tomás vasques (http://hojehaconquilhas.blogspot.com/2007/01/abortemos-ento.html) queixa-se de ter sido interpelado por vários mails e até vilipendiado por ter atacado algo que escrevi no dn (o coração do problema, texto publicado no contra os canhões de há duas sextas-feiras salvo erro, link amanhã que agora não me apetece).
antes de mais, quero dizer que me encanta haver quem ande a vilipendiar outrem on my behalf -- poupam-me o trabalho, eheh. (se calhar aqui tenho de explicar com todas as letras que estou a brincar, a brincar, ok, gajada do não sem sentido de humor nem argúcia que se vos encontre -- à excepção de dois ou três que ainda hei-de aqui elencar quando tiver vagar --, e sabem porquê? porque eu quando quero vilipendiar vilipendio e vilipendio com muito gosto). a seguir, quero dizer que não percebi o que é que o tomás vasques achou assim tão insensato, e gostava, a sério, que ele explicasse, pedindo desde já daqui os meus fiéis vilipendiadores, os que fielmente me vilipendiam e os que fielmente por mim vilipendiam, que estejam atentos mas calmos, que a vida não é só vilipendiar, também há o diálogo e o respeitinho que é tão lindo.
depois, queria dizer ao tomás vasques que a questão da aplicação da lei actual, a sua semelhança com a lei espanhola e aquilo que as duas permitem ou não no que respeita ao fundamento médico do aborto com base no perigo para a saúde psíquica da mulher é assunto que já foi escalpelizado por quem de direito, mais propriamente o colégio da especialidade de psiquiatria da ordem dos médicos, na resposta escrita a uma entrevista efectuada por esta sua criada em 2004.
amanhã colocarei no glória fácil a entrevista por inteiro. por coincidência, a shyznogud das womenage a trois (http://womenageatrois.blogspot.com/2007/01/ainda-psiquiatria-portuguesa-e-o.html) teve a mesma ideia e colocou já no blogue um excerto.
independentemente deste esclarecimento, quero repetir ao tomás o que escrevi umas horas antes (http://gloriafacil.blogspot.com/2007/01/reincidncia.html), a propósito de opiniões semelhantes: não entendo, muito francamente, que se considere preferível ver a gravidez como um perigo para a saúde psíquica da mulher que rejeita a gravidez, perigo esse a atestar por um médico, em vez de considerar que se esta rejeita a gravidez deve poder, num prazo de tempo razoável, terminá-la em condições de segurança e legalidade. nem entendo que se considere que o facto de a lei vigente ser mal aplicada ou cumprida com dificuldade e de forma incoerente -- isto não é uma opinião, é um facto e não se reporta só às motivações de ordem psíquica, mas a todas, incluindo as de malformação -- implica que uma lei que resulte da vitória do sim pode experimentar o mesmo tipo de dificuldade na aplicação.
caro tomás, parece óbvio que é precisamente o facto de a aplicação da lei depender da apreciação de médicos e não da vontade da mulher que dá origem às dificuldades que reconhece. não sendo a decisão dos médicos preponderante, é muito possível que essas dificuldades deixem de existir. ou acha que as razões da inoperância da lei são outras?
aguardo resposta na volta do correio (se possível, que este blogue anda morninho e a precisar de umas trocas de galhardetes)