Glória Fácil...

o folhetim do padre júlio (é júlio, não é?), sequestrado na capela de pinheiro da cruz por dois reclusos, contado pelas televisões, é um prodígio. o capelão para aqui, o capelão para ali -- numa das peças dizia-se até que ele vive nos terrenos da prisão --, a missa de domingo para aqui e para ali, e a nenhuma daquelas reportadoras alminhas ocorreu explicar o que é um capelão e o que faz e para que serve.

já não esperava, claro, que ocorresse a alguém acrescentar que as capelanias são um resquício da confusão entre estado e igreja que a concordata assinada em 1940 por salazar e revogada em 2004 por durão barroso impunha, e que a sua existência nas prisões, nos hospitais e nas forças armadas e de segurança, em regime de exclusividade católica, é contraditória quer com a constituição de 1976 quer com a lei de liberdade religiosa de 2001. que são centenas os capelães católicos na folha de pagamento do estado -- ver http://dn.sapo.pt/2005/10/05/tema/padres_monopolio_assistencia_religio.html e http://dn.sapo.pt/2005/10/02/sociedade/ministerios_reveem_regimes_assistenc.html --, portanto funcionários públicos com o proselitismo religioso como única função (e, no caso das forças armadas, com patentes que chegam à de major-general no caso do bispo januário torgal ferreira), e que este governo anunciou estar a 'estudar o assunto' em 2005 (de forma a 'compatibilizar a assistência religiosa nas estruturas de segregação com a lei de liberdade religiosa', ou seja, de modo a colocar em igualdade as diferentes religiões/confissões), sem que desse estudo tivesse resultado, até agora, uma ideia, quanto mais uma decisão.

enfim, bem sei: esta gaja é mesmo impossível, coitado do homem ali sequestrado, sabe-se lá se em perigo de vida, e ela obcecada com a laicidade do estado e quê.

para mais irritações, perplexidades ou outra coisa qualquer (do género informarem-se melhor) podem ir aqui: http://dn.sapo.pt/2005/10/05/tema/estado_laico_pouco.html