Glória Fácil...

...para Ana Sá Lopes (asl), Nuno Simas (ns) e João Pedro Henriques (JPH). Sobre tudo.[Correio para gfacil@gmail.com]

segunda-feira, fevereiro 26

simplexmente ctt

hoje fui a uma estação de correios para enviar uma encomenda para os eua.

quando entrei, procurei o dispensador de senhas. estava estrategicamente escondido de um dos lados da porta, invisível a quem quer que ignorasse a sua provável existência. retirei uma senha da categoria que me pareceu interessar-me -- a que dizia, simplesmente, 'até 3 operações'. mas depois reparei que estava, por cima das três categorias, afixado um papel a dizer 'operações financeiras'. achei então que só era precisa senha para esse tipo de operações e avancei para a fila.

como em vários expositores se encontravam envelopes almofadados de vários tamanhos, com o preço em letras minúsculas quase ao nível do chão, retirei o que me interessava sem me dar ao trabalho de ler o que estava escrito no sítio do preço e, enquanto esperava, fui escrevendo as direcções. a meio, percebi que afinal tinha mesmo de ir buscar uma senha. fui.

quando chegou a minha vez, tinha o envelope todo preenchido e as coisas para expedir lá dentro. achava eu que estava a adiantar trabalho e a poupar tempo. pois que não. quando chegou a altura de pagar, perguntei à funcionária que me atendia se no preço tinha incluído o porte para os eua (ou usa, já que era o que havia escrito no envelope). aí, ela abriu os olhos e disse: 'oh! pois é. mas este envelope é para o território nacional'. de facto, lá estava: 'nacional', em letras pequenas. do outro lado do expositor, envelopes ab-so-lu-ta-men-te idênticos na forma, material e cor, mas com um aviãozinho pequenino. em lado nenhum, qualquer aviso legível que permitisse a alguém que não seja ou funcionário dos ctt ou especialista em envelopes dos ctt perceber a diferença.

suspirando, preenchi o novo envelope, enquanto a senhora lamentava 'a despesa'. quando quis pagar -- a linda quantia de 20 euros e qualquer coisa -- perguntei se havia multibanco. que não, disse a senhora, cada vez mais pesarosa. que não?, perguntei eu de boca aberta. 'nunca houve multibanco nos ctt'. propus então pagar com cheque. 'só com bi', respondeu a senhora. 'ou passaporte ou carta de condução'. sem nenhuma dessas coisas à mão, propus a carteira de jornalista, que tem nome, foto e número do bi. 'não dá', disse a senhora sem sequer olhar para o documento. isso serve para si, não serve para nós'. perplexa, repeti: 'serve para mim mas não para vocês? isto é um documento de identificação profissional. serve para me identificar perante todas as autoridades. tem o número do meu bi'. podia ter acrescentado: 'e é, imagine, autenticada e passada por uma instituição pública -- a comissão da carteira profissional dos jornalistas'.

não acrescentei. mas a senhora, talvez avaliando correctamente o meu estado de prostração, lá acedeu e 'aceitou' a carteira como documento de identificação.

ainda pensei pedir o livro de reclamações -- não decerto para reclamar da funcionária, que foi simpática e atenciosa e até 'acedeu' a reconhecer como válido um documento que os seus superiores provavelmente vetaram para efeito de identificação. mas para fazer doutrina sobre a ideia de serviços públicos. de inteligibilidade e acessibilidade. mas, imaginem, desisti. devo estar a ficar velha.
|| f., 21:50

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