Parece que está na moda os políticos derrotados escreverem autobiografias dessas derrotas. É uma moda boa. Permite a quem esteja interessado - e dando os devidos descontos - perceber um pouco melhor o processo político quotidiano.
Primeiro foi Carrilho e agora é Santana (e Mário Soares, para quando?). Entre os dois livros há porém enormes diferenças: Santana reconhece que cometeu erros políticos substantivos (por exemplo: ter herdado o poder de Durão sem eleições); Carrilho admitiu, no máximo, ter partido para a campanha autárquica demasiado cedo,
E depois há a diferença de estilos: Santana respondeu politicamente a decisões políticas de que foi alvo por parte de Jorge Sampaio. A tese do "golpe constitucional" é legítima, até de um ponto de vista jurídico, porque, como aliás o próprio Sampaio sabe melhor do que ninguém, nenhum Presidente pode provocar eleições antecipadas só porque o Governo é incompetente (e foi isso que aconteceu).
Já Carrilho jogou rasteiro. Inventou processos de intenção, psicanálise de pacotilha e cabalas orquestradas a quatro mãos entre jornalistas e agências de comunicação. Evitou, em suma, todo e qualquer tipo de argumento político. E fê-lo por uma única razão: o principal argumento político que explica a clamorosa derrota do PS em Lisboa é - como todo o partido sabe - a enorme incompetência do candidato.
A comparação dos dois livros revela uma evidência: Um (Santana) levantou-se; outro (Carrilho) continua rente ao chão.