a conversa sobre a malfadada entrevista ao pedro arroja de há 12 anos da grande reportagem que republiquei aqui no glória continua. no blasfémias, pois claro, mas noutros lugares. No último post do cinco dias (http://5dias.net/)sobre o assunto,
antónio figueira frisa algo que me parece e sempre pareceu óbvio: não é possível, sobre certos temas (eu diria quase todos) separar juízos 'de facto' de 'juízos de valor'. vem isto, mais uma vez, a propósito daquilo que arroja diz na entrevista sobre a escravatura negra nos estados unidos e sobre o facto de invocar estudos de um prémio nobel da economia (robert fogel, se não erro) que provariam que os negros escravos das plantações do sul viviam 'melhor' (economicamente falando, diz ele) que os trabalhadores brancos assalariados do norte seus contemporâneos.
não vou aqui analisar o que disse ou não disse arroja, se as suas palavras são ou não uma contemporização com a ideia de escravatura, se ele revelou ou não ser racista. acho que a entrevista é suficientemente reveladora (e aos que, aqui e ali, insistem na sua parcialidade em relação a um 'todo' que teria sido escamoteado volto a perguntar por que motivo, se assim fosse, o entrevistado não teria balbuciado um protesto, exigido uma recttificação ou colocado um processo). o que me parece interessante, e que tem sido pouco frisado -- e não o foi por mim, à época, durante a entrevista -- é que ao 'provar' o que alegadamente provou, fogel estava a fazer uma crítica ao sistema capitalista selvagem que vigorava nos eua em relação aos trabalhadores assalariados à época da escravatura. o mercado 'livre' era pior que o pior dos sistemas totalitários, é o que conclui -- se é possível concluir alguma coisa dali.
mas já que os cálculos de facto são tão fascinantes e não pressupõem juízos de valor, desafio a malta que se apregoa deste tipo de liberalismo a fazer contas, por exemplo, à vida dos escravos da prostituição infantil das filipinas. pode ser que comam melhor e andem mais lavadinhos quando vivem em bordéis.