...para Ana Sá Lopes (asl), Nuno Simas (ns) e João Pedro Henriques (JPH). Sobre tudo.[Correio para gfacil@gmail.com]
quarta-feira, fevereiro 28
realmente, não se admite
a
dra isilda pegado, da federação portuguesa 'pela vida', está muito enervada com o facto de o quadro legal proposto pelo ps para a despenalização do aborto até às dez semanas por opção da mulher em estabelecimento legalmente autorizado instituir que o aborto seja permitido até às 10 semanas por opção da mulher em estabelecimento legalmente autorizado. mais: a dra isilda pegado considera que quem defendeu, na campanha para o referendo, a despenalização do aborto até às dez semanas por opção da mulher em estabelecimento legalmente autorizado, não pode estar agora a querer possibilitar a realização legal de abortos às dez semanas por opção da mulher em estabelecimento legalmente autorizado.
andaram a mentir aos portugueses, conclui a dra isilda pegado, pesarosa e incrédula. coitada da dra isilda. logo ela, que andou aos quatro ventos, mais o resto da malta do NÃO, a bradar toda a campanha que o que estava em causa no referendo era 'o aborto porque a mulher lhe apetece', enquanto, no seu íntimo, estava convencida que o que se propunha era pôr as mulheres a explicar-se perante uma comissão inteirinha de 'especialistas', a pedir licença e a serem activamente dissuadidas. logo ela, que com o resto da malta do NÃO, manifestou sempre a sua preocupação com a exiguidade do prazo de dez semanas, asseverando que 'nenhuma das mulheres julgadas por aborto abortara até às dez semanas' (por acaso uma pequeníssima e irrelevante falsidadezinha, mas também, campanha é campanha, não é? -- e mentir só mentem os outros, os maus, os da 'cultura da morte') e que 'a maioria das mulheres só descobre que está grávida depois das 8 semanas', queria agora um prazo de reflexão maior que os 3 dias propostos.
não desista, não, dra isilda. continue a lutar pelo BEM e pela VIDA, os tais das maiúsculas, com todas, mas mesmo todas, as armas ao seu alcance, incluindo a VERDADE. que, como se sabe, é coisa tão distinta da verdade como o BEM do bem e a VIDA da vida.
|| f., 18:28
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terça-feira, fevereiro 27
Gostar de artistas
texto do tiago mendes (many many thanks)
'Aviso já que não este post não tem nada a ver com apoios do estado a A ou B.
Art is the most intense mode of Individualism that the world has known. Oscar Wilde Ser-se liberal sem uma dose de individualismo é, senão contraditório, um pouco frouxo. Quem aprecia o individualismo nos outros só pode ter uma queda magnífica por artistas: bailarinos, cantores, músicos, actores, poetas, escritores - provavelmente, por esta ordem exacta. George Balanchine, Kiri te Kanawa, Carlos Paredes, Jack Nicholson, Camões, Pessoa.
O que é estranho em alguns liberais é a forma como encaram a criação artística, quer dizer: a expressão artística partilhada. (Um poema do Mexia guardado na sua casa-prisão não existe). Claro que o público não é o privado, mas avisei que não estava a falar de subsídios. Estou a falar de algo que vem antes disso - o pré, como diria o meu camarada Henrique Raposo. Claro que na Arte, ao contrário da Política, seria obsceno considerar este pré como uma reflexão sobre as instituições. Se a Política é a tentativa de encontrar um framework que permita a convivência pacífica entre indivíduos, a Arte é o que resulta de cada indivíduo Se espremer (assim mesmo) todinho, até não poder mais.
O resto, concluam vocês.'
|| f., 15:40
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segunda-feira, fevereiro 26
simplexmente ctt
hoje fui a uma estação de correios para enviar uma encomenda para os eua.
quando entrei, procurei o dispensador de senhas. estava estrategicamente escondido de um dos lados da porta, invisível a quem quer que ignorasse a sua provável existência. retirei uma senha da categoria que me pareceu interessar-me -- a que dizia, simplesmente, 'até 3 operações'. mas depois reparei que estava, por cima das três categorias, afixado um papel a dizer 'operações financeiras'. achei então que só era precisa senha para esse tipo de operações e avancei para a fila.
como em vários expositores se encontravam envelopes almofadados de vários tamanhos, com o preço em letras minúsculas quase ao nível do chão, retirei o que me interessava sem me dar ao trabalho de ler o que estava escrito no sítio do preço e, enquanto esperava, fui escrevendo as direcções. a meio, percebi que afinal tinha mesmo de ir buscar uma senha. fui.
quando chegou a minha vez, tinha o envelope todo preenchido e as coisas para expedir lá dentro. achava eu que estava a adiantar trabalho e a poupar tempo. pois que não. quando chegou a altura de pagar, perguntei à funcionária que me atendia se no preço tinha incluído o porte para os eua (ou usa, já que era o que havia escrito no envelope). aí, ela abriu os olhos e disse: 'oh! pois é. mas este envelope é para o território nacional'. de facto, lá estava: 'nacional', em letras pequenas. do outro lado do expositor, envelopes ab-so-lu-ta-men-te idênticos na forma, material e cor, mas com um aviãozinho pequenino. em lado nenhum, qualquer aviso legível que permitisse a alguém que não seja ou funcionário dos ctt ou especialista em envelopes dos ctt perceber a diferença.
suspirando, preenchi o novo envelope, enquanto a senhora lamentava 'a despesa'. quando quis pagar -- a linda quantia de 20 euros e qualquer coisa -- perguntei se havia multibanco. que não, disse a senhora, cada vez mais pesarosa. que não?, perguntei eu de boca aberta. 'nunca houve multibanco nos ctt'. propus então pagar com cheque. 'só com bi', respondeu a senhora. 'ou passaporte ou carta de condução'. sem nenhuma dessas coisas à mão, propus a carteira de jornalista, que tem nome, foto e número do bi. 'não dá', disse a senhora sem sequer olhar para o documento. isso serve para si, não serve para nós'. perplexa, repeti: 'serve para mim mas não para vocês? isto é um documento de identificação profissional. serve para me identificar perante todas as autoridades. tem o número do meu bi'. podia ter acrescentado: 'e é, imagine, autenticada e passada por uma instituição pública -- a comissão da carteira profissional dos jornalistas'.
não acrescentei. mas a senhora, talvez avaliando correctamente o meu estado de prostração, lá acedeu e 'aceitou' a carteira como documento de identificação.
ainda pensei pedir o livro de reclamações -- não decerto para reclamar da funcionária, que foi simpática e atenciosa e até 'acedeu' a reconhecer como válido um documento que os seus superiores provavelmente vetaram para efeito de identificação. mas para fazer doutrina sobre a ideia de serviços públicos. de inteligibilidade e acessibilidade. mas, imaginem, desisti. devo estar a ficar velha.
|| f., 21:50
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Jornalismo de Estado
Às 15h26 de hoje, a Agência Lusa colocou em linha o seguinte telex:
Justiça: Isabel dos Santos uma boa parceira angolana para investidores lusos
Luanda, 26 Fev (Lusa) - Isabel dos Santos tem sido uma importante parceira no mercado angolano para os investidores portugueses, entre os quais alguns dos principais grupos nacionais, como a PT e Amorim.
É o caso da principal empresa de telemóveis do país, UNITEL, na qual a PT e o grupo empresarial GENI, onde Isabel dos Santos tem participação, detêm, cada, 25 por cento do capital.
O grupo Amorim tem sido, nos últimos dois anos, um outro parceiro privilegiado da filha de José Eduardo dos Santos.
Em termos financeiros, criaram o Banco Internacional de Crédito (BIC), actualmente o quarto maior do país, mas aquele que mais tem crescido, detendo cada um 25 por cento do seu capital.
O BIC iniciou a sua actividade há pouco mais de 20 meses e tem já resultados acumulados de 38 milhões de dólares (29,2 milhões de euros) e prepara-se para investir 35 (26,9 milhões de euros) a 40 milhões de dólares (30,7 milhões de euros) para construir um edifício de 25 andares na baixa de Luanda, onde irá albergar os seus serviços centrais, bem como as empresas do grupo.
Ambos tornaram-se nos novos sócios da Nova Cimangola, desde a saída da Cimpor do mercado angolano.
De acordo com o semanário Expresso, não foi muito clara a retirada da cimenteira portuguesa que detinha pouco mais de 40 por cento na Cimangola e várias vezes mostrara vontade em aumentar a participação, ao que as autoridades angolanas sempre se opuseram.
Depois, o governo de Angola resolveu comprar os 40 por cento da Cimpor por 74 milhões de dólares (56,2 milhões de euros) com um empréstimo do BIC, de Isabel dos Santos e Américo Amorim, entregando posteriormente essa participação … Ciminvest, que a imprensa independente angolana atribui à filha mais velha do chefe de Estado angolano e ao grupo Amorim.
O semanário Expresso revelou recentemente que Américo Amorim e Isabel dos Santos também são sócios da Galp.
Quem também tem negócios com Isabel dos Santos é o Banco Espírito Santo Angola (BESA) que em 2006 tinha dez por cento do mercado bancário angolano.
A estrutura accionista do BESA é liderada pelo Grupo Espírito Santo, que possui 79,96 por cento do capital, tendo como principal parceiro o grupo empresarial GENI, com 20 por cento do capital do banco.
Outra empresa portuguesa que mantém uma relação estreita com Isabel dos Santos é a Iduna, especializada em mobiliário de escritório, que em Abril/Maio deste ano irá inaugurar uma unidade de produção em Luanda, num investimento de 2,5 milhões de dólares (1,9 milhões de euros).
Na edição de hoje, o Diário de Notícias revela que procuradores do Ministério Público que estão a conduzir a "Operação Furacão" recolheram no início do mês, numa busca ao escritório do advogado de Isabel dos Santos em Lisboa, documentação relativa à constituição de uma sociedade com sede numa "offshore" ligada à filha do presidente angolano.
Em declarações à Agência Lusa, o advogado, Frutuoso de Melo, garantiu que, na compra da casa, foram cumpridos todos os requisitos legais.
Licenciada em engenharia informática em Londres, Isabel dos Santos iniciou-se no mundo dos negócios há dez anos com a concessão em monopólio da limpeza e saneamento de Luanda com um contrato de dez milhões de dólares (7,6 milhões de euros) por ano.
Além dos petróleos, a filha de José Eduardo dos Santos também tem interesses no outro grande recurso natural de Angola, os diamantes.
Na actualidade, e de acordo com o Semanário Angolense, Isabel dos Santos também é sócia da Sagripek, uma empresa agro-industrial.
AR/FR.
|| JPH, 18:05
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domingo, fevereiro 25
Correia de Campos forever!
Decidi juntar hoje mais um ministro à minha
lista-de-ministros-com-a-recomendação-a-José-Sócrates-para-ficarem-em-funções-até-pelo-menos-2011-para-nos-darem-muitas-notícias-e-tal!
Depois de Manuel Pinho, o ministro da Saúde, homem de verbo bojudo, pesado, deve ficar mais uns tempos largos para nos garantir notícias frescas.
Disse Correia de Campos hoje no Montijo, em resposta a Marques Mendes, que sábado comentava que o ministro da Saúde estava a prazo, de saída:
"Embora ele me deseje que eu saia rapidamente, eu desejo que ele fique muito tempo como líder do PSD" e se torne num "líder eterno", ironizou Correia de Campos.
"Marques Mendes, ora critica o Governo e o ministro da Saúde porque não se abre ao diálogo, ora vem uma semana depois dizer que dialoga tanto que até cede", afirmou.
(retirado da Lusa)Se a visita de “urgência” ao Montijo já era uma tentativa canhestra de “curar” uns problemas políticos em que se enrolou com umas reestruturações de urgências que vão retirar serviços a doentes/utentes e, é mais que certo, só pode dar azias, má disposição e protestos na rua, é de duvidoso efeito um ministro dar a resposta política, em tom muito partidário, ao líder da oposição.
Mendes deve estar a rebolar-se de gozo…
Enfim, este é o ministro que queria levar uma moção sectorial sobre saúde ao último congresso do PS e que se candidatava uma séria saraivada de críticas dos delegados socialistas
Mas Marques Mendes também não tem grandes motivos para estar muito feliz (além do conforto de Correia de Campos). Foi manhã cedo visitar Esmoriz e a TSF ouviu (e gravou) as “bocas” do povo que não gosta que “os políticos” só digam que se preocupam quando há desgraças…
Hoje até podiam ter ficado em casa.
Até está a chover!!!!
|| portugalclassificado, 16:20
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sábado, fevereiro 24
pontos de referência
é uma folha de caderno, pautada, um pouco amarrotada, escrita a lápis. um quadro, as linhas num desenho tosco.
do lado esquerdo, nomes femininos. 'mariana t.', 'carolina s.', 'ana r.'. dez nomes de mulher. em cima, classificações: 'interior'; 'exterior'; 'ponto de referência' e 'total'. nas colunas respeitantes ao 'interior', 'exterior' e 'total', números numa escala que parece ser de 0 a 20. na coluna dos pontos de referência, palavras. a mais comum é 'cu'. também há 'corpo', 'corpo e cara' (só num caso) e 'pernas'.
a folha foi apanhada ao filho de 12 anos por um dos meus amigos. o miúdo ficou todo encavacado, o pai deliciado. eu um pouco perplexa. e perplexa pela minha perplexidade, depois de algumas décadas de existência. e também, talvez, por nos pontos de referência não constar 'mamas'.
|| f., 14:23
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querida gi
Pronto. Passou um ano. Já não me lembro bem das primeiras notícias. Confusas. Havia um homem num poço num prédio abandonado. Um travesti. Um sem abrigo. Um toxicodependente. Um brasileiro. Eras um homem, primeiro, com nome de homem: Gisberto Salce Júnior, 46 anos, sinais de espancamento, um bando de miúdos de instituições do Porto como suspeitos, tinha sido um deles a contar a uma professora uma parte da história, o onde e quem e o quê que levou a polícia e os bombeiros ao corpo seminu a boiar no fosso de dez metros.
Depois eras prostituta e ex "rainha da noite transgender", tinhas HIV e hepatite C, foras afinal uma mulher bonita, um sorriso rasgado nos vestidos de star e na cabeleira longa, loira, ruiva, morena. Vieram as fotografias, devagar, só nas revistas e nos jornais, poucas, muito poucas. Nunca na TV. Lia-se um jornal e eras homem, lia-se o mesmo jornal e eras mulher. Gisberto, Gisberta. Ouvia-se um responsável de uma das instituições onde viviam os rapazes que te espancaram e eras "não propriamente um exemplo". Talvez mesmo um agressor, talvez mesmo um perigo, se não real pelo menos representado, de "pedofilia", contra o qual os miúdos -- sabíamos agora que adolescentes entre os 11 e os 16 -- "tinham decidido fazer justiça pelas próprias mãos".
Veio a autópsia e a descrição das queimaduras, dos indícios de violação anal com pedaços de madeira, do teu estado de sida terminal (tinhas fugido de um centro de tratamento onde a Abraço te tinha internado), do facto de teres morrido afogada e "não em consequência das agressões" que te foram inflingidas.
Trato-te no feminino, Gisberta, porque foi mulher que escolheste ser e foi, parece que terá ficado mais ou menos provado no julgamento à porta fechada dos miúdos, por teres querido ser mulher tendo nascido homem, por seres "um homem com mamas", que foste objecto da curiosidade e depois da violência do bando. E trato-te por querida, Gi, porque me apetece. Desde o início, quando te imaginei só e derrubada, dias e noites de dor e medo e incredulidade à espera que eles parassem com aquilo, à espera que um deles chamasse ajuda, à espera que te vissem - que te vissem - e percebessem que não podias acabar assim, aos pontapés de meninos de rua de um país estrangeiro, tu que tinhas vindo de São Paulo para a Europa para cumprir os teus sonhos, tu que tinhas vivido em Paris e encantado plateias e arrebatado corações, tu que eras tu, única e irrepetível.
Desculpa, Gi. Não ter havido um milagre. Ou pelo menos uma pietá para te descer da cruz e te segurar na cabeça. Alguém a gritar justiça por ti à porta do tribunal, quando eles saíram e espetaram o dedo, de tão arrependidos. Desculpa tanta desculpa.
(texto publicado na coluna contra os canhões do dn de sexta, indisponível na net vá-se saber porquê)
|| f., 14:10
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quarta-feira, fevereiro 21
é assim
o joaquim sobre a tristeza e o que fazemos com ela.
isto.
|| f., 21:40
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Imagens de marca
Afinal aquela notícia do Sol era piadola.
O professor Marcelo não “matou” o seu blogue.
Ele continua no éter, salvo seja.
Veja
aqui.
Há pormenores fantásticos, como este:
“SAGRES Convite original de um amigo da minha filha Sofia: autorizar o uso da minha imagem na RTP, num sofisticado anúncio da Sagres Bohemia. Ainda sorrimos com a imaginação. Mas não podia passar de sorriso…”MARCELO já tem imagem de marca, mas não quer!
|| portugalclassificado, 17:47
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químicas
o meu querido amigo pedro lomba, a quem gosto de chamar maninho por causa de umas piadas blogosféricas de duvidoso mas ainda assim divertido gosto, escreveu
isto. e eu, aqui com os meus botões (que por acaso não ostento hoje, mas não interessa), deitei-me (também não, mas pronto)a pensar. a quem te estarias a referir, maninho? e, já agora que estamos a falar disso, que será exactamente uma feminista radical? hum?
|| f., 17:07
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terça-feira, fevereiro 20
A Ler
O perfil de José Sócrates escrito pelo Ricardo Dias Felner (RDF), hoje, no
P2 do Público. Fazer hoje um perfil de Sócrates como aquele que o RDF fez é complicadíssimo porque, face a alguém com tanto poder, muito dificilmente se encontra alguém que possa falar dele simultâneamente com toda a profundidade e com toda a liberdade. Ou há pessoas que lhe devem favores, ou outras que dele dependem politicamente ou ainda os que têm com ele uma relação de ressentimento.
O texto gere com inteligência estes perigos. E isso acontece porque RDF não se eximiu de pôr no texto a sua própria visão do personagem, com quem evidentemente já se cruzou. No meio das opiniões dos amigos, dos inimigos e dos dependentes, acaba por ser a visão do jornalista a única que se aproxima minimamente de uma visão independente. RDF - contra uma certa maré actual, que quer reduzir o jornalismo à produção de actas - arriscou a subjectividade.
Há riscos? Claro que há riscos. Perante um texto assim aparece logo alguém que o classifica de "
hagiográfico". Se
José Pacheco Pereira (JPP) não fosse tão preguiçoso nas suas análises de imprensa, teria lido o texto até ao fim e saberia que o "
dissimulado" é um
tag que se insere tão bem como todos os outros no "
mecanismo de construção da personagem feita a partir dos depoimentos citados no artigo".
PS. Ainda no mesmo post, JPP pega na última frase de uma prosa que assinei hoje no DN para voltar a falar de pack journalism. Como facilmente se verificará, usa no seu argumentário coisas que não estão no texto (o prof. Marcelo, as gaffes ministeriais). Portanto: não comenta o que leu, comenta o que pensa que leu. Já não é preciso o osso para o cão salivar, basta a campaínha, mesmo que o osso não exista. Pack comentarism? Pois, como o próprio, se for honesto consigo mesmo, facilmente reconhecerá.
|| JPH, 14:52
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novembro
já não conto os dias. são dias de mais. agora são meses. vai fazer quatro. quatro meses é o terço de um ano.
não posso dizer que me lembro de ti todos os dias. não posso. nem que falamos de ti todas as semanas. os vivos rodeiam os mortos. vão passando cada vez mais ao largo.
os vivos querem esquecer. queremos esquecer que estamos a esquecer.
e depois, de vez em quando, não. é possível que de vez em quando queiramos ter a certeza de que ainda temos coração. ou de que não é possível esquecer. então vamos à procura. do sangue, da falta, da dor. como quem tacteia no escuro, cada vez mais fundo, esticando o braço, os dedos. até encontrar.
as lágrimas redimem-nos. uma espécie de certificado. como os sonhos. sonho contigo e penso: ainda não esqueci. não sou um monstro. não esqueci.
|| f., 03:37
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segunda-feira, fevereiro 19
o busílis
o excelso dr césar das neves
lá escreveu, finalmente, sobre o que ele acha que lhe aconteceu, a ele e à hierarquia da igreja católica, com o referendo.
compreensivelmente maçado, o economista resolveu no entanto fazer contas (como será seu apanágio profissional) e concluiu que o 11 de fevereiro foi muito mau também para a esquerda. é que, explica,
'O aborto a pedido e pago pelo Sistema Nacional de Saúde assolará sobretudo as classes mais pobres, onde a tentação será mais forte. Paradoxalmente, como noutros países, isso minará a base eleitoral dos partidos de Esquerda.'
e mais um bocadinho:
'Haverá menos crianças a correr nos bairros de lata; menos crianças a correr nos infantários. Haverá menos crianças em todo o lado. Haverá menos portugueses. O que aumentará é o número de gravidezes indesejadas. Iremos ver bem quão elástico é o conceito de "indesejado" (...) Certamente haverá menos crianças abandonadas, menos deficientes, menos criminosos. Só mais cadáveres pequeninos.'
muito bom. sim senhor. que extraordinário sentido da história (e a elegância dos 'cadáveres pequeninos', então, é um primor). por este andar, a esquerda acabou. nem se percebe bem como é que os países que legalizaram a interrupção da gravidez a pedido até às 12 semanas há 30 anos ainda têm gente, quanto mais esquerda. por esta hora aquilo devia ser um deserto a perder de vista, colonizado de povos que não permitem às mulheres abrir a boca e sair à rua, quanto mais decidir quantos filhos querem ter e quando.
a ver se fazemos como a nicarágua, onde os 'esquerdistas' sandinistas, se calhar por causa de terem medo de deixar de ter crianças a correr nos bairros da lata, ilegalizaram o aborto em todas as circunstâncias. aquilo é que é gente com visão. ou isso, ou o dr césar das neves esteve a explicar-lhes umas coisas.
|| f., 23:00
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apre
esta cena da migração dos blogues é uma seca das antigas.
eu sou contra mudanças destas, estou farta de dizer. o blogue antes funcionava tão bem, para quê complicar? chatos.
prontoS, voltei.
|| f., 22:59
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É evidente!
Alberto João Jardim quer(?) ir para eleições.
Parece que é para adaptar o seu programa de Governo aos cortes orçamentais que o “colonialista” José Sócrates lhe decretou com a nova lei das Finanças Regionais.
Deve ser isso…
Ou então é só para nos entreter!
Ou então é porque estamos no Carnaval!
|| portugalclassificado, 17:13
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sábado, fevereiro 17
Sugestão para Fontão e Gabriela Seara
Fujam! Depois o Cavaco indulta-vos. (
À cautela, aconselhem-se com a Fátima Felgueira. Ela sabe como tudo se faz.)
|| JPH, 20:32
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As mãos e o fogo
Disse o MNE Amado, ontem, no Parlamento: "
Enquanto eu não tiver nenhum elemento que me prove que os meus antecessores foram cúmplices com qualquer ilegalidade cometida em território português, a minha obrigação é pôr as mãos no fogo e assim farei."
Traduzindo de "amadês" para português: o MNE acha que é sua "
obrigação" pôr "
as mãos no fogo" pelos seus antecessores - mas só "
enquanto" não há fogo.
|| JPH, 20:02
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Há quem diga que comigo é ao contrário
Os jornais sobem muito devagar e descem muito depressa.
|| JPH, 13:36
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Contratações
Afinal o PÚBLICO sempre foi buscar alguém à blogosfera para as suas colunas de opinião. Um tal de
José Diogo Quintela, rapaz, ao que me dizem, de algum talento.
|| JPH, 12:41
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sexta-feira, fevereiro 16
Carmona sai? (em actualização)
Carmona Rodrigues só vai deixar a Câmara de Lisboa:
a) se e quando for PRONUNCIADO;
b) se e quando for a julgamento;
d) quando já não houver candidatos suplentes na lista do PSD para assumirem o cargo de vereadores;
e) quando a situação política na câmara estiver completamente putrefacta e pestilenta;
(em actualização até ao final da reunião da comissão política do PSD)
|| portugalclassificado, 17:34
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Constatação
Dias insuportáveis são dias como hoje (e ontem): chove que se farta.
|| JPH, 11:22
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quinta-feira, fevereiro 15
Isto sim é que uma “cooperação estratégica” muito cooperativa, mas mesmo mesmo muito cooperativa
Ao início da tarde, disse o sr. Presidente:
Lisboa, 15 Fev (Lusa) - O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, defendeu hoje que a Assembleia da República deve analisar as "boas práticas" existentes nos países desenvolvidos da União Europeia antes da nova lei sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG).
"Eu próprio já estudei as práticas que vigoram em todos os países desenvolvidos na Europa e concordo com aquilo que foi dito - que se analisem as boas práticas. Deixemos que a Assembleia da República observe as boas práticas que existem por essa Europa fora", afirmou o Chefe de Estado português.
Lusa/14:50
E assim falou o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, umas horas depois.
Lisboa, 15 Fev (Lusa) - O ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, frisou hoje que o processo de regulamentação pelo Governo da futura lei do aborto será "eminentemente administrativo" e procurará corresponder ao exercício das melhores práticas europeias.
(…) O Governo terá então "o sentido de procurar que essa regulamentação corresponda às melhores práticas europeias" ao nível da interrupção voluntária da gravidez, acrescentou.
Isto sim é entendimento, entre o engº José Cavaco Silva e o prof. Aníbal Sócrates…
|| portugalclassificado, 15:59
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O "novo" PS (conclusão)
Enfim, para concluir. O profissionalismo comunicacional do PS vem de Guterres; a governação para o centrão - ou seja, ignorando o "velho PS" - também. O que Sócrates acrescentou - muito por personalidade própria e muito por ter aprendido com os erros de Guterres - foi disciplina (na comunicação) e autoridade (na relação com os seus ministros).
E quanto a Soares, foi o próprio que tratou de se enterrar, imparavelmente. Recordo que embora tenha ganho as europeias de 1999, conseguiu-o com um resultado percentual inferior ao de Guterres nas legislativas anteriores (não esqueço o sorriso resplandescente de Guterres nessa noite eleitoral). Cinco anos depois, nas europeias de 2004, em pleno processo Casa Pia, um cabeça de lista morto (Sousa Franco) conseguiu um resultado melhor do que Soares em 1999.
E nas últimas presidenciais foi o que foi: não passaria pela cabeça de nenhum líder do PS, nem mesmo ao autoritário Sócrates, dizer que "não" ao
founding father do partido.
|| JPH, 12:40
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quarta-feira, fevereiro 14
O "novo" PS
Henrique Raposo considera
aqui que José Sócrates "
mudou a natureza do PS", "
matou o velho PS de punho no ar" e "
já estancou (...)
a velha avalanche socialista". Permita-me que discorde.
Quem "
mudou a natureza do PS" e "
matou o velho punho no ar" foi António Guterres. Foi Guterres (acompanhado de pessoas como Pina Moura, Jorge Coelho, António José Seguro e o próprio Sócrates) quem inoculou no partido - depois de dez dolorosos anos de oposição - doses cavalares de pragmatismo (ou, em bom português,
killer instinct) na procura do poder e na sua manutenção. Foi Guterres quem profissionalizou a "comunicação" do partido (recordo-lhe Edson Athaide) e quem percebeu que o partido tinha de recentrar o seu discurso em função, absolutamente, do que o "centrão" queria ouvir (e aqui também introduziu a liderança baseada em sondagens).
Dou-lhe um exemplo: em 1995, Guterres percebeu que o país estava exausto com o modo "autoritário" de Cavaco (que resultou, por exemplo, em acontecimentos como os "secos e molhados" da PSP ou o bloqueio da Ponte). E daí - e também por uma questão de personalidade - inventou o famoso "diálogo". Mas também percebeu, ao mesmo tempo, que não podia ignorar a eficácia do discurso populista do novo PP de Monteiro/Portas (então ainda na sombra). E defendeu, por exemplo, o endurecimento das penas de prisão.
Conquistou o poder à esquerda e à direita, com a mira sempre apontada ao centro, como Sócrates fez (e continua a fazer). E, até lá chegar, resistiu valentemente aos apelos de "Frente Popular" que Mário Soares (ainda em Belém) lhe estava a lançar, por exemplo com o congresso "Portugal: que futuro?". Eu lembro-me: Cavaco foi para o Pulo do Lobo; e Guterres para o Japão (sim, para o Japão), pretextando uma missão da Internacional Socialista.
E depois instalou o partido nos confortos do poder, recordando permanentemente a todos os beneficiados das mordomias estatais que regressar ao "
velho punho no ar" significaria, também, regressar ao deserto oposicionista. Dez anos de oposição tinham servido de vacina ao partido. Aconteceu o que tinha de acontecer: Manuel Alegre ficou sozinho (ou quase) a representar esse PS.
(
há-de continuar)
|| JPH, 11:40
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terça-feira, fevereiro 13
"Mobilização" partidária
O 'sim' teve mais um milhão de votos do que em 1998 e para isso foi decisivo, como já toda a gente, o envolvimento (desta vez sem ambiguidades) do PS. Mas parece-me, lendo comentários aqui e ali, que há uma confusão entre o que o PS agora fez e algo chamado "mobilização partidária". Isso, no PS, não existiu (nem faz falta nenhuma).
O que existiu foi, isso sim, uma directiva política vinda de cima, executada depois profissionalmente por meia dúzia de funcionários que, com meia dúzia reuniões no Largo do Rato mais meia dúzia de telefonemas e, sobretudo, muito dinheiro, conseguem fazer forrar o país de
outdoors e milhares de panfletos, sem que para tal se exiga, como antigamente, o mínimo de mão de obra militante (e muito menos o respectivo intelecto). Tudo o resto é "comunicação" - e para isso tanto faz um partido ter mil militantes como cem mil.
Vive assim noutro planeta quem acha que a máquina partidária são milhares de formiguinhas espalhando por todo o lado, cegas de entusiasmo militante, a "boa nova" determinada pela cúpula do partido. Para o resultado do referendo não contou nada a "mobilização" do PS. Contou a decisão de Sócrates e o profissionalismo dos seus funcionários.
|| JPH, 15:01
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segunda-feira, fevereiro 12
Presos por ter cão...
...e presos por não ter. Lamenta-se
aqui a ausência de histerismo na reacção mediática nacional ao sismo.
|| JPH, 20:50
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Sismos que de facto interessam
Sim, confirmo: senti um, há seis anos. Curiosamente, nenhum sismógrafo o registou.
|| JPH, 18:23
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Público
Está finalmente morto o pai.
PS. Mas lá que é bonito, é. Sempre foi, aliás.
|| JPH, 12:00
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Sim!
Consegui, carago. Finalmente esta coisa lá se transferiu para a google account ou lá o que é.
|| JPH, 11:55
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quarta-feira, fevereiro 7
Coisas boas destes dias
O Vasco reinventou o Memória, parte
II. Os fãs agradecem, curvados, veneradores, obrigados
|| asl, 19:01
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terça-feira, fevereiro 6
Marcelo
Engraçado ver como tantos socialistas se enxofram com o prof. Marcelo. Engraçado observar como seguem passo por passo o guião de asneiras santanistas que um dia deram ao professor pretexto para sair da TVI. Engraçado como já não se lembram, esses socialistas, do jeito que isso lhes deu na altura. Engraçado como põem tanto paternalismo na expressão "Serviço Público de Televisão" (SPT). Engraçado como se esquecem do acolhimento que esse mesmo SPT dá a um dos mais entediantes comentadores políticos da actualidade, o absolutamente
yes man governamental dr. Vitorino. Engraçado como não reparam que a RTP deu tanto espaço ao Prof. Marcelo como à devastadora imitação (repetida já várias vezes) que deles fez o "fedorento" Ricardo Araújo Pereira. Engraçado constatar como, nestes críticos, a inteligência vai diminuindo à medida que sobe o grau académico.
|| JPH, 12:22
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segunda-feira, fevereiro 5
Mário Mesquita
Mário Mesquita deixou subitamente as páginas do PÚBLICO e a forma como o fez mereceu já
vários comentários na blogosfera. O Jornalismo e Comunicação
acrescenta à controvérsia um comentário que apresenta como sendo do próprio director do PÚBLICO. Este explica o caso e aproveita para anunciar a saída de mais quatro colunistas, alegadamente por terem "
ligações partidárias": Paulo Rangel, Manuel Queiró, João Teixeira Lopes e Vitor Dias.
José Pacheco Pereira não sai porque, como toda a gente sabe, não tem "
ligações partidárias".
PS.
Isto poderá significar também que abriram vagas nas páginas de opinião do PÚBLICO. Mais uma oportunidade portanto para os pobres blogonautas que andam há mais de três anos a mendigar por um espacinho num jornal nacional.
|| JPH, 17:34
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Coisas boas do referendo
Voltar a receber 15 SMSs por dia do
Daniel Oliveira.
|| JPH, 15:18
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Mera questão de sobrevivência
Quem lucrou com o "não" de 1998? Evidentemente, todos os que lucram com o negócio do aborto clandestino. E o mesmo acontecerá se o "não" voltar a vencer. É ínevitável concluir: as abortadeiras clandestinas também votarão "não".
|| JPH, 11:44
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domingo, fevereiro 4
the marcelo way and the hard way
bom. para começar, quero dizer que esta
troca de mimos entre mim e o professor marcelo vai ter de chegar ao fim (ia escrever SIM, vejam lá), sob pena de a minha tia avó hermengarda, da província mais profunda, me riscar do testamento sem mais delongas. já me mandou um bilhetinho aziago:
portanto, senhor professor, faça-me o enorme favor de não insistir mais em ligar o meu nome à liberalização do aborto até aos oito meses que o senhor advoga, ao aborto de qualquer maneira e em qualquer lugar, feito sabe-se lá por quem e porquê. eu, senhor professor, defendo a despenalização -- veja se consegue reter esta palavra, des-pe-na-li-za-ção, aconselho-o a ir ver ao dicionário, quer dizer "retirar a pena de", ou seja, deixar de ameaçar com pena de prisão -- da interrupção da gravidez até às dez semanas, e só se feita num estabelecimento de saúde legalmente autorizado, por técnicos de saúde credenciados, e, não esquecer, por opção da mulher.
e por opção da mulher porquê, senhor professor?
pois é, senhor professor, custa-me muito ter de lhe explicar isto a si, um tão eminente professor de leis, mas se a pergunta do referendo não especificasse que a interrupção da gravidez só será despenalizada nas condições descritas acima SE for por opção da mulher então os abortos efectuados sem consentimento da dita passariam a ser despenalizados também.
custa-me a crer, professor, como à minha tia hermengarda, que o senhor professor defenda que o aborto pudesse ser despenalizado nos casos em que fosse feito contra a opção da mulher -- quando por exemplo um sacripanta, como diz a minha tia que era o meu tio, não quer ter um filho e dá uma carolada na mulher, a leva para um tugúrio qualquer e paga a um curioso para a fazer abortar, às 10 semanas ou aos oito meses. custa-me muito a crer -- e ao cardeal patriarca também, que eu ouvi a entrevista dele à judite de sousa e ele disse o mesmo, com cara de quem acha que o professor marcelo anda a consumir muita gasosa estragada -- que uma pessoa como o senhor professor defenda coisas tão extraordinárias e ainda por cima tão pouco cristãs.
sobretudo, senhor professor, porque nem nas suas dominicais aulas na rtp nem no chorrilho de vídeos (que mal montados, deus) que anda a desmultiplicar no you tube explicou coisa que se percebesse sobre a sua, digamos, 'proposta'. ora eu, que sendo quem sou não sou destituída de espírito caritativo, venho por este meio dar-lhe uma ajuda (pronto, 'tá bem, para ver se a tia hermengarda não me deserda).
então, senhor professor, venho propor-lhe que este domingo, na rtp, responda a umas singelas perguntinhas que permitirão, de uma vez por todas, desvanecer a fumarada que envolve a sua prestidigitação verbal e entender a sua 'proposta' em todo o seu decerto fulgurante esplendor.
1. o professor marcelo defende que as mulheres possam abortar até aos oito meses sem serem penalizadas? sim ou não?
2. o professor marcelo defende que esses abortos possam ser feitos contra a opção da mulher e mesmo assim não se aplicar qualquer pena?
3. o professor marcelo defende que esses abortos possam ser feitos em quaisquer condições, em qualquer sítio e por qualquer sorte de pessoas, sem que por isso haja pena?
4. ou o professor marcelo defende que em caso de aborto efectuado em quaisquer condições e em qualquer sítio, por qualquer tipo de pessoas e até aos oito meses de gestação, só a mulher seja despenalizada (caso sobreviva), e todos os outros intervenientes sejam penalizados?
5. o professor marcelo é contra a despenalização proposta na pergunta referendária porque assegura um prazo curto, porque assegura condições de segurança, saúde e de transparência, e porque assegura que o aborto não será efectuado contra a vontade da mulher?
6. o professor marcelo é contra a despenalização porque acha que é duro exigir às mulheres que abortem só até às 10 semanas em estabelecimento de saúde autorizado e por sua opção?
7. o professor marcelo espera mesmo que o levem a sério com estes argumentos?
pois é, professor. acredite que estou deveras condoída por ter o questionar desta forma abrupta e hard, mas está em causa a herança que a tia hermengarda me prometeu -- tenho de provar à minha tia que seu NÃO e o meu SIM são de facto muito muito diferentes. e que eu, ao contrário do professor marcelo, vejo com verdadeiro horror a possibilidade de manter tudo como está, de continuar o aborto liberalizado à vontade de quem quiser e como quiser e onde quiser, às 10 semanas ou aos oito meses, sem hipótese de sabermos o que se passa realmente nem de tentarmos perceber o que leva as mulheres a abortar e de tentarmos que não abortem (se nos for possível encontrar soluções caso a caso) ou que não voltem a abortar.
chame-me dura, professor, mas eu quero uma lei que se possa impor e cumprir. eu quero regulação, honestidade e transparência. para moleza e irresponsabilidade já tivemos 23 anos.
|| f., 21:44
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sexta-feira, fevereiro 2
Manuel Pinho Forever
Proponho que Manuel Pinho continue no Governo até, pelo menos, digamos… 2016.
Assim, é garantia de que temos notícias todas as semanas.
E ainda por cima divertidas.
Andar de carro a 190 km/h, decretar o fim da crise, as conferências de imprensa interrompidas e retomadas depois e agora apresentar a vantagem dos salários baixos em Portugal.
É obra!
Vá lá, engenheiro Sócrates, não remodele o sr. Pinho…
|| portugalclassificado, 13:43
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