O perfil de José Sócrates escrito pelo Ricardo Dias Felner (RDF), hoje, no
P2 do Público. Fazer hoje um perfil de Sócrates como aquele que o RDF fez é complicadíssimo porque, face a alguém com tanto poder, muito dificilmente se encontra alguém que possa falar dele simultâneamente com toda a profundidade e com toda a liberdade. Ou há pessoas que lhe devem favores, ou outras que dele dependem politicamente ou ainda os que têm com ele uma relação de ressentimento.
O texto gere com inteligência estes perigos. E isso acontece porque RDF não se eximiu de pôr no texto a sua própria visão do personagem, com quem evidentemente já se cruzou. No meio das opiniões dos amigos, dos inimigos e dos dependentes, acaba por ser a visão do jornalista a única que se aproxima minimamente de uma visão independente. RDF - contra uma certa maré actual, que quer reduzir o jornalismo à produção de actas - arriscou a subjectividade.
Há riscos? Claro que há riscos. Perante um texto assim aparece logo alguém que o classifica de "
hagiográfico". Se
José Pacheco Pereira (JPP) não fosse tão preguiçoso nas suas análises de imprensa, teria lido o texto até ao fim e saberia que o "
dissimulado" é um
tag que se insere tão bem como todos os outros no "
mecanismo de construção da personagem feita a partir dos depoimentos citados no artigo".
PS. Ainda no mesmo post, JPP pega na última frase de uma prosa que assinei hoje no DN para voltar a falar de pack journalism. Como facilmente se verificará, usa no seu argumentário coisas que não estão no texto (o prof. Marcelo, as gaffes ministeriais). Portanto: não comenta o que leu, comenta o que pensa que leu. Já não é preciso o osso para o cão salivar, basta a campaínha, mesmo que o osso não exista. Pack comentarism? Pois, como o próprio, se for honesto consigo mesmo, facilmente reconhecerá.