toxicodependente', 'o brasileiro' -- porque não sabem nem fazem qualquer questão de saber do que estão a falar. porque isto de transexualidade é um assunto escuso, de gente esquisita que não conhecemos de lado nenhum (a não ser quando somos aquelas pessoas que passam mais devagar no conde redondo e páram para negociar preços, mas essas pessoas é que certamente fazem questão de não só não conhecer transexuais como de não saber o que é isso de transexualidade) e que não interessa a ninguém. e também acredito que seria muito chato ter uma foto da gi, da bela cara de mulher da gi, enquanto se ouve 'o transexual sem abrigo'.
acredito que quem nas tvs faz estas peças e que habitualmente não tem qualquer pejo em ler, linha por linha, o que os jornais publicaram, se tenha visto assaltado por um súbito ataque de brio e criatividade e resolvido não assumir os delírios 'politicamente correctos' dos outros jornalistas, como os do dn e do público, que acham que uma pessoa nascida com um conjunto de órgãos sexuais de um sexo pode sentir que tem um género não coincidente com essa aparelhagem e deve como tal ser reconhecida e respeitada, como aliás o é pelas legislações de alguns países, entre os quais a espanha e o reino unido -- tal como recomendado pelo tribunal europeu dos direitos do homem.
acredito nisso tudo. e acredito que há gente muito incompetente e estulta, e gente que padece de uma terrível e provavelmente incurável falta de imaginação e de capacidade de empatia. e gente que, perante um caso como este, consegue ainda elucubrar sobre 'jornalismo de causas', 'discursos dominantes do politicamente correcto', e 'o poder do lobby gay' e 'o aproveitamento' que o dito lobby teria querido fazer da morte de gi.
isto enquanto o discurso efectivamente dominante não se limitou a branquear um homicídio: elidiu a existência da sua vítima. é assim que começam -- e acabam -- os genocídios.
(a propósito, ler miguel vale de almeida, no tempos que correm, e o comunicado que está no site das panteras rosa / frente de luta contra a homofobia)
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