O que se passa com Augusto Santos Silva?Juro que não entendo. Em tempos conheci Augusto Santos Silva (ASS). Pareceu-me uma pessoa civilizada, inteligente, moderada, culta, muito acima da média (como aliás também Francisco Assis) do aparelhismo brutal do PS-Porto, onde milita. Até me parecia de esquerda.
Hoje não o conheço. Deve ser a pressão das responsabilidades - digo eu, com bonomia, para não dizer assumida ingenuidade. Veja-se, por exemplo, uma carta que hoje assinou no Público sobre uma notícia de 5 de Julho passado. Nessa notícia, o jornal dava conta de um debate onde Santos Silva participara com Balsemão e onde este
criticou violentamente a produção legislativa da maioria PS sobre comunicação social.
Na carta ao Público, ASS diz ser "
falso" ter dito, como o jornal escreveu, "
que a sua comunicação também poderia chamar-se 'as maldades de Santos Silva'". Ora afinal o que disse foi "
que o tema do debate poderia ter sido "a política do Governo, a decisão do Parlamento ou as maldades de Augusto Santos Silva"; mas não era, e sim "os media e a transição para o digital". Onde é que está o desmentido? Em lado nenhum.
Depois refere-se ao facto de o jornal ter escrito que ele, ASS, "
insinuou" que Balsemão fora mal-educado ao fazer um discurso contra o Governo quando o tema oficial do debate era "Os Media e a Transição para o Digital". ASS esclarece:
Acrescentei, também, isso sim, que "quando convido pessoas tento ser educado com elas e explicar-lhes ao que vêm" - isto é, se as convido para debater um tema, é sobre esse tema que o debate se faz.Pergunta-se outra vez: se não desmente, então para quê a carta ao Público? Dou a resposta: para condicionar futuras notícias sobre ele, ASS. É básico - mas é assim.
No fim, a tradicional cereja em cima do inevitável bolo. ASS denuncia a "
singular coincidência" do Público ter transmitido num dia a intervenção de Balsemão e só dia seguinte a dele próprio. E o jornal explica-se, assim como quem faz um desenho a uma criança: Balsemão fez chegar o seu discurso à redacção
antes de o pronunciar. O mesmo
não fez ASS, que só falou já passava das 23:00, quando a edição já estava fechada. Por isso só houve notícia do seu discurso dois dias depois.
Não sei o que se passa. Mas se calhar sou eu, e não o ministro, quem precisa de descanso. Talvez. Ou talvez não.