Glória Fácil...

...para Ana Sá Lopes (asl), Nuno Simas (ns) e João Pedro Henriques (JPH). Sobre tudo.[Correio para gfacil@gmail.com]

quarta-feira, junho 20

opiniães

uma das coisas que me maravilha é a facilidade com que as pessoas opinam sobre tudo, nomeadamente sobre coisas das quais nada sabem. parece que o pedro magalhães (aqui via womenage) também acha. e naturalmente, dado o particular ramo de negócio em que ganha a vida, agradece. eu, como jornalista, faço coro com ele -- que seria de mim sem aquelas pessoas que falam interminável e indignadamente sobre n'importe quoi?

aqui pela bloga, todos passamos a vida a ver exemplos verdadeiramente homéricos desta característica das gentes. já nos habituámos, embora às vezes a coisa ainda enerve um bocadinho.

a propósito, por exemplo, da entrada em vigor da nova lei do aborto, é assistir à forma como se fala de 'condições' dos hospitais para a pôr em prática e da objecção de consciência dos médicos, como se não existisse em portugal, em vigor, uma lei que permite o aborto em várias circunstâncias há 23 anos. agora até parece que é impossível fazer abortos sem recurso à pílula abortiva -- a ru486 --, e como só 14 hospitais a encomendaram, ai jesus que não há condições para aplicar a lei. quanto à objecção de consciência, parece que há muito boa gente que acha que só diz respeito à interrupção de gravidez até às 10 semanas por vontade da mulher, e nada tem a ver com as outras interrupções de gravidez. o cúmulo é usar-se a expressão 'interrupção voluntária da gravidez' como sinónimo de interrupção no quadro da nova lei, como se as interrupções de gravidez previstas pela lei anterior fossem 'involuntárias'.

enfim.

muito bom, e com um sabor de outro género, foi ouvir, na recta final do debate na sic-not dos candidatos à câmara de lisboa, fernando negrão defender 'a criação de mais parques de estacionamento na baixa' para 'atrair os jovens'. creio que foi o que lhe ocorreu dizer sobre a baixa -- pelo menos foi o que eu ouvi, já que só assisti ao fim do debate, e aos bocados. isto enquanto no outro dia, na tsf, afirmava que era preciso reforçar os lugares de estacionamento nos parques à entrada de lx, para dissuadir a entrada de carros na cidade. fabulous. claro que não ocorreu a fernando negrão inquirir sobre a taxa de ocupação dos parques da baixa ou até consultar o plano para a zona apresentado por maria josé nogueira pinto. se o tivesse feito, teria concluído que dois dos principais parques da baixa, o da figueira e do martim moniz, nunca estão cheios (segundo mne certificou a sua concessionária, a braga parques). em contrapartida, os passeios à volta estão, como muitas vezes a faixa de rodagem. e no plano citado está claramente dito que os lugares de superfície existentes na zona chegam -- e sobram largamente -- para os residentes actuais. mas fernando negrão, se bem percebi, nem sequer estava a falar de atrair residentes, mas da atracção de clientes para o comércio da baixa, já que insistia que 'os outros centros comerciais estão cheios porque têm estacionamento'.

fernando negrão, cá para mim, não deve passar muitas vezes na baixa, e se calhar nunca entrou no centro comercial dos armazéns do chiado, sempre cheio e sem um parque de estacionamento próprio -- mas com uma estação de metro ao lado. também não deve enfiar o nariz nas zaras da rua augusta ou na hm, senão concluíria que se dão muito bem.

eu, que vivo na baixa, e todos os dias atravesso a rua augusta, posso asseverar que há poucas zonas de lx com tanta gente. e mesmo ao fim de semana, com as lojas fechadas, a baixa está cheia de pessoas na rua. basta haver bom tempo.o mesmo se passa com imensos centros comerciais de cidades europeias, onde toda a gente vai de transportes públicos ou de táxi. é asim no mundo civilizado. as pessoas não vão de carro para todo o lado nem tal lhes passa pela cabeça.

devo aliás dizer que o pouco que ouvi do debate me fez concluir que ainda se reproduzem, sem vergonha, discursos assim, completamente cansados, desajustados e de plástico sobre a cidade, discursos de gente que não conhece nem vive lx, que passeia de carro pela cidade e que só lhe conhece os colombos e os vascos da gama e as amoreiras, para uma ida ao cinema, os parques de estacionamento de ministérios e de repartições e meia dúzia de restaurantes.

não quero ser injusta porque não ouvi quase nada, mas o pouco que ouvi deixou-me estupefacta. telmo correia a falar de programas contra a droga com exclusão das salas de chuto -- como quem acredita que ganha votos a acenar com esse 'fantasma' da direita ignara e caceteira -- e da 'segurança' e das câmaras de vigilância, como se a segurança dos lisboetas fosse apenas um problema de criminalidade clássica e dependesse de serem vigiados por vídeo e não estivesse muito mais ameaçada diariamente pelo descalabro que é o estado do edificado, o caos que é circular na cidade, pelos passeios esburacados e cheios de carros. negrão -- desculpem, não é perseguição, é que tive o azar de o apanhar sobretudo a ele --, inquirido sobre uma ideia para lx, sai-se com 'o problema do ambiente' e o 'controlo do ambiente', para depois explicar: 'quando digo ambiente, refiro-me ao ruído' (que, suponho, nada deve ter a ver com o ruído de carros, que ele quer trazer aos molhos para o centro da cidade), para acrescentar: e porque quero uma cidade com muitos jovens, proponho que toda a cidade tenha cobertura de net. suponho que ele disse, ou queria dizer, wireless. é óptimo, sim senhor, wireless na cidade toda. mas é isto, 'a ideia' de negrão para a cidade? ó valha-nos santo antónio.

não ouvi costa (a não ser a repetir 'sem-abrigos', really), roseta, sá fernandes nem carmona (que nem sequer vi lá -- estava?). de ruben de carvalho ouvi um bocado, a falar sobre a necessidade de impedir a entrada de carros em lx, que me pareceu bem. espero que a impressão seja falsa e que tenham sido trocadas ideias interessantíssimas e inovadoras. a sério: esta cidade não aguenta mais 2 anos de governo igual aos 10 (ou 20) anteriores.
|| f., 00:38

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