Glória Fácil...

...para Ana Sá Lopes (asl), Nuno Simas (ns) e João Pedro Henriques (JPH). Sobre tudo.[Correio para gfacil@gmail.com]

quarta-feira, janeiro 10

"O problema" (uma resposta)

A propósito de posts meus e do João Fernandes, Paulo Tunhas critica a nossa "espantosa" "má educação" e conclui: "Há algo de estranho com o Diário de Notícias. Esse é que é o problema." Algumas notas:

1. O João falará por ele, eu falo por mim.
2. Quem me conhece da blogosfera - e já cá ando para aí há uns três anos e meio - sabe bem que este meu estilo abrutalhado não é de hoje nem de ontem, é de sempre. Pergunte a quem quiser. Portanto, não tem a ver com o DN - onde só trabalho desde o final do Verão passado, antes estava no Público -, tem a ver exclusivamente comigo. Já quando lá trabalhava (e blogava) era assim. Pergunte a quem quiser.
3. A hipersensibilidade às "más educações" tem muito de hipócrita. Quer dizer: podemos chamar "monte de esterco" ou mesmo "pidezinho" ao Bush ou ao Fidel e ninguém se queixa da má educação. Já se o fizermos em relação a um vizinho blogosférico é um ai Jesus. E no entanto conhecemos tão bem (ou tão mal) tanto uns como outros. Convenhamos: não faz sentido.
4. Se calhar isto acontece porque achamos que a luso-blogosfera (e, no caso, a luso-blogosfera política) é, já, uma "comunidade" e não podemos ser muito brutos uns com os outros. Para mim não é. Ou melhor: se é, não a integro. A minha comunidade são as pessoas de quem gosto: a minha família, os meus amigos.
5. Sou jornalista mas não blogo (só) enquanto tal. Blogo enquanto jornalista, marido, pai, consumidor ávido de literatura sobre regimes totalitários, fanático de Louis Ferdinand Céline, crente no amor à primeira queca, fumador, automobilista, telespectador, tipo já (embora só muito ligeiramente) pançudo e careca, barbudo, cozinheiro de fim de semana, utilizador da Nokia e cliente da Optimus, nostálgico de Timor e mais uma data de coisas que agora não me lembro.
6. Defendi sempre que os jornalistas não deveriam utilizar os seus blogues pessoais para se defenderem das críticas de que são alvo pelos trabalhos jornalísticos que produzem (comentários, notícias, etc.). Cada coisa em seu lugar. Acontece que a generalidade da blogosfera, à falta de competências (e de coragem) para escrutinar quem efectivamente manda nas nossas vidas - o poder político -, decidiu transformar o jornalismo português em saco de areia: é fácil, é barato, dá audiências (e os políticos agradecem). Para isso - saco de areia - não me sinto vocacionado. E não sou nem mais nem menos do que qualquer outro blogueiro. Já deu para perceber: se não falo, alguém falará por mim.
7. Última nota: a blogosfera tem sobre os jornalistas que nela participam um (saudável) efeito de transparência. Quando me lêem no DN podem comparar com o que escrevo no blogue e perceber, por exemplo, qual é o meu alinhamento ideológico (centro-esquerda, digamos assim, para facilitar). E sabem quem me paga o ordenado (antes Belmiro de Azevedo, agora Joaquim Oliveira). Este efeito de transparência não parece no entanto aplicar-se à maior parte dos blogueiros não-jornalistas (ou não-políticos) que leio. Parece que o exercício da cidadania blogosférica pelas pessoas que antes dos blogues não tinham opinião publicada implica, inquestionável e automaticamente, um atestado de santidade civica. Raramente vi algum fazer uma declaração de interesses substantiva sobre as suas relações (económicas, nomeadamente) com aquilo que escrevem. . O escrutínio, aqui, só tem um sentido.
|| JPH, 11:19

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