uma vez perguntei a um cego como se apaixona quem não vê.
há na paixão dos que vêem um predomínio do olhar: é na inflexão de um gesto, no desenho de um sorriso, no movimento de um corpo que se intuem empatias e se formulam desejos. é no investimento de olhares que se tece o primeiro discurso amoroso.
como desejar então o que não se vê? é a voz? o perfume que conscientemente se sente e o que não se consciencializa, o tal cocktail de feromonas que, dizem, nos acende a atenção? é o que se diz e como se diz? é, antes ainda do toque, o quê?
se é possível uma paixão que não vê -- e talvez a paixão nunca veja de mesmo ver, como se suspeita --, podem os que vêem apaixonar-se por quem nunca viram?
das trocas de olhares às de epístolas dos romances do século xviii aos dias da internet, dos blogues, dos messengers, do email e dos chats o tecido das paixões mantém a mesma opacidade, o mesmo carácter obtuso. impossível saber o que no outro operou o sortilégio -- foi o olhar ou a palavra? a voz ou a maneira como puxa o fumo do cigarro? a escrita ou a fotografia de férias enviada no meio das folhas manuscritas a esferográfica azul ou como attachment de um mail que diz 'nunca passa disto'?
não se sabe, nunca se saberá. só que, de súbito, se sabe outra coisa: que mudou tudo, que o mundo passou a ser um lugar outra vez habitado pelo fulgor. que há outra vez alguém que nos salva pela vontade que descobrimos de salvar. outra vez.
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