É óbvio que a RTP, mas também os outros órgãos de informação, têm o dever de pluralismo. O problema não está na máquina calculadora do PSD e no relatório da ERC. Está, e sobretudo, em quem exerce o poder – os partidos, os primeiros-ministros, os ministros, os secretários de Estado, os chefes de gabinete, os adjuntos, os assessores, os assessores de imprensa. E está em quem ocupa as direcções dos órgãos de informação.
O jornalista Ricardo Costa, então director da SIC-Notícias, disse o essencial sobre o assunto há uns meses, a propósito de um “caso” de pressões do Governo, dos assessores do primeiro-ministro: as pressões existem e a questão está em saber resistir a elas. Ignorá-las. Ponto. No fundo, saber dizer que “não”. Tão simples quanto isto. Sejam eles Governos do PS, do PSD, do CDS-PP, câmaras do do PS, do PSD, do CDS-PP, do PCP, do BE.
Este Governo de José Sócrates é exímio (e isto não é, de todo, um elogio!) na estratégia de informação – pelo que deixa “passar” para os jornais, rádios, televisões e pelo que não deixa "passar" – tem, aí, uma estratégia muito próxima à do PCP em momentos de crise interna e essa estratégia é responder sim, mas com silêncio ou com pouco ou nada para ser citável além de “o gabinete escusou-se a comentar”. Na prática, é uma estratégia que "tritura" a informação, que convença os jornalistas que é melhor não ir por aí porque "isso não é notícia"... [Ah e tal, diria o "boneco" do Araújo Pereira...]
Outra questão essencial está em saber como os jornalistas “desarmam” ou “desmontam” a estratégia governamental. E vão-no fazendo. As segundas-feiras parecem agora serem dias de santa inauguração, mas já vi e li umas quantas notícias sobre o assunto. Quantas primeiras pedras “lançou” e inaugurações fez Sócrates nas últimas semanas? Há dias uma TV fez essa contabilidade. E qual a palavra de ordem do Governo? “Convencer”. Tudo isto li ou jornal, ou ouvi em rádios e ou vi na TV.
Ainda uma outra questão é não deixar "cair" assuntos "chatos" para o Poder.
Post Scriptum 1: O ex-primeiro-ministro Cavaco Silva, hoje Presidente da República, tinha uma estratégia que era falar “por cima” dos media, “directamente” para o cidadão. Aparentemente com bons resultados [no final de dez anos de "cavaquismo", enleado em tiques autoritários e de autoridade, nem Nossa Senhora o salvava nas presidenciais] e segue-a agora em Belém - vide a estratégia com o “site” da Presidência e o reduzido número de “fontes de Belém” citadas nos jornais.