Paulo Gorjão reparou que, numa entrevista qualquer, Gualter não-sei-quê disse que "
daqui a uns meses" o debate dos transgénicos poderá "
saltar para a sociedade civil ou não".
(O "
ou não" não é para aqui chamado).
Ele, Gorjão, o Gualter Ego, "
reteve" a "
confiança aparentemente despropositada" com que o tal Walter o disse. O nosso pidezito tem olho.
Ele "
retém", o que é coisa ao alcance de muito poucos. E depois é capaz de vislumbrar, através de um ecrã de tv, "
confianças aparentemente despropositadas". Só isto dava um programa inteiro (mas agora não temos tempo).
O nosso pidezito especula em directo e ao vivo: "
De duas, uma", garante ele. Ou o maluco do Gualter foi por um "
acto de bluff" ou "
então"
(isto tá-se a complicar)
"
foi pouco cuidadoso e não resistiu a antecipar que haverá novidades daqui a algum tempo".
Bela dúvida. Mas isso não interessa nada. O que interessa, para quem esteja interessado, é que tudo o que o Gualter disse fica, segundo o nosso pidezito oficial, registado "
para memória futura". Olá se fica! E portanto "
veremos, daqui a uns meses", ui, ui, olá se veremos!
Eu, confesso, não entendo. Um tipo assim, que "
retém", que vê através de um ecrã "
confianças aparentemente desprositadas", que regista "
bluffs" e/ou afirmações "
pouco cuidadosas", e que até constata publicamente, "
para memória futura", as "
novidades" anunciadas por um activista numa televisão,
sim,
um tipo assim,
pergunto eu,
COMO É QUE NÃO TÁ NA
VOSSA FOLHA DE PAGAMENTOS?
Morreu hoje de manhã, aos 63 anos, em casa, vítima de ataque cardíaco. Os nossos caminhos só se cruzaram uma vez, por mail, por causa do que ele escreveu a propósito de um vómito em forma de livro assinado por Manuel Maria Carrilho
. Não gostei da troca epistolar - mas compreendo os malabarismos da amizade. Sendo um dos intelectuais mais politicamente influentes das últimas décadas, foi também, claro, dos mais atacados. "Bolinha semiótica" foi o mínimo que lhe chamaram -
e muita gente o fez. Amanhã, face ao delírio hagiográfico de vários cronistas perante a notícia da sua morte, a sua crónica seria certamente a mais deliciosa de se ler.
Hoje gosto de José Pacheco Pereira.
Em tempos, há muitas, muitas décadas, cobri para o DN uma Presidência Aberta de Soares exclusivamente dedicada ao Ambiente. 18-dias-18 pelo país "offroad" conhecendo os mais diversos problemas ecológico. De Norte a Sul, num programa maluco à Soares com 300 paragens por dia em todas as estações e apeadeiros e, inclusivamente, um saltinho de três dias aos Açores. Desses dias recordo as queixas angustiadas de criadores de ovelhas e de cabras da zona do Tejo internacional (Beira Interior) com os ecologistas fundamentalistas que insistiam em proteger imenso as raposas e lobos da zona - que por sua vez se alimentavam do ganha pão dos tais criadores (e respectivos pastores). A comitiva estava toda - a começar pelos jornalistas - imbuída dos melhores sentimentos ecológicos e nesse momento percebemos, muitos de nós, que nem tanto ao mar nem tanto à terra. Quando sei que uma
cambada de imbecis destruiram hoje uma plantação de milho transgénico em Silves, a minha tendência imediata é para pensamentos suaves. Do género:
- Puta qu'os pariu!
E espero bem que aqueles meninos e meninas sejam todos devidamente identificados e devidamente julgados e devidamente punidos, de forma exemplar e tudo, o que até poderia passar por pô-los lá naquela propriedade a replantar tudo o que destruiram, de sol a sol, de preferência vigiados de muito perto guardas prisionais discretamente armados de "shot guns". O ecoterrorismo chegou a Portugal e é melhor que o mundo saiba que cá não irá longe.
No Causa Nossa, Vital Moreira
confunde concordância com lealdade: quem discorda não pode ser leal. Há sítios de uma pessoa nunca sai. Questões de feitio.
Numa entrevista, Zita Seabra acusa o PCP: "
Roubaram-me a juventude." E assim ficamos todos a saber que Zita não entrou no PCP de livre vontade, foi antes o PCP que a sequestrou. Ela nem pensava pela sua própria cabeça. Pobre Zita.
Quando conheço um blogger, faço sempre um exercício idiota: ele é o seu blog? Ou seja: ele tem cara disso? É um exercício tão inútil e irreprimível como o de procurar a personagem no autor. Mas não se resiste: tu és exactamente aquilo que escreves? Ninguém é, mas não interessa. A averiguação é que é, em si, o divertimento. O
Quim, por exemplo, é um
Respirar sem melancolia.
ASL
Estou no
MIL (Movimento de Informação é Liberdade) desde o primeiro segundo. Orgulho-me de ter estado entre os que convocaram a
reunião fundadora. E portanto foi hoje com muita alegria que soube do
veto político do Presidente da República ao novo Estatuto do Jornalista. O objectivo número um do MIL era impedir a promulgação do diploma. E isso foi conseguido. Factos são factos.
Pelo meio deu para perceber a desorientação governamental. E até o desespero, bem audível nas palavras do primeiro-ministro na entrevista à SIC, quando considerou um "
insulto" os termos do
Alerta ao País lançado pelo MIL.
É evidente que o engº Sócrates - além de precisar urgentemente que lhe ofereçam um dicionário -, lida mal com as opiniões que o contradizem. E lida pior ainda quando essas opiniões se organizam e desencadeiam um movimento como o MIL - forte em quantidade e em qualidade.
Uma nota também para o ministro Augusto Santos Silva. Hoje, ao reagir ao veto presidencial, deu mostrar de já estar completamente desligado da realidade. Ao dizer que o veto não toca no essencial do novo Estatuto o ministro atingiu o puro delírio. Se o segredo profissional e o novo regime sancionatório não são o essencial do novo Estatuto então nada é o essencial.
Hoje foi um dia feliz. Para quem está no MIL desde o primeiro momento, só há uma certeza: está para vir o mais difícil. Para o professor Vital Moreira umas excelentes férias.
O Presidente
vetou o novo Estatuto dos Jornalistas.