...para Ana Sá Lopes (asl), Nuno Simas (ns) e João Pedro Henriques (JPH). Sobre tudo.[Correio para gfacil@gmail.com]
quinta-feira, maio 31
As coisas que eu não sei... e fiquei a saber...
O Diário da República é um poço de informação.
Eu (ignorância minha, claro) não sabia que temos um embaixador nas Seychelles.
Fiquei a saber!
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Decreto do Presidente da República n.o 51/2007
de 31 de Maio
O Presidente da República decreta, nos termos
do artigo 135.o, alínea a), da Constituição, o seguinte:
É nomeado, sob proposta do Governo, o ministro plenipotenciário
de 2.a classe Luís João de Sousa Lorvão como
Embaixador de Portugal na República das Seychelles.
Assinado em 26 de Abril de 2007.
Publique-se.
O Presidente da República, ANÍBAL CAVACO SILVA.
Referendado em 22 de Maio de 2007.
O Primeiro-Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de
Sousa.—O Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros,
Luís Filipe Marques Amado.
|| portugalclassificado, 10:39
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quarta-feira, maio 30
Greve geral: PS e PSD, a mesma luta
Qual a diferença entre Governos PS e PSD em dias de greve geral? Nenhuma.
Hoje o Governo de José Sócrates como, em 2002, o Governo de Pedro Santana Lopes (!), tem o mesmo tipo de comentário à greve geral: que não é geral, é parcial.
"Shame on you", eng.º Sócrates! Plagiar o dr. Santana!?
|| portugalclassificado, 15:12
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Mas isto, caros amigos...
...isto é que interessa. Quais eleições, quais greves gerais, quais quê. Amanhã, e até 3 de Junho, vão competir no Tejo dos mais espectaculares veleiros de competição que se podem encontrar. São os RC44 (traduzindo:
Russell
Couts de
44 pés). São barquinhos iguaizinhos aos da Americas Cup - só que feitos pela metade (metade do cumprimento, metade do mastro, metade da área de vela, metade da tripulação). Topem-me os bichos.
|| JPH, 12:05
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Convergência estratégica
Vendo estas duas fotos, uma pessoa pergunta-se: a imagem destes dois homens é delineada pelo mesmo especialista? Ná!
Cavaco com jornalistas, em 9/5/2006, em Belém. Foto colocada no site da Presidência.Sócrates com jornalistas, num avião para a Rússia, 27/5/2007. Foto colocada num site do gabinete do primeiro-ministro.
|| JPH, 11:10
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terça-feira, maio 29
Detector de emprego para spin doctor
Aos que usam a blogosfera para compensar a frustação que sentem por nenhum político lhes valorizar os talentos de
spin doctor, eis
aqui uma oportunidade para uma nova vida. Quem é vosso amigo, quem é?
|| JPH, 15:35
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Liberalismo (II)
Devo ser muito parvo, é o que é. Só um tipo muito parvo pode julgar que divisões graves numa organização lhe provocam dano. Afinal, não. Não há maneira destas
nuances da meritocracia liberal me entrarem na cabeça. Peço desculpa.
|| JPH, 11:40
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Liberalismo
Isto de um banco estar em estado de pré-cisão e, por isso mesmo, gerar enormes lucros bolsistas, vem em que manual da teoria meritocrática do liberalismo?
|| JPH, 11:34
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Mendes (II)
Nos bancos, como agora se vê no Millennium BCP, as tensões internas
dão lucro. Fosse a política assim e Marques Mendes estaria descansadíssimo a governar o país assente numa enorme maioria absoluta.
|| JPH, 11:26
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Mendes
Vistas as coisas à distância, e tendo em conta a evolução dos processos de Isaltino Morais e de Valentim Loureiro, pergunta-se: Marques Mendes tinha ou não razão quando os impediu de se candidatarem pelo PSD? Pensem nisto quando pensarem na decisão sobre Carmona.
|| JPH, 11:21
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Claustrofobia democrática (II)
A segurança russa fechou a Praça Vermelha ao público para Sócrates fazer o seu
jogging matinal.
|| JPH, 11:14
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Claustrofobia democrática
Segundo a Lusa, José Sócrates deu uma entrevista à agência
Itar Tass, publicada hoje no
Izvestia, onde disse:
"
A Rússia é A base da estabilidade na Europa e no mundo." [bold meu].
Na versão da mesma entrevista em português, distribuída aos jornalistas pelos serviços de imprensa do primeiro-ministro português, lê-se:
"
A Rússia é essencial para a estabilidade europeia e mundial."
Comentário oficial: é a vida...
|| JPH, 11:08
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sexta-feira, maio 25
Cavaco, líder da oposição... por um dia
Hoje, Cavaco Silva foi o verdadeiro líder da oposição,
a pedir um debate sobre o novo aeroporto da Ota.
É ver o PS e o ministro Lino a assobiar para o lado… a disfarçar.
Que o debate já estava previsto...
É para compensar outros dias em que assina as leis do Governo e leva os partidos da oposição (PSD e CDS) a fazer beicinho…
|| portugalclassificado, 20:15
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Evidências
Relembro o que me parece (modestamente, como sempre) uma evidência: não fossem dois ou três vereadores da oposição em Lisboa e não estaríamos a par de um décimo das moscambilhadas camarárias dos últimos anos, todas elas agora sob investigação judicial.
Eles exploraram tanto quanto puderam uma circunstância singular: por não haver maioria, as competências do loteamento (que movimentam milhões de euros) ficaram por conta do executivo camarário no seu todo em vez de terem sido concentradas no presidente (ou quem ele delegasse), tornando-se invisíveis ao escrutínio público.
Fala-se agora muito em governabilidade da câmara (e há-de se falar cada vez mais, quando ao topo da agenda política-parlamentar chegar a revisão da lei eleitoral autárquica). O caso de Lisboa será usado à exaustão para tentar fazer assentar a ideia de que o poder local só é governável com maioria. Seria a perpetuação dos carmonas desta vida, com tudo o que isso implica.
|| JPH, 12:32
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a criança no tempo
durante os dias da maddie, uma das conversas que mais ouvi foi a de que 'estas coisas antes não aconteciam'. tentei rebater várias vezes a ideia. chamei a atenção para o facto de até 1974 não termos tido uma imprensa livre e de a censura cortar os relatos dos crimes para dar a ilusão do país sereno. perguntei: mas acham que os abusadores de crianças, os psicopatas, os desequilibrados foram inventados há 15 anos? pensei em gilles de rais, pensei em maldoror, pensei em le journal d'une femme de chambre, o filme de buñuel baseado no romance de 1900 de mirbeau, em que uma criança é violada e morta no meio de um bosque. pensei em dickens. pensei como seria a investigação destes desaparecimentos nos anos 20 e trinta, quando as famílias tinham tantas crianças e as crianças andavam sozinhas quilómetros em paisagens desérticas, e talvez nem fosse comum fazer-se queixa de um desaparecimento. pensei nos pequenos pastores que subiam com os rebanhos para a montanha e lá ficavam semanas, pensei nas crianças operárias do século XVIII e XIX. pensei em como a ideia de criança, a ideia de como uma criança é preciosa e irrepetível, é tão recente.
pensei, muitas vezes, e não só desta vez, como seria interessante conhecer a história dos desaparecimentos de menores em portugal nos últimos cem anos -- se é que é possível saber alguma coisa disso.
pensei em como, com três anos, brincava sozinha com um primo da mesma idade na quinta dos meus avós, horas na rua só com ele e os cães, a inventar aventuras e explorações. de como, com cinco ou seis anos, já ia sozinha para a escola -- como todos os meninos da minha idade iam.
ontem, numa consulta com um médico que durante os anos 70 viveu em inglaterra, falámos disto. ele, que nessa época tinha um filho pequeno, contou-me de como a mulher vivia aterrorizada com a ideia de que lhe roubassem o miúdo, por causa de uma 'onda' de desaparecimentos que ocorria nessa altura no país. lembrei-me de the child in time, o romance de 1987 de ian mcewan, em que o narrador perde a filha de cinco anos (acho que era cinco) no supermercado e nunca mais a vê. e de alice, de marco martins, a história de um pai que incansável e obssessivo procura numa lisboa lunar, gélida, a filha de cinco ou seis anos.
a percepção que temos do mundo e a forma como esculpimos as nossas atitudes vivem da informação que temos -- de que outro modo? o que parece incrível é que às vezes toda a gente pareça esquecer-se disso.
no fundo, e é isso que é tão aterrorizador, de um terror obsceno e irreal, é tão fácil perder uma criança, tão fácil roubar uma criança. não há forma de se estar sempre atento, sempre vigilante. não há forma de certificar que se está sempre a olhar. não há forma nenhuma.
podemos então olhar para isto e reconhecer que extraordinário é que não ocorra mais vezes.
|| f., 11:12
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quarta-feira, maio 23
O senhor presidente ca-va-COO' SEEL'-vuh
O nome de Cavaco Silva está no AP News Pronunciation Guide, da Associated Press.
Assim:
Anibal Cavaco Silva -- ah-NEE'-bal ca-va-COO' SEEL'-vuh
|| portugalclassificado, 13:01
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terça-feira, maio 22
As saudades que eu já tinha dele
"O que se está a passar em Lisboa é em Lisboa que se está a passar."Jorge Sampaio, hoje, num almoço de apoio a António Costa.
|| JPH, 23:08
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À cautela
desminto categoricamente ter alguma vez feito este
comentário jocoso, que maldosamente me foi atribuído.
|| JPH, 23:06
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segunda-feira, maio 21
e a descrição normal e linguisticamente correcta da patricia é...
de tanto ver referências
a um post no insurgente, fui lá ver. vale a pena.
tem como título 'O POLITICAMENTE CORRECTO E O ADVENTO DO LOGO-TERRORISTA' e é de uma tal de patrícia lança, que deve ter achado (e com companhia) que estava a cravar uma lança em áfrica -- para usar uma expressão muito muito pouco politicamente correcta.
morceaux choisis:
'Para algumas almas ingénuas tratava-se de eliminar epítetos ou frases insultuosas que podiam ofender minorias. Para os ‘steel-hardened cadres’, tratava-se de uma técnica propositada para acabar com juízos de valor e colocar uma rolha na discussão de assuntos inconvenientes. Hoje o politicamente correcto, disseminado em vasta escala pelo mundo ocidental, funciona como uma imposição de relativismo moral e de uma censura.'
'Quando querem evitar a discussão da homossexualidade puxam logo da etiqueta de ‘homófobo’ para por fim à conversa.' (ó patrícia, por quem é. bóra aí 'discutir a homossexualidade', esse 'assunto tão inconveniente'. por que parte é que quer começar? eu gostava de começar pela parte da heterossexualidade, se não se importar -- agora nada de me chamar heterófoba, tá?).
'Outra técnica é de mudar da descrição normal e linguisticamente correcta para uma mais eufemística. Prostitutas e prostitutos são agora promovidos a ‘trabalhadores de sexo’.'
ai, o que eu adoro esta gente. 'normal' e 'linguisticamente correcto'. e porque não, patrícia, quengas? quengas e quengos. cróias. bruacas. courões. rameiras. pegas. perdidas. também diz que é linguisticamente correcto. como putas. outra expressão tão 'normal' e linguisticamente correcta.
também não se percebe, patrícia, porque é que se deixou de chamar 'escarumbas' aos negros. que diabo. uma palavra tão gira. e 'aleijados' aos deficientes. ou por que raio a palavra 'judiaria' há-de deixar de ser empregue como sinónimo de 'coisa ruim' ou 'maldade', e 'judeu' como sinónimo de avarento, mau carácter, aldrabão. e por que havemos nós de ensinar às crianças a não rir dos gordos e a não lhes chamar 'montes de banha', se é tão normal as crianças dizerem estas 'expressões normais' e quer 'monte' quer 'de' quer 'banha' são linguisticamente irrepreensíveis?
não, não se percebe. vai-se a ver e a patrícia esqueceu-se destes exemplos porque, sei lá, não lhe ocorreram. mas como a patrícia é uma mulher de princípios, e considera que 'chamar as coisas pelos nomes é o primeiro requisito de qualquer discussão séria', não se vai importar decerto que eu lhe pergunte de que é que estava exactamente a falar quando escreveu: ‘agora estamos confrontados com penas de prisão, até para crianças, pelos chamados ‘hate crimes’.
é que nós, os politicamente correctos, gostamos de ter a certeza da justeza dos nomes que chamamos. e eu preciso de mais esse elemento para ajuizar daquela que será a descrição linguisticamente correcta da patrícia.
adenda: ler o joão galamba,
no metablog
|| f., 23:53
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to know and to know not
a laura, sobre o casamento, o amor e o resto. não é para pôr na porta do frigorífico porque por definição já lá está.
|| f., 22:33
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|| f., 19:56
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bem me parecia
que eu e a madonna éramos almas gémeas. agora só tenho de me lembrar da tal adolescência sexual. não há-de ser difícil.
(mas agora ainda que mal pergunte: onde é que aquela pessoa foi buscar esta teoria sobre a madonna? à própria e à sua recém elaborada hagiografia? às revelações cabalisticas? hum?)
|| f., 18:13
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o contraditório, ei-lo (times goes back so slowly)
'Penso que deveríamos todos fazer um grande esforço por desvalorizar os posts da Fernanda Câncio. Penso que algures na sua história pessoal haverá algo que justifique tanto ódio, tanto facciocismo, tanto rancor e tanto desprezo pela vida dos nascituros. Sabemos, por exemplo, que certos comportamentos anti-clericais e libertinos da cantora Madonna estavam, afinal, relacionados com uma adolescência sexual traumatizante.
Acho que não lhe devemos dar publicidade e muito menos a alguém que tem um blog (glória fácil) que, em sinal de grande pluralismo e tolerância, proibe o contraditório, não havendo espaço para colocação de comentários.'
(da caixa de comentários
do cachimbo de magritte -- ah, e se soubesse que lhes dava
tanta alegria, já o teria feito há mais tempo. afinal, eu também tenho os meus momentos caridosos)
|| f., 17:53
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Ambivalências (II)
As candidaturas independentes ainda são só as da independência possível - não da desejável. Não conheço uma única que não seja, no essencial, uma dissidência partidária.
|| JPH, 15:10
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eu e o joão miranda, outra vez (é capaz de ser para a vida, é)
agora é sobre o casamento e o divórcio e a proposta do bloco de esquerda e tudo o que cabe nisso.
no cinco dias.
|| f., 15:03
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Ambivalência
Mixed feelings ao olhar para a candidatura de Helena Roseta. Por um lado, o espanto: como é que só 30 anos (e dois partidos) depois é que se percebe que o sistema partidário está podre? Por outro, uma certeza: Lisboa precisa de mulheres como Helena Roseta ou homens como José Sá Fernandes. Gente mais livre que a maior parte das pessoas. Felizmente, não voto em Lisboa.
|| JPH, 14:59
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sábado, maio 19
e agora, a propósito de nada de especial
não sei se já tinha dito hoje que adoro
o vasco. se não disse, repito.
(não sei como, ontem tinha assinado este post como jph. mas não. quem adora o vasco sou mesmo eu)
|| f., 04:07
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sexta-feira, maio 18
e o prémio da discussão do sangue vai....
para a rititi, a mais selvagem entre mil. te adoro, chica.
|| f., 20:46
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bull's eye
|| f., 20:20
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começo a desconfiar de tudo o que ele diz
o pedro diz
estas coisas e depois é uma companhia agradabilíssima. das duas uma.
|| f., 20:07
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roubar ao pacheco pereira, com a devida vénia
Safe Sex
If he and she do not know each other, and feel confident
they will not meet again; if he avoids affectionate words;
if she has grown insensible skin under skin; if they desire
only the tribute of another’s cry; if they employ each other
as revenge on old lovers or families of entitlement and steel—
then there will be no betrayals, no letters returned unread,
no frenzy, no hurled words of permanent humiliation,
no trembling days, no vomit at midnight, no repeated
apparition of a body floating face-down at the pond’s edge
(Donald Hall)
|| f., 18:19
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do caixotão do glória, sobre o assunto do momento
a ana matos pires, médica, mandou este mail. é grande mas vale a pena.
'Leiam o que disseram os Srs. Doutores!
"Ser homossexual, só por si, não é critério de exclusão da dádiva de sangue", garante Gabriel Olim, presidente do Instituto Português do Sangue (IPS)
Henrique Barros, coordenador nacional de luta contra a sida, disparate: "Não faz sentido impedir homossexuais de dar sangue. É a ideia, completamente ultrapassada, da existência de grupos de risco." E acrescenta: "Toda a gente sabe há muito que os rastreios selectivos, que separam as pessoa entre quem pode e quem não pode dar sangue com base em orientação sexual ou cor de pele são estultos."
Pedro Nunes (Bastonário da OM) declarou em 2006: "tal como a pergunta está formulada, o critério do comportamento de risco - sexo anal - está a filtrar mais cidadãos homossexuais e menos outros cidadãos que também deveriam ser filtrados por essa pergunta, constituindo na prática uma discriminação eticamente inaceitável, que terá mais a ver com a tranquilidade psicológica de quem está no processo".
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Sobre as normas para a doação de sangue leia-se a Directiva Europeia, de 2004, que vincula automaticamente os Estados-membros…
http://europa.eu.int/eur-lex/pri/en/oj/dat/2004/l_091/l_09120040330en00250039.pdf
Destaco o ponto mais relevante para a actual discussão:
"Permanent deferral criteria for donnors of allogeneic donations
(…)
Sexual behaviour: Persons whose sexual behaviour puts them at high risk of acquiring severe
infectious diseases that can be transmitted by blood"
Não há referência a contactos homossexuais!!!!!!!
Sobre a fiabilidade dos testes…
Transcrevo a resposta dada pelo Ministério da Saúde em 2003 à pergunta "Que passos e testes são aplicados na triagem do risco da doação de sangue contaminado nas instituições hospitalares e qual o seu grau de fiabilidade?", formulada pela associação ILGA:
"Todos os dadores de sangue são sujeitos a triagem clínica efectuada por médico (obrigatória pela legislação portuguesa). O candidato a dador é questionado claramente sobre os pontos relevantes contidos no guia "Critérios de Selecção de Dadores de Sangue". Após esta etapa e caso se verifique a elegibilidade do dador para a doação, e realizada esta, a sua dádiva será submetida a um processo de rastreio laboratorial que engloba as análises obrigatórias por legislação portuguesa (HIV1 e 2; HTLVI/II; Anti-HCV; HBs Ag; Anti-HBC; e, ALT), com testes cuja sensibilidade e especificidade ronda os 99%.
Estão em ensaio e a ganhar a natural destreza técnica os profissionais, que vão realizar as novas técnicas de Amplificação de Ácidos Núcleicos (TAN), para completar o painel de análises ao sangue doado, garantindo a este um acréscimo de segurança viral, conforme o actual estado da arte."
Importa anotar que os referidos TAN passaram a ser utilizados, com consequente aumento da fiabilidade dos resultados: diminuiu a ocorrência de falsos negativos e foi significativamente encurtado o "período de janela", período de tempo em que os testes não identificam a infecção apesar de esta existir, que atingia os seis meses e que, com este tipo de avaliação laboratorial varia entre uma a duas semanas.
Sobre a epidemiologia do HIV, nomeadamente sobre a infecção humana pelo do HIV 1 e 2, prometo procurar posteriormente, com tempo, fontes simples e adequadas à passagem de informação a leigos na matéria que, naturalmente, não têm obrigação de dominar os aspectos técnicos mas que têm todo o direito a uma informação cientificamente correcta
Algumas questões imediatas…
A homossexualidade masculina é factor predisponente para alguma doença? Qual?
Como se explica a ausência deste tipo de restrição nos candidatos a dadores de medula óssea?
Embora o critério discriminatório "os homens que têm sexo com homens" tenha sido retirado da página do Instituto Português do Sangue (IPS) em 2005, mantém-se nos manuais que já "estão a ser revistos" desde, pelo menos, essa altura. Para quando a publicação da dita revisão?
Qual é a realidade "no terreno"? (Leia-se, a título de exemplo, o texto da Fernanda Câncio "Sangue de homossexuais é 'bom' ou 'mau' conforme o hospital", publicado no DN da passada quarta-feira)
Diz a carta que as Panteras Rosa entregaram há dois dias no Ministério da Saúde "(…) na véspera do Dia Mundial Contra a Homofobia - à falta de uma resposta médica séria e perante anos de diálogo de surdos com o IPS, - queremos do ministro da Saúde, a tutela, a única resposta política exigível: a revisão de um critério discriminatório."
Porque entendo que a actual situação, sendo discriminatória para os homossexuais masculinos portugueses, é ofensiva para mim enquanto cidadã, estive com o movimento Panteras Rosa na João Crisóstomo.
Porque essa forma de discriminação não garante uma melhor qualidade dos produtos armazenados nos bancos de sangue do nosso país e porque, em termos de saúde pública, não só já não faz sentido falar em grupos de riscos como pode mesmo ser prejudicial, concordo com a sua abolição.
Porque a questão primordial, em termos de saúde, é a obrigação de garantir a protecção de quem necessita ser trasnfundido defendo, enquanto médica, que a primeira abordagem ao eventual dador, feito na forma de recolha de dados anamnésticos, seja o mais pragmático possível, não incite à mentira nas respostas e que seja SEMPRE entendido como uma primeira forma de rastreio. Só a testagem de TODO o sangue permite uma maior segurança e qualidade de todos os produtos hemáticos, sangue e seus derivados. Lembram-se do caso dos hemofílicos? Já estão todos mortos! O lote de sangue infectado não veio de um dador homossexual masculino…'
|| f., 18:15
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os doutoramentos pelo google
a propósito da discussão sobre a exclusão automática dos homens que fazem sexo com homens da dádiva de sangue,não posso deixar de me espantar com a quantidade de especialistas instantâneos que, após uns minutos no google, se acham em condições de rebater doutamente os argumentos que lhes apetece rebater.
a caixa de comentários do blasfémias, em vários posts sobre o assunto -- além de alguns, ou mesmo todos, os posts do blasfémias sobre o assunto -- são disto um exemplo esclarecedor.
deixo pois aqui um comentário que eu própria deixei no blasfémias, a propósito dos testes usados nos bancos de sangue e sobre os quais, de acordo com os tais doutos comentadores, eu deveria informar-me melhor:
'bom, já comentei isto uma vez e o spam anti-politicamente correcto mandou o meu comentário para o espaço. espero que desta vez deixe passar.
à tina e ao penafirmense (ou lá como se chama), quero dizer o seguinte: as informações que julgam ter sobre os testes usados nos bancos de sangue estão erradas. havia um período de meses de 'silêncio serológico' há uns anos, porque os testes usados pesquisavam anticorpos e o organismo humano leva tempo a produzir anticorpos para o hiv em número suficiente para serem detectáveis pelos testes que eam usados (elisa e western blot).
actualmente, segundo informações dadas pelo anterior presidente do instituto português do sangue em janeiro de 2006 ao dn, os testes usados, os TAN, têm uma fiabilidade muito mais elevada porque pesquisam o próprio vírus e o período de janela (aquele em que o teste dá negativo mesmo quando a pessoa está infectada) foi reduzido para cerca de uma semana no caso do hiv.
esta informação não é do conhecimento geral, claro, e percebo que a tina e o penafirmense não a detenham. percebo pior que, sendo claramente pessoas mal informadas sobre estas questões, se achem em condições de chamar ignorantes aos outros depois de fazerem uma pesquisa no google.'
não sou imuno-hemoterapeuta nem epidemiologista nem tenho qualquer formação científica. já fiz, porém, vários trabalhos jornalísticos sobre segurança transfusional, e não apenas a propósito dos critérios de selecção de dadores, pelo que detenho alguma informação sobre a matéria. não caí nesta discussão de pára-quedas e com vontade de encontrar argumentos técnicos para consubstanciar as minhas ideias apriorísticas. lamento que tanta gente se funde na sua própria atitude em relação a esta matéria (e tantas outras) para avaliar as dos outros.
adenda: a informação dada pelo presidente do ips (então almeida gonçalves, hoje gabriel olim) a que faço referência foi prestada a mim, comojornalista do dn, e publicada no início de 2006 com o título 'os homossexuais já podem dar sangue'.
|| f., 16:26
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e o jcd tambem quer ter direito ao mesmo que o joão miranda, e longe de mim discriminá-lo
o
jcd veio em socorro do
joão miranda (é lindo, lá isso não se pode negar), com passagem pelo site do centre for disease control. eu adoro inglês e all things anglófonas, como toda a gente já deve ter reparado, mas achei um bocadinho estranho que o jcd fosse recorrer a estatísticas americanas quando existem as portuguesas e quando estamos a discutir a exclusão dos dadores em portugal.
mas a questão é sempre a mesma. o que o jcd está a defender é um critério estatístico. de acordo com as estatísticas do cdc, há mais transmissão de hiv/sida em contactos sexuais entre homens que têm sexo com homens que em contactos heterossexuais. logo, excluem-se os homossexuais masculinos, independentemente dos seus comportamentos de risco, estabelecendo uma equivalência entre ser homossexual masculino e ter comportamentos de risco.
há várias coisas complicadas (para dizer o menos) neste raciocínio, que julgava já ter explicado
post abaixo. mas ou o jcd não leu com atenção ou sou eu que sou uma trapalhona a explicar-me. mas não tem de tomar a minha palavra como verdade, jcd. pode por exemplo investigar o que diz sobre esta matéria o actual coordenador da luta contra a sida em portugal, o epidemiologista henrique de barros, que já várias vezes opinou sobre o critério de exclusão da dádiva de sangue dos homens que têm sexo com homens.
ou pode fazer mais simples: consultar o site do centro de vigilância epidemiológica de doenças transmissíveis, dirigido pela epidemiologista teresa paixão, que tem os dados epidemiológicos relativos a portugal, e constatar o que se passa com a evolução da epidemia.
é que, jcd, os números que encontrou no cdc não só dizem respeito aos eua como, parece-me, têm um problema grave de apreciação: são números acumulados. quer isto dizer que o que está ali plasmado são os números globais desde o início da epidemia nos eua. a análise efectuada assim tem um efeito de distorção óbvio. se no início da epidemia houve uma grande quantidade de homens que tinham sexo com homens cuja infecção foi diagnosticada (e cuja infecção evoluiu para doença e morte), é natural que os números acumulados exibam uma maior quantidade de infecções por essa, chamemos-lhe assim, via. é também natural que, devido a esse facto histórico, os homens que têm sexo com homens estejam mais atentos ao seu estatuto serológico e portanto tomem mais facilmente a iniciativa de fazer o teste.
por outro lado, em portugal, o que os números dão a ver é um total acumulado de infecções e de doentes de sida em que a maioria, em termos de via de transmissão, pertence ainda aos utilizadores de drogas pior via endovenosa. mas a evolução recente da epidemia demonstra que a categoria de transmissão preponderante neste momento, em termos de diagnósticos/estimativas, é o contacto sexual entre homens e mulheres. mais: se o número de homens infectados/doentes é, nos números acumulados desde os anos 80, superior ao número de mulheres, a tendência é de de aumento no número de mulheres diagnosticadas. não só por causa da razão aduzida anteriormente mas porque as mulheres são mais facilmente infectadas que os homens (numa relação sexual não protegida entre um homem e uma mulher, um homem infectad infecta mais facilmente uma mulher não infectada que o contrário).
nada disto tem a ver com correcção política, jcd, mas apenas com interpretação correcta e não preconceituosa de números e de factos. e com uma coisa ainda mais importante: a defesa da segurança transfusional. e, mais importante ainda, a consciencialização do que efectivamente constitui risco em termos de infecção de hiv.
|| f., 12:42
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o direito do joão miranda à ignorância e ao disparate
o joão miranda é um portento de análise e reflexão. ele é tabaco, ele é ópera, ele é isto e aquilo e aqueloutro, e agora, também, segurança transfusional. vem
esta preocupação nova do joão miranda a propósito do protesto de grupos anti-homofobia contra o facto de haver pessoas em portugal impedidas de dar sangue apenas por serem -- na verdade, por dizerem ser -- homossexuais.
o joão miranda começa por dizer o óbvio: não é um direito dar sangue. é um óptimo ponto de partida, até porque nunca ouvi ninguém dizer que dar sangue é um direito. o direito que está em causa no protesto, e eu explico, joão, já que lhe escapou a ideia, é o direito de não ser discriminado com base na orientação sexual.
mas o joão miranda acha que excluir homossexuais é "tão discriminatório como excluir toxicodependentes". portanto o joão acha que há discriminação, mas que se justifica. é um racíocinio de uma firmeza extraordinária, que o joão miranda se esquece de consubstanciar.
aliás, o joão miranda acha que "a comunidade homossexual" pode ser "um grupo de risco", porque "a história recente dá razão a quem defende a exclusão de homossexuais do grupo de dadores".
o joão miranda está obviamente a falar da descoberta da sida como doença, que ocorreu no início dos anos 80. a sida, cujo vírus foi identificado, salvo erro, em 1983 ou 84, foi diagnosticada pela primeira vez em homossexuais masculinos e em hemofílicos. começou por ser considerada uma doença ligada a estes dois 'grupos'. nasceu aí a noção de grupo de risco, que viria a incluir trabalhadores do sexo e utilizadores de drogas por via endovenosa (esta é a denominação correcta, e não toxicodependente, já que se pode ser dependente de heroína, por exemplo, e nunca ter tocado numa agulha, o que implica, em termos de perigo transfusional, zero).
a noção de grupo de risco foi abandonada há cerca de dez anos pela comunidade científica, sendo considerada, retrospectivamente, um dos factores que contribuiu para a maioria das pessoas não tomasse qualquer precaução para evitar o contágio com o hiv. esta ausência de preocupações das pessoas que se crêem 'normais' com o contágio levou a que em todo o mundo, e nomeadamente em portugal, a infecção por hiv 'por via heterossexual', decorrente de contactos sexuais não protegidos entre homens e mulheres, esteja a aumentar muitíssimo. esta tendência é notória desde meados dos anos noventa.
a noção de grupo de risco, além do seu óbvio problema comunicacional, tem um problema técnico de base: é o comportamento ou a circunstância de risco (circunstância, por exemplo, no caso dos transfusionados ou dos que estiveram recentemente em África, por exemplo) que importa e não as características da pessoa. um trabalhador sexual que use sempre preservativo e que garanta que nunca teve um acidente (um rompimento de preservativo) pode ser, objectivamente, um dador de sangue mais seguro que uma dona de casa que só teve um único parceiro sexual a vida toda, parceiro sexual esse com quem tem sexo não protegido e que, por sua vez, tem sexo não protegido com outras pessoas, homens ou mulheres, sem a informar disso.
tudo isto dito, a questão fundamental está ainda por dirimir. e a questão fundamental é saber por que motivo um homossexual masculino, ou melhor, um homem que faz sexo com homens (é essa a expressão que era usualmente empregue nos critérios de exclusão de dadores) poderia ser encarado, à partida, como um risco transfusional. já li até sobre este mesmo assunto alguém que fazia uma identificação entre homossexualidade masculina e comportamento de risco -- assim, sem mais nem menos.
pedindo desculpa por ter de entrar em certos pormenores, chamo a atenção para o facto de não haver nada que um homem faça com um homem na cama -- e estão em causa, sobretudo, pelo risco de lesão propiciador de transmissão vírica, as chamadas 'relações insertivas', e quanto mais propiciadoras de lesões, mais arriscadas -- que um homem não possa fazer com uma mulher. se o joão miranda se lembrar de alguma coisa, diga. eu confesso a minha ignorância.
os homossexuais masculinos têm relações anais? os homens e as mulheres também. portanto, se o problema da segurança transfusional é o sexo anal, então a pergunta no questionário a que o dador tem de responder talvez deva ser sobre o sexo anal.
mas a questão, é claro, não passa por aí. tem a ver com uma ideia: a ideia de que os homossexuais masculinos são promíscuos, que têm múltiplos parceiros e só pensam em sexo. é essa a ideia que subjaz à sua exclusão -- uma ideia que, pelos vistos, decreta que os heterossexuais nunca ouviram falar de promiscuidade, de múltiplos parceiros e, decerto, não pensam em sexo.
esta ideia sobre os homossexuais masculinos foi formatada a partir de muitos factores. as histórias das saunas e dos back rooms, desde logo, e o facto de a epidemia da sida ter sido identificada a partir de homossexuais masculinos. mas, sobretudo, o facto de só se falar de homossexuais masculinos (e femininas) a propósito da sua sexualidade. isto parece uma asserção evidente, mas está longe de o ser.
os homossexuais só são objecto de notícia a propósito da sua sexualidade. mesmo quando o homossexual em causa é, por exemplo, presidente da câmara, é o facto de ele ser homossexual que é o centro da notícia.
se o homossexual é alguém cujo elemento definidor fundamental é a sua sexualidade, ele deve ser um ser eminentemente sexual. um ser que vive para o sexo.
imagine o joão miranda que um homem chega ao banco de sangue e quando lhe perguntam se tem sexo com homens responde que sim. agora imagine que lhe perguntam, a seguir, com quantos homens teve sexo nos últimos dez anos. e ele diz: um. e acrescenta que usa sempre preservativo.
por que carga de água representa este homem um risco transfusional elevado, ou proporcionalmente mais elevado que a maria, de 35 anos, que é casada há cinco e de vez em quando dorme com uns namorados e nem sempre usa preservativo?
razão nenhuma, claro. é aliás por isso que o instituto português de sangue retirou, em finais de 2005, a exclusão dos homens que fazem sexo com homens da sua lista de directivas. e é por isso que já há, em portugal, bancos de sangue onde os critérios técnicos levaram a melhor sobre os preconceitos, e se aceita sangue de homens que fazem sexo com homens. é por isso que a food and drug administration dos eua já anunciou estar a rever essa exclusão, e é por isso que as directivas europeias de segurança transfusional, que portugal em parte já adoptou, não focam características dos dadores mas comportamentos e, como já expliquei, circunstâncias comportamentais (transfusão, viagem a países onde há elevado risco de paludismo). é por isso que a exclusão da dádiva dos homens que fazem sexo com homens será, dentro de algum tempo, vista por quase toda a gente como aquilo que é: uma discriminação infundamentada, com um único elemento constitutivo. a homofobia, claro. que é outro nome que se pode dar à ignorância e à má fé.
adenda. ler, a propósito:
o adolfo mesquita nunes na arte da fuga;
a caixa de comentários do metablog;
o vasco m. barreto.
|| f., 01:04
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terça-feira, maio 15
Judicialização da política? Ná!
O candidato do PSD a Lisboa, Fernando Negrão, foi em tempos director da PJ. O novo MAI foi em tempos director do SIS. O candidato do PS à Câmara de Lisboa era agora MAI e já tinha sido da ministro da Justiça.
|| JPH, 22:55
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mais do glorioso mail
é o manuel tavares (isto está a ficar com habitués):
"Consta,
consta que até os cegos e surdos viram e escutaram "jornalismo de sarjeta" nos noticiários, reportagens e comentários expelidos em língua nacional e estrangeira sobre o desaparecimento da criança inglesa no Algarve - mas ai de quem disser tal em voz alta, que logo teremos os habituais donos exclusivos da verdade, os usuais verdadeiros intérpretes da liberdade e da democracia, mais os costumeiros e únicos garantes do direito de expressão, a gritar: eis a censura, que desgraça a deste país a caminho de sítio sem ar e sem sol, porque sem direitos direitos, liberdades e garantias...
Grito onde, para não variar, não entram a sensatez, o equilíbrio, a nudez dos factos, o rigor e competência das análises e comentários, o respeito devido a leitores, ouvintes e telespectadores...
- um Manuel Tavares agradecido pelos jornais que não gasta e pela rádio e televisão que não consome - porque não dá para peditório em "reprise" desde há nove dias ..."
|| f., 21:07
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fala-se de tabaco, zangam-se os compadres
agora (quer dizer, há uns dias, mas só dei por isso agora)
é o daniel. esta discussão tem o condão de me pôr de candeias às avessas com habituais companheiros de luta (eheh, adoro esta expressão).
o daniel tem razão em alguns pontos: a lei proposta corre o risco de ser demasiado draconiana/paternalista. concedo, embora considere que, ao contrário do que daniel prevê, nas prisões será, evidentemente, criado um espaço para fumadores -- as direcções prisionais não estão decerto interessadas em mais um motivo para problemas. Em relação aos lares: acho que a maioria dos lares deve ter um espaço exterior onde os idosos possam fumar, sendo que na maioria dos lares os idosos não estão propriamente presos. percebo a proibição de fumar nas instalações porque creio que o estatuto dos lares é semelhante ao de um hospital. creio que deve haver a possibilidade de criação de salas de fumo em empresas, claro. se deve ser obrigatória? francamente, não me parece.
quanto aos estabelecimentos de diversão, o problema, como o daniel está farto de saber, é bicudo. por um motivo: dado o hábito enraizado, se for dada a hipótese de escolha, todos os proprietários instituirão a possibilidade de fumar. e assim, não haverá estabelecimentos de diversão para não fumadores. presumo que o daniel, fumador, viva bem com isso. eu, não fumadora, vivi com isso nos últimos vinte e tal anos -- nos estabelecimentos de diversão nocturna e em todo o lado. se o daniel quer saber, embora suspeite que ele nãio quer, gostava de poder sair à noite sem chegar a casa imersa numa nuvem pestilenta de fumo. e gostava que os meus amigos que por motivos de saúde não suportam fumo de tabaco pudessem, de vez em quando, sair comigo.
a hipótese, aventada por alguém na net (perdoem não me lembrar quem) de haver um número limitado de licenças de fumo por munícipio, a leiloar por quem der mais, não me parece mal.
quanto ao facto, citado pelo daniel, de a multa para quem fuma em local público ser superior à imposta a quem conduz sob o efeito do álcool, não me parece inteiramente correcto: é que quem conduz sob o efeito do álcool pode sofrer inibição de conduzir e/ou ser criminalizado. não é comparável, creio.
o daniel (que ao longo do post tanto me trata por tu como por você, numa aproximação/distanciamento de curioso simbolismo) não tem é razão nenhuma quando diz que a lei tem sido criticada por ser desequilibrada. de um modo geral, daniel, a lei tem sido criticada porque impõe restrições ao fumar do tabaco. sobretudo por isso, e recorrendo, as mais das vezes, a argumentos ridículos.
como não tem razão quando me diz que dispensa a compaixão que manifestei pelos que têm o vício de fumar. não, daniel: o ponto é que tu, como todos os fumadores, contaram e continuam a contar com
a minha compaixão, como com a minha resignação. a que outra coisa senão à minha compaixão recorreste tu e todos os que fumam quando me perguntam, a mim e a todos os que não fumam (quando perguntam), se vos damos licença para fumar para cima de nós? a única situação em que a minha opinião sobre a tua opção não te deve interessar é quando não me estás a impor o teu fumo. a não ser que estejas a defender o totalitarismo. não estás, pois não, daniel?
ah, daniel, e continuo de acordo contigo em milhares de coisas e a prezar a tua opinião e até, inclusivamente, disponível para que, como de costume, me fumes para cima. quero é que doravante percebas que não é um direito que tens. é um direito que eu tenho, o de o permitir.
|| f., 13:58
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e os deuses não se levantam, 2
a paula sousa nunes sobre a morte de dua khalil aswad, em mail para o glória:
'Como podem os deuses levantar-se quando são os homens, que os criaram, que lhes apedrejam as filhas até à morte?
Uma barbaridade, descrita em três ou quatro linhas de horror, e remetida para uma página secundária, empurrada pela sofreguidão e perversidade mediática que rodeia o desaparecimento de uma criança inglesa de férias. A morte por lapidação, para além da sua intolerável e incompreensível crueldade, é uma persistência paleolítica que nos devolve ainda mais atrás, à mais absoluta negação da nossa humanidade. Uma rapariga de 17 anos que é assassinada desta forma abominável pelos familiares, vizinhos, conterrâneos, em nome dos costumes e das convicções de uma comunidade, não é um crime longínquo, remetido ao atraso cultural ou ao caos da guerra. É uma violação colectiva. Quando li a notícia, cada palavra era uma pedrada. Por mim, pelos meus dezassete anos, pelos dezassete anos das minhas filhas, das primas e das amigas, das tias e das avós. Uma saraivada de pedras a todas nós, que temos a sorte de apenas sermos ridículas e tontas, histérias às vezes, e os nossos homens serem tão tolerantes e compadecidos com esta nossa atávica leviandade. Ser mulher no ocidente é um deslize, uma limitação. Ser mulher, noutras partes, é um crime punido com a morte mais atroz.
Que sina.'
|| f., 12:34
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irritações
este computador não põe acentos nos títulos dos posts;
na parede do prédio onde vivo, pintado em 2003 (e estava lindo), umas bestas quaisquer picharam 'morte aos pretos';
passei ontem uma hora ao telefone com a tv cabo para desistir de uma porcaria de um canal;
tenho um joelho como já não tinha desde o tempo da quarta classe porque lisboa é uma cidade mortal para quem anda a pé e de saltos em particular;
a epal está a fazer não sei o quê na minha rua e a água vem às golfadas;
estou capaz de estrangular os jornalistas que estão a fazer a 'cobertura' do caso madeleine, mais, e especialmente, os 'especialistas' que peroram sobre o dito na tv, a começar por um tal de barra da costa.
e pronto, de resto até ando benzinho.
|| f., 12:13
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e os deuses não se levantam
hoje andei à procura do vídeo da morte dela, na net. nunca tinha procurado uma coisa assim. nunca procurei os vídeos das execuções da al qaeda. não procurei o vídeo da morte de saddam -- embora o tenha visto, na tv. nunca tive sequer a ideia de fazer isso, de procurar um vídeo assim.
não o encontrei. na verdade, não sei se queria mesmo encontrá-lo. das duas ou três vezes que abri um site e fiz download do vídeo que dizia 'death by stoning of 17 year old iraqi girl' ou 'horrifying video' ou 'dua khalil aswad death' fi-lo com pavor. o pavor de quem não sabe se vai aguentar ver e o pavor, muito mais pavor, de quem receia aguentar bem de mais.
de todas as vezes, o vídeo não estava lá. foi retirado. foi retirado do you tube e de mais uma série de sítios. vai voltar sempre, claro. é uma espécie particular de snuff movie. há quem aprecie snuff movies. mas esse não é o ponto. o ponto era o porquê da minha busca.
podia dizer que tinha de ver para acreditar que uma rapariga de 17 anos pode ser lapidada hoje, no século xxi. mas eu acredito. já sabia que estas coisas acontecem. com pedras, com gasolina, com o que vier à mão, e pela mão daqueles em quem estas raparigas e mulheres mais confiam: os irmãos, os pais, os tios.
não, não é isso.
quando vi na tv aquelas imagens rápidas, indistintas, dos filmes de telemóvel, esses filmes instantâneos de todas as atrocidades que agora se servem fresquinhos na net, quis vê-la. ela não se via, ali, e eu quis vê-la. quis dar um rosto e uma dor a este nome, dua khalil aswad. quis gravá-la na minha memória, a rapariga curda de nome arrevezado. reconhecê-la como quem reconhece um corpo na morgue -- porque tem de ser, porque é, de algum modo, uma forma de respeito.
quis estar ali, uns segundos, um minuto, até aguentar. como testemunha. como irmã.
quis chorar por ela, quis ter raiva por ela, quis odiar por ela.
não há mais nada.
|| f., 02:27
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quarta-feira, maio 9
e mais tabaco, mais, mais
o tiago mendes, que é uma espécie de alter ego meu nesta cena do tabaco, mas para melhor -- mais fundamentado, mais estruturado e com aquela cena toda económico-liberal na ponta da língua, coisa que eu, naturalmente, não m'alembra,tem uma adenda ao seu magnífico e faustosamente comentado
post no cinco dias.
aqui vai.
O fumo dos outros (III) – por Tiago MendesComo fui
pouco claro e, sem dúvida, prolixo de uma forma que se oferece a interpretações dúbias, aqui fica um sumário da minha posição sobre a atribuição de direitos a fumadores, não fumadores e proprietários de um estabelecimento comercial (EC). Três ideias importantes, primeiro.
(1) A lei proposta pelo governo socialista – sem grande surpresa, dado a inclinação política de quem a fez –, sofre de um paternalismo e mesmo de algum higienismo, que são absolutamente condenáveis. Insurjo-me contra isso com unhas e dentes. Contudo, sou capaz de, criticando o “espírito da lei”, comentar as medidas propostas de forma tão independente quanto possível (mas sem deixar de dar a devida importância às intenções do legislador, mais ainda tendo em conta que tal espírito – higiénico e paternalista – pode dar origem a coisas mais graves);
(2) Eu não me preocupo com a vida privada de cada um, mas sim com a atribuição (que considero) justa de direitos de propriedade do ar partilhado em diferentes espaços. Esta preocupação requer, quanto a mim, duas coisas: predisposição a encontrar soluções de compromisso, dado o conflito em questão; atenção ao passado, isto é, ao que temos vivido até hoje;
(3) É inegável que, até hoje, o que tivémos, na prática, foi um “default” em que é permitido fumar, ou seja, existiu, até hoje (ou até um tempo recente) uma atribuição de direitos de propriedade do ar partilhado aos fumadores. Porquê? Porque onde não era explicitamente proibido fumar, era permitido fumar. A ideia liberal de proteger a esfera dos indivíduos do fumo passivo não era relevante.
Um exemplo não assim tão descabido: a liberdade de um indivíduo andar nu num espaço público. Note-se como o “default” é o contrário: é proibido um indivíduo despir-se, a não ser onde isso seja permitido: em praias de nudistas, clubes privados que permitam a nudez, balneários, etc. Porque é que um tipo despir-se em público não é reconhecido como um “direito negativo” legítimo? Porque, dirão alguns, apesar de “só olhar quem quer” – quer na rua, quer num estabelecimento privado –, é uma coisa “que incomoda os outros”. Se isto é mais ou menos óbvio para muitos, não é assim tão óbvio que o fumo, por definição, tem um potencial grande de incómodo sobre os outros. Será que devia deixar de ser proibido andar nu nos cafés e restaurantes, cabendo essa escolha a cada proprietário? Não vale responder que isso é “um exemplo irrelevante”. Quem discute ideias tem de conseguir responder a exemplos hipotéticos.
A única justificação que eu encontro para limitar a liberdade de escolha dos proprietários tem que ver com o “carácter” do estabelecimento em causa. Quando se abre um estabelecimento comercial (EC) que está aberto a todos, oferece-se um serviço a indivíduos, é certo, mas muitas vezes (nem sempre), também à “comunidade de indivíduos”. Uma farmácia, uma padaria, uma mercearia, um supermercado – tudo isso são exemplos de serviços que são essenciais (nos dias de hoje, e não há nada de imutável ou estanque) a uma comunidade de pessoas. Não têm o mesmo carácter que bares, restaurantes de luxo, discotecas, clubes de bridge, casas de prostituição.
Dividiria, um pouco arbitrariamente, é certo, mas isto é, mais que tudo, um convite à discussão, não uma “proposta final”, os EC em três tipos:
Tipo 1: estabelecimentos onde o consumo é rápido *e* não eminentemente social *e* que não têm acesso restrito;
Tipo 2: estabelecimentos onde o consumo é demorado *ou* eminentemente social *e* que não têm acesso restrito.
Tipo 3: estabelecimentos onde o acesso é restrito.
Exemplos do Tipo 1: cafés, pastelarias, tascas e restaurantes durante o dia;
Exemplos do Tipo 2: cafés, tascas e restaurantes durante a noite; bares, discotecas e demais estabelecimentos de “diversão nocturna”.
Ou seja, acabei de acrescentar uma ideia que tinha em mente, mas que não incluí no meu post original: a (possibilidade de) distinção, para o mesmo estabelecimento, do “carácter” do serviço oferecido consoante o contexto; nomeadamente, consoante o horário de consumo.
As minhas propostas são as seguintes:
Longo prazo (situação desejável, para a qual se deve evoluir)
1. Nos EC de acesso restrito, isto é, de Tipo 3 – clubes privados, zonas privadas de EC públicos, associações, etc –, deve haver TOTAL liberdade de escolha dos proprietários quanto ao que se passa lá dentro, incluindo a política de fumo;
2. Nos EC de acesso público, de Tipo 2 – cafés e restaurantes durante a noite; bares, discotecas e demais estabelecimentos de “diversão nocturna” –, deve haver TOTAL liberdade de escolha dos proprietários quanto à política de fumo da casa, com uma pequena EXCEPÇÃO: os espaços “suficientemente grandes”, onde seja possível haver uma zona de não-fumadores, devem ter uma área mínima, digamos que de 20-25%, para não fumadores. Não tem de haver uma área mínima para fumadores, porque o dono tem o direito a ter uma casa totalmente livre de fumo. Contudo, se – e apenas se – o seu estabelecimento for suficientemente grande *e* for possível criar uma zona eficaz de separação de fumo, deve haver uma pequena restrição, favorável aos fumadores.
3. Nos EC de acesso público, de Tipo 1 – cafés, pastelarias e restaurantes durante o dia –, deve ser PROIBIDO fumar. A lógica (para quem esteja minimamente disposto a tentar entendê-la...) é semelhante à proibição de fumar noutros sítios relativamente “comunitários” e que prestam serviços mais ou menos “essenciais” e não eminentemente corporizantes de um desejo de "sociabilidade" - supermercados, padarias, farmácias. Quem lancha ou toma o pequeno-almoço, ou um almoço volante, não poderá fumar no estabelecimento. Noto que é possível que, no mesmo estabelecimento, não seja possível fumar durante o dia (digamos que até às 7h-8h), sendo permitido (ao dono) escolher a política de fumo durante a noite. Alternativamente, poderíamos pensar em atribuir licenças para poder permitir o fumo, garantindo a existência, mesmo durante a noite, de um mínimo de EC livres de fumo numa certa zona geográfica – e apenas, repito, pela ideia, que assumo seja irrelevante para muitos liberais, destes espaços terem, pelo menos em parte, um certo carácter de “serviço público” – de serviço não só a cada indivíduo em si, mas também à “comunidade de indivíduos”.
Na nossa sociedade, tirando alguns casos (quem tem acesso a cantinas, quem vai a casa, quem leva a sua marmita), todos precisamos de almoçar nalgum sítio durante o dia. Não existe um paralelo com o jantar e o que a ele se pode seguir. São necessidades diferentes. Aceito que haja uma distinção, num mesmo estabelecimento, entre “dia e noite” – to put it simply. Claro que qualquer classificação tem os seus problemas. Mas digam-me quantos são os estabelecimentos que funcionam apenas durante o dia, e para satisfazer necessidades não tão “sociais” quanto isso, mas primordialmente alimentares. Imensos.. Há uma diferença abissal para os estabelecimentos que funcionam durante a noite, e que satisfazem necessidades eminentemente “sociais”. O meu único ponto é que, apesar de serem propriedade privada, grande parte (não necessariamente todos) os estabelecimentos que oferecem services durante o dia, não eminentemente ligados a um desejo de “sociabilidade”, adquirem um cáracter peculiar, que justifica que sejam impostas algumas restrições. A necessidade de lanchar, almoçar ou tomar um café durante o dia é bem diversa do desejo de ir jantar fora social ou intimamente. Os estabelecimentos de Tipo 1 encontram-se mais próximos dos supermercados e padarias, em termos da sua “natureza”, no contexto de uma comunidade, que dos restaurantes onde se vai jantar social ou intimamente, bares e discotecas.
Hoje
1. Exactamente o mesmo.
2. / 3. Considero aceitável que existam restrições um pouco mais fortes que as propostas, de modo temporário, e apenas como forma de contrabalançar o que é uma situação história de clara assimetria a favor dos fumadores. Não se trata de querer “moldar” a sociedade, mas sim de proporcionar, de forma coerciva mas ponderada, uma vivência diferente, para que no futuro as pessoas possam, de facto, ter uma liberdade de escolha efectiva maior, porque mais informada, porque baseada numa vivência diferente.
Claro que para muitos liberais isto é inaceitável, porque só olham a liberdades negativas e formais *e/ou* porque consideram a propriedade privada uma coisa absoluta e, ainda, porque têm receio – e aí estamos em sintonia – de que possa haver uma deriva estatista de “experimentar” A ou B. O meu ponto não é experimentar – por experimentar –, nem sequer moldar a sociedade de modo X ou Y. A minha única preocupação, como já disse, é encontrar, no longo prazo, uma situação (mais) justa e equilibrada. Ora, tendo em conta os hábitos, costumes e valores enraizados na nossa sociedade, nos dias que correm – e no que ao fumo diz respeito –, julgo que só podemos encontrar uma solução (mais) justa e equilibrada se compensarmos, em parte, e com precaução, uma desigualdade histórica incontornável: a tal liberdade de fumar onde quer que não fosse explicitamente proibido.
Como escrevi no outro post, relembro que, há uns anos atrás, muito dos fumadores que hoje falam de modo civilizado sobre o “fumo passive” não o faziam. E quem não se lembra da oposição à proibição de fumar nas estaões de metro, espaços não privados fechados? Ou do fumo a bordo dos aviões? Enfim, o meu ponto também é que, numa discussão que desperta tantas paixões, e que envolve hábitos tão enraizados, há, quase inevitavelmente, uma certa cegueira da parte de quem está prestes a perder direitos adquiridos. Estranho seria se isso não se desse.
Nada disto, repito, significa que eu subscreva o “espírito da lei”, que é inaceitavelmente paternalista e higienista.
O que também é claro é que eu não considero a propriedade privada de um establecimento de acesso público necessariamente uma fonte de direitos absolutos sobre o que se passa nesse estabelecimento. Uma coisa é um estabelecimento privado de acesso restrito, outra coisa é um estabelecimento privado de acesso público, nos quais se incluem alguns – apenas alguns – que providenciam serviços que, não obstante serem resultantes de trocas livres entre indivíduos, de iniciativa privada de oferecer e comprar um produto ou serviço, prestam, também, sobre uma certa perspectiva, um serviço à “comunidade de indivíduos”. Não tenho qualquer problema em dizer isto, porque, sendo liberal, não tenho uma visão atomicista, ultra-individualista da sociedade.
Como escreve
Rui Tavares:
"O liberalismo clássico valoriza a propriedade privada precisamente porque ela é relativa, e que entre a propriedade e a justiça escolhem a justiça. Podem considerar — como você — que a justiça emerge de em regra se respeitar a propriedade privada, mas isso não quer dizer que ela seja absoluta. Quer apenas dizer, como diziam os romanos, que a propriedade é o jus utendi et abutendi res sua quateus juris ratio patitur. Ou seja, o direito de usar e abusar de uma coisa sua, sim, mas enquanto a razão do direito o permita. (...) a razão do direito não me permite que eu, enquanto proprietário de um espaço público, não deixe lá entrar pretos. Não é justo, e a lei deve restringir o direito de propriedade nesse caso. O que não poderia acontecer se toda a propriedade fosse absoluta e todo o tipo de propriedade fosse igual (uma loja minha não é como a minha casa, onde eu posso efectivamente não deixar entrar sócios do sacavenense ou coxos, nem que seja apenas por capricho)."
Quanto ao comentário do
João Miranda, faz-me pensar que one laugh a day keeps the doctor away. As caricaturas que o João Miranda faz de quem quer que se afaste, um milímetro que seja, da sua concepção de liberalismo, são sempre uma excelente caricatura do
João Miranda. Um bálsamo para os seus fiéis leitores. Obrigado, João Miranda. Continue sempre.
|| f., 18:20
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terça-feira, maio 8
Não por causa disso. Cumprirei alegremente as leis da República. Religiosamente.
|| JPH, 21:34
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wild words, 2: scarlet thoughts
pronto, tá bem: em especial para os leitores do glória que não dominam o dialecto da albion, aqui vai
scarlet:
noun:
A strong to vivid red or reddish orange.
Scarlet-colored clothing or cloth.
adjective:
Of a strong to vivid red or reddish orange.
Flagrantly immoral or unchaste: scarlet thoughts
|| f., 21:03
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mais inglês -- muito técnico
|| f., 20:54
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efectivamente
|| f., 20:45
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e a guerra chegou finalmente ao glória
pois, parece então que somos todos assassinos. mas os que defendem a nova lei do tabaco são piores, porque são assassinos hipócritas, daqueles de mãos ostensivamente limpas. não há dúvida de que esta discussão estimula a inteligência e o bom gosto.
então, jph, quando se decidiu que os sítios que referes -- restaurantes, bares e discotecas, mais as salas de aula, as salas de espera e todas as salas em geral --, eram para fumadores, que deveria eu, não fumadora e não consultada sobre a decisão, fazer? greve às aulas? greve aos restaurantes, aos bares e às discotecas? greve às pessoas?
e quando faço jantares e festas em minha casa, deveria fazer saber aos meus amigos que não podem fumar, ou que se quiserem fumar terão de ir a casa de outra pessoa?
há naquilo que dizes e na forma como o dizes uma essencial incapacidade de perceber que durante décadas -- presumo que fumes há umas boas duas décadas, não? -- dependeste da gentileza de estranhos e de não estranhos para fazer isso que queres tanto continuar a fazer e que é, do meu ponto de vista, um direito teu, desde que não imposto aos outros: fumar. e que nunca, pelos vistos, paraste para pensar que foi exactamente por serem teus amigos que os teus amigos que não fumam aguentaram o teu fumar. é um sacrifício que claramente tu não farias por eles. acabaste aliás de o anunciar: se não te deixarem fumar, não frequentarás sítios públicos para conviver com os teus amigos. eles se quiserem que vão conviver contigo, na tua casa, com o teu fumo. bravo. e a intolerância é toda minha, claro.
|| f., 19:45
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Chegou o Verão, camandro!
|| JPH, 18:47
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Faço minhas as
palavras deste orador.
|| JPH, 16:46
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Sou uma boa dona de casa. Cada vez que me divorcio, fico com a casa.[Zsa Zsa Gabor]
|| JPH, 16:35
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Madeleine
Parece que há algum escândalo com a enorme quantidade de polícias que o Estado português colocou na procura da menina Madeleine. Sim, porque é inglesa, porque se fosse do Burkina Faso não se via nada disto, etc, etc. Têm toda a razão: devíamos tratar toda a gente igualmente mal.
|| JPH, 15:40
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Tabagismo
Absolutamente nas tintas para a discussão em curso - é onde me encontro, sou fumador e tenciono continuar a sê-lo. Os argumentos higienistas são imbatíveis, não vale a pena contra-argumentar. Sou um assassino, já o era por defender a despenalização do aborto, começo a habituar-me.
Fiquem-se lá então com o vosso
mens sana in corpore sano e pá-tá-ti pá-tá-tá. Parece, segundo a Wikipedia, que era a frase favorita do sr.
Harry S. Truman, Presidente dos EUA entre 45 e 53 - e que, se fosse vivo, celebraria hoje (precisamente hoje) 122 aninhos. Um bom homem, reza a lenda, e mesmo as bombas de Hiroshima e Nagasaki foram lançadas com as melhores das intenções (já o
mens sana in corpore sano aí...enfim...adiante...um dia não são dias).
Desculpem-me o devaneio. Sou, no fundo, um rapaz obediente, No dia em que me proibirem de fumar nos restaurantes ou bares ou discotecas deixarei de os frequentar. Perdem um cliente, é lá com eles. Há imenso espaço na minha cozinha para todos os meus amigos, eles sabem-no bem. Sabem também que nenhum não-fumador é obrigado a frequentá-la.
|| JPH, 14:54
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not all, but somethings about laura (and me)
elogiei a laura e a
a laura reagiu.
com um bocadinho de modéstia a mais -- que por acaso, na minha imodesta opinião, não lhe vai bem ao parecer, tanto quanto me parece -- e invocando uma ideia de que eu, ou o facto de a ter elogiado, seria a refutação: a de que as mulheres são incapazes de reconhecer qualidades umas às outras. se eu quisesse ser mesmo muito provocadora e evidenciar as tais trincheiras ou pelo menos o ameaço delas (e deixar os insurgentes a espumar ou às golfadas de perdigotos raivosos ou lá o que é que, coitados, lhes ocorre quando se cruzam com uma palavra minha), começaria por dizer que esta ideia tem o seu quê de homofóbica. mas eu não quero. pelo que me limitarei a dizer que é uma ideia que sempre me deixou perplexa. sabe porquê, laura? porque eu gosto de mulheres. e gosto tanto mais quanto melhores -- mais inteligentes, mais interessantes, mais divertidas, mais engraçadas, mais sedutoras, mais atraentes, em suma -- forem. tal qual como com os homens. tal qual.
nos blogues, gosto de quem escreve bem. se escrever coisas com as quais concordo, melhor. se não, paciência. não faço questão de concordar com toda a gente (nota-se, certo?). na verdade, gosto da discordância. de paixões, incluindo as contrárias.
se o meu elogio a surpreendeu, foi porque a laura se surpreende por ser elogiada, ou porque jamais esperou que eu ou alguém como eu a pudesse elogiar/apreciar? e, a ser assim, será que não é a inversa que é verdadeira?
e não era mesmo para agradecer.
|| f., 00:15
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segunda-feira, maio 7
post, muito post
tenho para mim o conceito (e em grande parte a esperança) de que
o rodrigo não sabe a diferença entre dear e darling. é a única novidade. o resto já sabíamos. e não pré, mas post. vários.
(ah, e lamento imenso esse problema dos perdigotos, rodrigo. estimo as melhoras. mas, se não dissesse, a gente não reparava)
|| f., 23:44
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até tu, miguel. apre
agora sou 'anti-tabágica', e logo por intermédio de uma das minhas confessas almas gémeas,
o miguel. miguel, miguel: sou tanto anti-tabágica, querida ou não, como os meus amigos que fumam e insistem em fumar-me para cima são anti-eu. um bocadinho de cuidado com as palavras, por favor. é o mínimo a esperar dos avatares do politicamente correcto blogosférico, ou lá o que é que somos supostos ser.
é um pouco como dizer que, lá porque defendo que as substâncias a que se dá ainda hoje o nome de 'drogas' e cuja venda e compra e consumos são proibidos deveriam ser de comércio legalizado e regulamentado, sou 'pró-heroína'. ou... enfim, tu sabes.
|| f., 19:23
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pergunto eu
o daniel cita um relatório da organização israelita B'Tselem sobre as práticas ilegais das forças armadas israelitas sobre os presos e detidos palestinianos. daniel, a B'Tselem é uma organização corajosa, que existe há mais de uma década e faz relatórios e mais relatórios sobre esses abusos, alguns dos quais resultam em mortes, pelo menos desde o início dos anos noventa, altura em que estive em israel e falei com um dos seus dirigentes e trouxe para portugal uma catrefada de relatórios sobre o assunto. a tortura, sob variadas formas, é usada pelas forças armadas israelitas e, como dizes, são raros os casos de processo judicial, embora existam, contra torturadores. é assim, e é tenebroso. deve ser denunciado de todas as vezes de que nos lembrarmos disso. quanto à justificação, sabemos todos qual é: é guerra.
justificações
há sempre-- a questão é a de saber se são justas e aceitáveis. não era já era altura de discutirmos estas coisas como pessoas crescidas?
|| f., 13:55
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mais, mais, oh, sim, mais sobre o tabaco
o fumo dos outros (reloaded), por tiago mendes, no 5 dias, publicado aqui pela je.
|| f., 12:49
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há algum tempo que ando para dizer isto
a segunda coisa melhor dos blogues -- sendo a primeira, obviamente, o gozo que dá escrever o que nos dá na realíssima gana, quando nos dá na realíssima gana, e à vista de toda a gente -- é descobrir nomes novos para seguir. lê-se um post e depois outro e depois outro e abre-se um novo folder para aquele nome. quando o nome ainda por cima é bom -- há nomes bons, nomes óptimos e nomes assim-assim e ainda nomes que não dá para acreditar -- há um gosto redobrado. assim é com a laura -- a laura abreu cravo.
aqui,
aqui, e
aqui.
adenda: e folgo muito por o maradona, esse meu extremamente anunciado ídolo,
concordar -- a propósito, quanto medirá, ao certo, a laura?
|| f., 12:32
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sexta-feira, maio 4
perdão, caríssimo rodrigo. pensei que adorava rótulos. your mistake, then (com cumprimentos para o
paulo tunhas e inclusive para o
luciano amaral -- i'm thrilled to say).
|| f., 19:51
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mais tabaco, mais duas corridas
manuel tavares e teresa guimarães (uma veterana do glória), respectivamente:
Deixei de fumar no dia 3 de Maio de 2006.
Posso assim, graças ao meu renovado nariz, perceber o que o fumo particular provoca na vizinhança, mormente em locais relativamente fechados.
Assim como percebo,consequentemente, o propósito legislado de travar e punir o fumo nesses locais e outros.
Mas eis que a discussão deriva para inquestionáveis direitos particulares mais abusivas intromissões do Estado nas vidas privadas - e o debate inquina mais do que o tabaco, porque, cá entre nós, é forçoso reformar e imperativo mudar, depressa e bem, mas com uma condição prévia: de que tudo isso atinja os outros e nunca a nossa ilustre pessoa, pose e vidinha...
Como de costume, nós temos direitos e os outros a obrigação de nos gramarem usos e costumes, hábitos e vícios - género, estacionando eu no passeio, não digam que não fica espaço para o transeunte dar umas curvas rua acima ou abaixo ...
Como no resto - também aqui não sobrará umbigo onde falta cabeça?...
(Quanto ao tom inflamado com que se degladiam posições adversas, já Sophia dizia que "As pessoas sensíveis não são capazes de matar galinhas/porém são capazes de comer galinhas"...
(Manuel Tavares) Oi f.
Mais uma cruzada...
Os fumadores usaram e abusaram de insensibilidade demasiado tempo...
os não fumadores têm razão. Só que a perfeição não existe, infelizmente.
O que me incomoda é que os antigos fumadores são os mais acérrimos
atacantes da causa.
Quem nunca fumou eu aceito tudo... mas aturar dor de cotovelo de "ex"
é muito irritante, porque não há nada pior que a mau feitio dos ditos.
Porque o tabaco é prazer... mau... mas é prazer.
Há muitos anos que não fumo em locais públicos ou no trabalho. Etc.
Não me incomoda a lei.
Fumo geralmente depois do café.... Na varanda lá de casa. 3 ou 4
cigarros dia que provavelmente vou manter, dependendo do preço...
Detesto fumar na rua... detesto partilhar o momento do cigarro. Gosto
de estar tranquila e só.
O meu filho e o meu marido não fumam...
Venha a lei e que se cumpra. Mas gostava que as mesmas cruzadas fossem
feitas por outras causas também...
AMBIENTE! Chateia-me tantos carros na cidade... chateia-me falta de
civismo nas praias... a sujidade que o pessoal provoca sem remorso
nenhum nas ruas... a publicidade que distribui tantos papéis...os
supermercados que dão sacos de plástico... as marcas que utilizam
várias embalagens para o mesmo artigo só para o tornar mais
atractivo....(Teresa Guimarães)
|| f., 19:39
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mais das nossa posta restante, ainda sobre o tabaco
agora, é da habituée paula sousa nunes, com o título 'venenos':
'Comecei a fumar tabaco aos catorze anos, às escondidas. Fumei até à primeira gravidez, aos vinte e sete anos. O meu homem, que fumava talvez menos do que eu, também deixou de fumar. Eu consumia meio maço, no máximo, por dia, e quase nunca fumava de manhã. Não foi uma decisão difícil nem complicada e já tinha sido precedida de dezenas de decisões semelhantes de acordo com os contextos e os envolvidos.
Nesta coisa do consumo de tabaco, pasma-me sempre a inacreditável arrogância dos fumadores que se recusam a admitir a violência colectiva que é o fumo passivo. Os tempos mudaram, a sociedade mudou, os fumadores também. Para pior. A responsabilidade, respeito, cortesia foram submergidas pela alarvidade e prepotência, mesmo quando os protagonistas indiciariam outras posturas. Eu, que não sou fundamentalista e acho que cada um tem direito ao seu veneno preferido, desde que não o imponha aos demais, aplaudo envergonhada estas medidas restritivas e penalizadoras. É sempre deprimente policiar os outros, mas ainda mais deprimente ser sistematicamente ignorada e forçada às fumaças alheias.'
|| f., 13:30
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insurjam-se lá
buuuuuuuuuu
(proposta de post, a meias entre
o andré azevedo alves e o adão da fonseca:
a senhora dona fracturante diz que buuuuuu.
ora, como toda a gente sabe, é completamente falso, além de ser de uma má educação horrível, que buuuuuu. buuuuuuu é mais uma daquelas histórias mesmo a calhar ao anti-clericalismo militante da senhora dona fracturante a cuja invenção a senhora dona fracturante já nos habituou. buuuuuu é pró aborto, pró casamento gay, pró adopções gays mais os aspiradores, as salas de chuto, os charros e os charrados, as pessoas todas vestidas de preto e outras abominações, como a nojenta existência do estado e a nojenta interferência do estado na liberdade dos cidadãos.
lá em casa, damos pontapés aos buuuuuus. os buuuuuus são maus e pérfidos como a senhora dona fracturante, tal qual.
buuuuu é contra sua eminência reverentíssima o cardeal patriarca de lisboa e a nossa querida opus dei e a vida santificada em geral.
a senhora dona fracturante não julgue que nos engana com os seus buuuuuuuuus politicamente correctos: sabemos muito bem o que ela está a querer dizer, sabemos muito bem o que ela pensa e sabemos isso tão bem porque não pensamos em mais nada. religiosamente)
|| f., 13:02
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outra vez o tabaco
agora é o
francisco. grandes confusões, francisco, i'm afraid. baralhar a necessidade de proteger os não fumadores da selvajaria dos fumadores (em geral, francisco, claro, não tenho dúvidas de que és sempre um cavalheiro, tu e os teus charutos, cigarrilhas, etc) com preconceitos de classe ou de raça é apenas mais uma forma de convocar para esta discussão a estafada ideia de fascismo higienista.
quanto à forma
como tão amavelmente referes os meus argumentos, francisco: lamento ter de ser eu a informar-te de que o fumo do tabaco incomoda toda a gente menos os que fumam, e mesmo esses muitas vezes se sentem incomodados. a título de exemplo, fiz uma vez a viagem lisboa/porto de comboio na carruagem de fumadores porque ia com duas amigas fumadoras e foi uma delas, fumadora, que comprou os bilhetes. não vou maçar-te com a descrição da minha indisposição, mas quando chegámos ao porto as duas, que fumam como chaminés, confessaram que nunca mais viajariam numa carruagem de fumadores: estavam mal dispostas que nem pescadas com o excesso de fumo de cigarro. ah, a ironia.
por outro lado, agradeço-te, como a tantos outros bloggers que se preocupam comigo, a menção à falta de educação dos meus amigos. é que são eles, esses meus amigos que acham que puxar de um cigarro é tão natural e legítimo que nem lhes ocorre perguntarem se podem, os únicos fumadores selvagens do mundo. e tenho tantos, tantos amigos, e tão espalhados por países e continentes, que acabaram por dar má fama aos milhões de fumadores bem comportados que agora se vêem assaltados, em toda a parte, por leis iníquas, atentatórias da liberdade e do bom viver. por eles, por esses meus amigos, e por mim, que os não soube educar, só posso pedir desculpa e prometer penitência.
e
liberdade é uma etiqueta linda, francisco. não hesites em usá-la a propósito de tudo e mais um par de botas.
|| f., 12:32
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ainda o tabaco
o
vasco, como sempre a dizer melhor que eu aquilo que eu gostava de dizer.
|| f., 12:21
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quinta-feira, maio 3
mais comentários do nosso caixote
a ana mouta mandou este mail para o glória. aqui vai, a propósito de
fundamentalismos:
Tem toda a razão. Como tenho de almoçar fora todos os dias, estou sempre sujeita a levar com fumo enquanto almoço. O único restaurante aqui ao pé onde é proibido fumar é um pequeno snack-bar onde se come em pé (a comida é boa, mas comer em pé todos os dias não é propriamente agradável). A placa onde está escrito “proibido fumar” diz também “liga portuguesa contra o cancro”. Nos outros restaurantes, já lancei alguns olhares de reprovação (às vezes pouco discretos mas quase sempre ignorados), virá o dia em que direi “peço desculpa, não pode fumar aqui”. Vai ser um alívio. Não é preciso haver denúncias, os não fumadores encarregar-se-ão de fazer cumprir a lei. Ufa.
|| f., 21:10
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alive and kissing
he's back. na verdade, he cannot, cannot, keep away. from trouble and the lot.
|| f., 15:58
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infortúnios da virtude
é nestas alturas é que eu tenho pena de não conseguir ver, nos blogues, que casaco é que os bloggers trazem vestido (ou despido). uma cena assim tipo big blogger, muito muito totalitária, muito panopticon, muito muito concentracionária.
mas a sério, luís? é mesmo a sério, isso?
então, a sério, vou só dizer uma coisa: a única vez na minha vida que vi um texto meu censurado, censurado-censurado por nenhuma outra razão que não a vigilância político-partidária, quem é que estava no governo, quem era? hum? aceitam-se apostas. para quem não tiver nenhuma ideia, uma pistazita: as iniciais são p e r. portanto, se não se importa o luís, em matéria de indignações possidónias, ou mesmo obscenas, dificilmente o leitor do glória fácil cujo mail publiquei levará a palma.
quanto ao resto, misturar alhos e bogalhos de forma tão absolutamente despudorada até pode ser só falta de jeito para aduzir argumentos, mas é sobretudo puro mau gosto. a rimar com o do casaco do senhor deputado.
é que, luís, quem insulta -- e aquilo que fez foi insultar-me, caso não tenha percebido -- deve pelo menos ter a honestidade de admitir que, sendo o insulto também uma expressão de opinião, arrisca-se a ser considerado como o insulto que é. ninguém -- muito menos eu -- lhe retira a liberdade de me insultar dentro de determinados limites. faça o favor, luís (ainda não mandei a polícia secreta a sua casa, descanse, aliás estão todos, ao que tenho lido, a fazer cerco ao grande mártir da causa da liberdade balbino caldeira, nomeadamente através de ameaças de morte na caixa de comentários do blogue, coisa que como é dos livros é a forma de os esbirros totalitários actuarem, desde tempos imemoriais -- se o ridículo matasse, claro, nem a esse trabalho teriam de dar-se). pense, reflicta e opine. não queira também que eu concorde consigo nem se sinta perseguido porque há mais quem não concorde e o considere um palerma.
é a vida, já dizia you know who.
olhe, e mais uma coisita: o que é exactamente'uma jornalista de causas'? adorava saber. sobretudo, explicado pelo luís.
|| f., 15:31
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quarta-feira, maio 2
"Jornalismo de sarjeta"
Cairo, 02 Mai (Lusa) - Um tribunal egípcio condenou hoje uma jornalista da estação de televisão Al-Jazira a seis meses de prisão, acusada de atentar contra os interesses nacionais do país.
De acordo com funcionários do tribunal, a jornalista fabricou cenas de tortura para um documentário que colocou em causa a reputação do Egipto.
A produtora da estação árabe, Howaida Taha, 43 anos, foi detida de imediato, sendo-lhe confiscadas 50 cassetes de vídeo no aeroporto do Cairo, em Janeiro.
Howaida Taha, que se encontra actualmente no Qatar, não compareceu à sentença no tribunal do Cairo. A jornalista foi também obrigada a pagar uma multa de 5.200 dólares (3.800 euros).
|| JPH, 14:50
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nova lisboa
aqui, na versão on line da revista trimestral lvt.
|| f., 14:26
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fundamentalismos
de cada vez que se discutem restrições ao tabaco e à sagrada liberdade dos fumadores de poderem fumar onde, quando e ao lado de quem lhes apetece, espera-se um impagável chorrilho de dislates. a enésima proposta de uma lei restritiva, hoje em debate no parlamento, não desiludiu.
os fumadores são tratados como 'criminosos', ouve-se. são 'perseguidos como párias'. são impedidos de exercer os seus 'direitos de cidadania'. são tratados 'como drogados' ou, melhor, pior que os 'drogados', porque a esses 'ninguém impede de se drogarem' (ouviu-se mesmo um conhecido comentador televisivo afiançar que há 'isenção de multa' para quem se droga). o fumo do cigarro 'é muito menos prejudicial à saúde e ao ambiente que os aviões e os carros e ninguém proíbe os aviões e os carros'.
valerá talvez a pena -- pelos vistos -- recordar que uma série de substâncias, entre elas os derivados da cannabis (haxixe e marijuana), a cocaína, a heroína, o ecstasy e muitas outras, são de consumo proibido. consumo proibido significa que não é legal comprá-las e muito menos vendê-las. vendê-las é aliás crime com direito a prisão, e consumi-las é um ilícito sujeito a contra-ordenação. isto é o que a lei diz. mas a questão que se deve colocar é: porque é que estas substâncias são de venda e compra e consumo proibido? a resposta é tudo menos evidente, até porque os motivos alegados para a proibição, que têm sobretudo a ver com danos que todas estas substâncias causariam à saúde do consumidor, estão longe de cientificamente certificados para todas elas e implicariam, com maioria de razão, que outras substâncias de uso recreativo e propriedades aditivas, como o álcool e o tabaco, tivessem o mesmo tipo de tratamento. tal não sucede, como se sabe. o que sucede é que substâncias de características semelhantes e perigosidades variáveis são tratadas de forma totalmente distinta pela lei e pela cultura.
proibir o consumo do tabaco numa série de circunstâncias e locais, como restringir o consumo de álcool em certas circunstâncias, é apenas aproximar a forma de tratamento das drogas legais daquela que tem sido aplicada em relação às drogas ilegais. é, digamos, uma questão de racionalidade.
ainda assim, é óbvio que a forma de tratamento dos vendedores de tabaco não é em nada equiparada à dos que vendem haxixe, ecstasy ou cocaína. como o estatuto dos fumadores de tabaco não é o mesmo do dos fumadores de haxixe ou dos snifadores de coca. estes últimos podem ser identificados pela polícia em qualquer lugar público onde lhes passe pela cabeça consumir, mesmo que dentro de um barracão abandonado e deserto. os outros, os fumadores de tabaco, só poderão ser alvo de qualquer acção das autoridades caso insistam em fumar nos locais onde tal é proibido, ou seja, nos locais públicos onde o acto de fumar prejudica terceiros.
não me vou dar ao trabalho sequer de refutar a idiotia do 'argumento' que equipara o cigarro ao avião e ao automóvel e que teria como conclusão lógica que se não se proibem os aviões então também não se podem proibir os cigarros.
o que eu gostava que algum dia os fumadores em geral fossem capazes de perceber é que eles, os fumadores, é que durante décadas restringiram, sem sequer perderem um segundo a pensar no assunto, os direitos de cidadania dos não fumadores. nos restaurantes, nas escolas (passei 4 anos na faculdade a fumar não sei quantos maços por dia à conta dos meus colegas que não conseguiam, coitados, passar uma hora e meia sem fumar os seus ciagarritos, dava-lhes nervos, ficavam mal dispostos -- e os que não fumavam que se lixassem), nos locais de trabalho e na minha própria casa, onde não me lembro de alguma vez algum amigo fumador se ter lembrado de me perguntar se o fumo me incomoda. não porque os fumadores que conhgeço sejam particularmente mal educados, mas porque todos os fumadores são, por definição mal educados pela sua insistência em considerar que fumar é um direito que têm, só porque sentem necessidade de o fazer.
lamento imenso: tenho a maior compaixão pelos viciados, mas o facto de terem um vício não lhes dá qualquer direito, a não ser, eventualmente, o de beneficiarem dos meus impostos para se tratarem, como sucede com os heroinómanos e os alcoólicos. o direito que não têm, decerto, é o de continuarem a agir como selvagens. é só disso, de lhes impor um comportamento civilizado, já que não conseguem impô-lo a si próprios, que trata esta lei. o diálogo não funcionou, nunca funcionou. aliás, nunca houve sequer diálogo. houve imposição de um lado e resignação do outro.
o fundamentalismo, no sentido da imposição selvática e da conversão forçada, esteve sempre do lado dos fumadores. leis como a que hoje se discute são apenas a legítima defesa das vítimas. tratá-la como uma vitimização dos fumadores é de risada.
(declaração de interesses: eu não fumo nem nunca fumei. neste blogue, sou a única)
|| f., 12:17
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terça-feira, maio 1
reminder
sou jornalista há 20 anos. é fazer as contas: desde 1987. trabalhei em jornais e revistas e trabalhei na tv. tenho amigos (poucos, claro, porque os amigos são sempre poucos e invariavelmente menos ainda do que imagináramos) e muitos conhecidos jornalistas. contaram-me muitas coisas nestes 20 anos. outras vi, ouvi e vivi. um dos meus maiores defeitos -- para mim, que gostaria de esquecer com mais facilidade, e para os outros, que gostariam que eu não me lembrasse tão distintamente -- é ter uma óptima memória.
por todas estas razões, e por todos estes anos que contam duas décadas, começo a ficar seriamente irritada com algumas coisas que tenho ouvido e lido nos últimos tempos.
note-se que eu não sei se algumas das pessoas que dizem essas coisas se lembram do mesmo que eu, nomeadamente, se se lembram das coisas que eu sei que fizeram e disseram. acredito que sejam presa de amnésia galopante do género intratável. e também acredito que a maioria dos que falam e escrevem não saibam que não sabem do que falam e creiam estar, como sempre, do lado do bem e da liberdade e etc, mesmo quando aventam que todos podemos servir o mal, por medo ou por outro motivo qualquer.
não sei nada deles -- se têm estofo de polícia francês colaboracionista ou não. sei de mim, meus caros, sei de mim, e sei se quando a questão se pôs -- e a questão põe-se sempre, mais tarde ou mais cedo, with a knife, with a sword ou outro tipo de ameaça qualquer -- fui ou não uma polícia francesa. é que, não sei se sabem, mas não é preciso esperar pelo fim do mundo, ou pela ocupação nazi, para saber de que lado estamos. felizmente.
|| f., 00:22
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