1. Há algo que os estrategas de Manuela Ferreira Leite parecem não perceber. E que é isto: os eleitores, quando votam, votam olhando essencialmente para a frente, para o futuro. Evidentemente, o passado conta. Mas o que conta mesmo é o futuro. Portanto, de pouco serve a MFL pensar que lhes basta o (alegado) prestígio que conquistou na governação (e que é altamente duvidoso, diga-se) para isso, por si só, ser suficiente na construção de uma solução alternativa de poder.
2. É pura treta aquela ideia de que não se ganham eleições, perdem-se eleições (e vence-se no vazio, por fracasso alheio). As legislativas de 2002 e as legislativas de 2005 foram disso exemplo. Em 2002 Durão Barroso, face à desistência do PS (Guterres demitiu-se), podia ter ganho por muitos. Mas não. Como foi incompetente, não soube capitalizar o estado calamitoso do PS e ganhou por escassos dois pontos percentuais. O resto da história desse Governo é a que se conhece. Já em 2005, o PS de Sócrates poderia ter sido burro e não conseguido explorar até ao tutano as fragilidades do PSD de Santana. Mas soube fazê-lo. E assim, em vez de ganhar pela margem mínima, como o PSD em 2002, ganhou pela margem máxima, com maioria absoluta. Moral da história: pode-se ganhar bem ou pode-se ganhar mal.
3. MFL aposta, aparentemente, na gestão do silêncio. Falará pouco. Convém dizer que nada há de mais cobarde na política do que a gestão do silêncio. Estar calado é fácil - basta estar calado. E é tão fácil como anti-democrático: não se expõem ideias, não se é sujeito a escrutínio, ninguém pode dizer se concorda ou discorda, porque ninguém sabe do que substantivamente discordar ou concordar. A gestão do silêncio parte do princípio de que o país não passa de uma manada de ignorantes que só vive de imagens e de "carisma". O país pode ser inculto; mas não é burro. Quem analisar os resultados eleitorais desde 75 percebe grandes lições de sabedoria.
4. O poder dos políticos é o poder da palavra. A dicotomia palavra "versus" acção não existe, é pura falácia.
A palavra é a acção. Um político fala e isso torna-se acção. Se um político quer fazer uma auto-estrada, não tem que pegar num bulldozer e ir desbravar terreno. Tem de decidir: "Faz-se." E, abaixo dele, a administração tratará de transformar a palavra em acção. O silêncio é o a inacção, a paralisia.