Glória Fácil...

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quinta-feira, setembro 14

foi o bairro alto meus amores

anda para aí uma grande conversa sobre o bairro alto, o que foi e o que é, no da literatura, no portugal dos pequeninos e em mais alguns sítios, como o corta-fitas, pelo joão villalobos.

concordo com os joões, gonçalves e villalobos, e com o eduardo pitta: as ruas estão com péssimo aspecto, cada vez mais riscadas por gente que acha que aquela poluição é graffiti e arte e expressão de liberdade e mais não sei o quê quando é só mesmo um nojo. concordo que as calçadas dão a ideia de não verem uma mangueira e uma escova há anos e que o conjunto geral não é atraente. mas, tendo começado a frequentar o bairro alto no início dos anos 80, não recordo um lugar muito mais asseado -- à excepção do estado das paredes.

quanto ao resto -- quem lá está e quem lá anda -- parece-me evidente que quem tem agora 40 ou mais anos (como é o meu caso) tenderá a justapôr a memória dos seus 'anos de ouro' ao cenário em que eles decorreram e soçobrar um bocadinho à melancolia.

achei muita graça a ler o joão gonçalves e a sua resposta a um crítico uma vintena de anos mais novo que vinha em defesa do 'seu' bairro alto. 'quando você for vivo', dizia o joão ao outro (que bem merece um puxão de orelhas por insinuações torpes) , e eu sorri. mas um dos problemas, se calhar, é que hoje, quando passamos no bairro alto a caminho do casa nostra ou do pap'açorda, nos sentimos um bocado menos vivos que a memória que temos de nós, há 20 anos, de cabelo em pé espetado com sabão e hot pants e meias de rede e saltos agulha rumo ao frágil (e ao casa nostra e ao pap'açorda e ao pile ou face e ao arroz doce).

diz o jovem crítico que 'hoje os olhares são diferentes', e, creio, diz também que a sedução é diferente. diz o joão gonçalves que as bebidas eram melhores e mais baratas (e, acrescento eu, as drogas piores, mais raras e mais caras)e se bebiam em copos de vidro. agora os copos são de plástico e os líquidos são caipirinhas em vez de vodka puro (ai o que o meu fígado sofreu)e os olhares parecem-me o que sempre me pareceram: iguais ou diferentes conforme quem os ostenta, como a sedução.

ok, nós fomos os primeiros, fizemos história (que por acaso está por contar). mas não ficou para nós nenhum tapete vermelho, e vénias, só as de cada um para si (muito saudáveis).

ah, e o livro, eduardo, é a idade da prata e não a geração de prata.

[adenda de sexta feira: afinal quem diz aquilo das bebidas é o joão villalobos -- ai, esta pobre cabeça, quase tão sacrificada como o fígado. as minhas repenicadas desculpas]
|| f., 20:33

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