Glória Fácil...

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quarta-feira, outubro 4

ganda artista

estive agora a ver a repetição do estado da arte, com o paulo portas no seu iglo (sempre com a roupinha a condizer com o cenário -- ainda não perdi a esperança de o ver de esquimó) a perorar sobre o aborto. mais um que certifica que a manchete do espesso é mentira (irrisória, diz ele, numa escolha de palavras algo bizarra), que não fez pacto nenhum com marcelo e -- tãnãnã! -- que esta matéria não se presta a pactos porque é da consciência de cada um.

por esta ordem de ideias, a matéria não se presta mesmo é a leis: era cada um/a com a sua consciência e prontoS. mas o mais fascinante é a insistência do homem de princípios paulo portas em falsear, como fez em 1998 e desde então (e antes disso para outras coisas, também) os termos da decisão que é solicitada aos portugueses. diz ele que é contra 'a liberalização total do aborto' mas é contra ver as mulheres julgadas por isso. já conhecemos esta estranha dicotomia, mais conhecida por 'estou-me nas tintas para o que acontece às mulheres, podem esvair-se em sangue no quarto dos fundos depois de uma carrada de citotec, podem ir a espanha pagar 450 euros, podem ir ali à dona felismina pagar 500 euros para serem aspiradas, mas que não me apareçam na tv aquelas gajas todas desmazeladas, que como a minha não amiga maria josé nogueira pinto diz 'não servem para nada' , aos gritos à frente dos tribunais por mais um julgamento de aborto, isso é que não, que sejam investigadas e examinadas e perseguidas e interrogadas e aterrorizadas e envergonhadas mas tudo lá nos corredores da judite, sem holofotes nem peixeiradas', de modo que o interessante mesmo é a tal de 'liberalização total do aborto'.

liberalização total, tipo, aborta quem quiser, quando quiser, à vontade da freguesa. e vai o senhor de princípios e muita consciência paulo portas dizendo que a lei que temos é 'muito razoável'. a sério, isto tira-me do sério (ainda consegue, o artista). DE UMA VEZ POR TODAS (sim, bem sei que vou ter de repetir isto mais pelo menos 50 milhões de vezes nos próximos meses), O ABORTO, MESMO QUE O REFERENDO RESULTE NUMA VITÓRIA DO SIM, VAI CONTINUAR A SER MAIORITARIAMENTE CRIME. AQUILO QUE ESTÁ EM CAUSA É APENAS JUNTAR MAIS UMA EXCEPÇÃO ÀS JÁ EXISTENTES, OU SEJA, MAIS UMA CIRCUNSTÂNCIA EM QUE O ABORTO NÃO É CRIME, DESTA VEZ, O FACTO DE SER EFECTUADO ATÉ ÀS 10 SEMANAS DE GRAVIDEZ POR VONTADE DA MULHER, SEM NECESSIDADE DE ATESTADOS MÉDICOS. O RESTO FICA COMO ESTÁ. É PRECISO TER MUITA CARA DE PAU PARA DIZER ISTO SIGNIFICA 'UMA LIBERALIZAÇÃO TOTAL DO ABORTO', NÃO?

ai, até tou rouca, e isto ainda nem começou a sério.
|| f., 13:37

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