...para Ana Sá Lopes (asl), Nuno Simas (ns) e João Pedro Henriques (JPH). Sobre tudo.[Correio para gfacil@gmail.com]
domingo, abril 30
João Afonso Bivar Sedas Nunes
V. Exa. vai-se embora e eu entro em greve de blogs. Começa hoje.
|| asl, 19:59
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sexta-feira, abril 28
Ah, leão!
O
Xico não se cansa de votar Soares.
|| JPH, 20:09
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Jornalismo de antecipação (II)
Sim, o jornalismo de antecipação é daqueles assuntos que dão pano para quilómetros de mangas. Sim, de facto, como
diz José Pacheco Pereira (JPP), o perigo de manipulação é enorme. Daí eu ter
dito que este é um jornalismo "
onde o problema da confiança nas fontes mais se coloca" e ter referido, também, a extrema importância da experiência dos jornalistas que o fazem e dos respectivos chefes.
JPP fala, por exemplo, das antecipações de debates parlamentares. Por norma, sou contra. Por experiência vivida testemunhei não sei quantas notícias dizendo que o partido A ia dizer uma coisa quando, de facto, dizia essa coisa e outra ainda muito mais importante, verdadeiramente o
fillet mignon, que se "esquecera" de antecipar.
A antecipação servia para os que antecipavam terem duas notícias a partir de um único acontecimento. Eu cheguei, por exemplo - para grandes gargalhadas de camaradas meus, entre as quais uma tal de Ana Sá Lopes - a escrever que Fernando Nogueira (então líder do PSD e já fora do governo de Cavaco) se preparava para fazer um "discurso forte" do Parlamento. Ora quem conhece Fernando Nogueira sabe que isto é o mesmo que admitir a possibilidade de um periquito ladrar.
Assim, o que me interessa são (também) as antecipações a sério, em relação a assuntos de facto graves. Dou dois exemplos concretos, de um passado mais ou menos recente: a formação (ou não) de uma aliança pré-eleitoral PSD/CDS nas últimas legislativas; e o que iria fazer Sampaio ao PGR depois do caso "envelope 9". As notícias de antecipação multiplicaram-se em todos os sentidos, em ambos casos: foi noticiado que o PSD e o CDS iriam coligados e foi noticiado o contrário; foi noticiado que Sampaio iria cortar a cabeça ao PGR e foi noticiado o contrário.
Nestes dois casos, sabemos todos qual foi, no fim de contas, a notícia correcta. Lembro-me, além disso, quem falhou e quem acertou. É por isso - sabendo quem acertou - que falo da importância absolutamente central do factor experiência dos jornalistas para fazer este tipo jornalismo. É uma experiência que inclui o conhecimento exacto das fontes que se contactam, do seus tiques de linguagem, da forma como usam (ou não) do mecanismo das meias-verdades. É um território no qual a confiança dos jornalistas nas fontes significa
precisamente o contrário de reverência.
No fundo, o jornalismo de antecipação é como todos os outros: se for bem feito, deve ser feito; se for mal feito, não deve ser feito. Não vejo é razão - pelo contrário - para o rejeitar à partida apenas porque é muito arriscado. Aliás, nos jornais creio que isso é suicidário. Volto ao que escrevi no
primeiro post sobre este assunto: "
Às vezes, perante acontecimentos de agenda que serão merecedores de extensiva cobertura televisiva - e sabendo-se, portanto, que no dia seguinte dificilmente os jornais poderão dizer algo de verdadeiramente novo - a antecipação é o único valor noticioso acrescentado que um jornal pode dar aos seus leitores."
Sim, eu próprio não diria melhor.
|| JPH, 19:31
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Sol?
|| JPH, 19:24
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mais uma causa (tenho para cima de muitas, habituem-se)
Exmo. Senhor Prof. António Carmona Rodrigues
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
Exmo. Senhor.
Como V. Exa. deverá já ter conhecimento, uma menina de 8 anos, de nome Rafaela, foi ontem atropelada mortalmente quando atravessava a Av. de Ceuta, numa passadeira.Lamentavelmente, esta tragédia não é, nem para nós nem para V. Exa., nem para a maior parte dos lisboetas, surpreendente.
Esta era uma morte temida, mas esperada.Dir-se-á: o motorista de táxi deveria ter circulado com precaução. Dir-se-á: é necessário colocar ali radares de controlo da velocidade e criar medidas de acalmia de tráfego.
Perguntamos nós: quem foram os políticos e os técnicos da autarquia de Lisboa responsáveis pela construção de duas urbanizações gémeas cortadas por uma via rápida com mais de 30 metros de largura?E perguntamos nós ainda: será que os políticos e técnicos hoje responsáveis pela gestão do trânsito da cidade dormiram tranquilamente até hoje, sem ter resolvido urgentemente a situação de absoluta insegurança dos peões que atravessam a Av. Ceuta?
É que não era necessário proceder a estudos de identificação de pontos negros. Os moradores da zona já tinham diversas vezes alertado a CML para o perigo daquela travessia. A ACA-M, na sua campanha “Vamos acabar com os pontos negros”, já tinha enviado requerimentos à CML, pedindo a resolução do problema.
É terrível constatar que as autoridades só costumam agir sobre os pontos negros que criam depois de alguém neles falecer e de a comunidade exprimir a sua comoção. Não deveria ser esta a postura dos políticos ou dos técnicos face aos cidadãos que se comprometeram servir.Mas mais inaceitável é mesmo não agir imediatamente sobre uma situação de risco, para prevenir novas tragédias.Por isso, quando faleceram duas jovens na Av. 24 de Julho, em Novembro passado, a ACA-M veio pedir celeridade na resolução de um problema criado pela autarquia, ao licenciar bares de divertimento nocturno nas bermas de uma via rápida.Por isso, vimos hoje pedir assunção de responsabilidades, celeridade na busca de medidas provisórias e coerência na elaboração de medidas definitivas para a resolução do ponto negro que é a travessia entre os Bairros do Cabrinha e do Loureiro.
Neste sentido, vimos convidar V. Exa. a deslocar-se connosco à Av. Ceuta para a atravessar – como peão – na passadeira fatídica, no dia 4 de Maio, às 11 horas, para ficar a conhecer o conjunto de propostas de acalmia de tráfego que pretendemos apresentar nesse dia, numa conferência de imprensa que iremos convocar para o local, e para depositar connosco uma coroa de flores nas imediações do local da tragédia.
Confiantes que V. Exa. será sensível à bondade deste convite, solicitamos que nos contacte, para o 919258585, para informar da sua decisão de o aceitar, ou não.
Com os melhores cumprimentosManuel João Ramos
Direcção da ACA-MAssociação de Cidadãos Auto-MobilizadosAv. 5 Outubro, 142, 1º Dtº1050-062 LisboaPORTUGALTel.( +351)217801997Fax: (+351)217801998Mobile: (+351)919258585
Member of the European Federation of Road Victims
|| f., 15:36
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quinta-feira, abril 27
Eu e a reforma...
|| portugalclassificado, 16:52
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repetez, vous
dentro da lógica onanisto-jornalística que, como diz o jotapêagá, ultimamente parece caracterizar-me (talvez, digo eu para me justificar, porque ando sem inspiração e sobre estas coisas de israel, judeus, holocausto e etc, para não falar de correcção política, já me fartei de pensar e escrever há uns bons anitos e escuso de me pôr outra vez a inventar), vou despejar aqui um texto sobre o museu do holocausto escrito em 1993 para a grande reportagem.
vem isto (ainda) a propósito da discussão sobre 1506, nomeadamente (uma vez mais) sobre o que se passa na
natureza do mal (o blogue e a propriamente dita)
O MUSEU DAS SOMBRASA comunidade judaica americana ergueu o seu santuário no centro de Washington, cinquenta anos depois da História. Há outros museus sobre este extermínio, mas nenhum como este . "The world must know: o domínio da dor não esqueceu a eficácia.
"There is a desert inside me. (...) There are no words in my mouth."Elchanan Elkes, médico, Kovno, Lituânia
É assim: duas grandes portas de vidro e um átrio de pedra. Funcionários de uniforme ocre escuro, paredes de tijolo, metal, vidro, entradas gratuitas. Das 10 às 5 e meia. Turistas, excursões de escola, sapatos ortopédicos e velhos americanos rosados do Idaho. Uma pequena livraria. As estantes de madeira negra cravam epitáfios e anátemas, prémios nobel. Nomes antigos. No muro interior, junto ao balcão das informações, o sol tempera em aço a letra do velho testamento: I bear you my witness. A máquina negra, género bilhete de metro automático, quase se ignora. Explicam os folhetos que o visitante deve aí debitar os seus dados pessoais. Receberá em troca um cartão com um nome e uma história, o de alguém da mesma idade e sexo que viveu este extermínio. Um destino emprestado para esta longa marcha. Desde o início da exposição, no quarto andar, até ao final, neste mesmo átrio, máquinas iguais a esta permitem inquirir da sorte desse alter ego judeu. Mas o génio da ideia sucumbe à fragilidade do mecanismo: são muitos os 'Out of order'. Fica-se sem saber.
Começa-se por revisitar a história dos anos 30, da grande inflação alemã, das condições necessárias à instituição do terceiro Reich. Nos primeiros passos do quarto andar, um filme de sessões contínuas faz o ponto da situação. Fotos da juventude hitleriana, uniformes empoeirados, vídeos, excertos de testemunhos, documentam uma década atrás de muros de vidro onde flutuam letras negras. Segue-se por um corredor estreito, olhar lento entre pilhas de livros dados à fogueira, citações, cruzes gamadas. Do lado direito a ciência leva a melhor sobre a razão: íris de vidro e amostras de cabelo testam a cor e a raça, catálogos de étnias, compassos de metal para medir narizes e crânios. O ideal ariano não perde tempo. Com uma pequena mão da tecnologia americana -- a máquina que estampa os cartõoes do primeiro census racial é obra de uma subsidiária da IBM --, registam-se os indesejáveis. A estrela de David é o estigma.
O mundo? Organiza uma conferência. Evian, em 1938, demonstra que as convicções geopolíticas da época nãao deixam para o problema judeu mais lugar que o de uma estéril comiseração. A República Dominicana arrebata a única menção honrosa, ao candidatar-se a 100.000 refugiados. Roosevelt, que convocou a reunião, lava daí as mãos. O resto dos potentados europeus usa da mesma água. É uma pena, mas não se pode fazer nada. No livro de presenças, as assinaturas ardem no fogo lento do opróbrio. Hitler tira-lhes o chapéu. As chancelarias alemãs circulam comentários sardónicos. Afinal, parece que não são só os arianos a não gostar dos judeus... "No help, no haven": o museu acusa. Já se sabe, tudo isto se sabe, só está um pouco esquecido.
O cerco aperta-se, as sombras tamb'em. A noite de cristal é o princípio de um longo fim. O pergaminho esventrado de uma torah subtiliza aquilo que as fotografias, em troca, não deixam à imaginação. A turba sorri enquanto a judiaria vienense é obrigada a lavar as ruas após a invasão da Áustria. Freud já fugiu, Einstein também. Os outros não acreditam. É preciso que a tragédia se cumpra. A réplica de uma barreira fronteiriça listada a vermelho cerra a armadilha. Agora será sempre tudo pior, muito pior.
Um desvio. A morte a peso estreou-se nestes sanatórios de paredes tranquilas, rodeados de àrvores e colinas. Para transportar os condenados, autocarros de janelas cegas. Pintadas de branco para poupar quem? Escreviam-se depois cartas às famílias com uma explicação qualquer. Às vezes enganavam-se, enviavam mais do que uma. Mas de que servia a suspeita? As fotografias mostram crianças nuas entre batas brancas. Imediatamente antes da execução, diz o texto. Quem é que sabe? Sobrou alguém para contar como foram as primeiras câmaras de gás, como foi que morreu esta menina de quatro anos que o homem segura para a câmara?
Estes grandes planos de homens de braços no ar. A legenda diz que foram fuzilados a seguir. Os rostos deixam-se ler em reverso, interrogados em silêncio. Sim, é muito velha esta história, mas alguém pode responder a isto. Porque é que este homem sorri no embaraço da esmola? Não percebeu? Porque é que estes homens que vão matar querem tirar fotografias?
O mais espantoso a partir de certa altura não é a História mas o seu documento aplicado. Consciência, precisão, absurdo. Os homens que integravam as brigadas de extermínio rápido que logo de início começaram a erigir a solução final escreviam cartas para casa a contar os seus dias, entre declarações de afecto às mulheres e aos filhos. "O trabalho é duro, mas vai-se andando." Cansa matar.
Mas é preciso. Agora sabe-se que se vai encontrar mais do que se contava, mais do que se recordava. Provavelmente mais do que se tinha já visto. Os press-releases justificam: a queda da cortina de ferro desbloqueou os ficheiros, os documentos secretos da Alemanha de Leste e da ex-URSS, as generosidades polaca e checoslovaca. E isto é só uma amostra do que há-de vir. Numa sala larga, depois deste corredores, muros escondem a cegueira. Há crianças aqui, e espíritos susceptíveis. Só vê quem quer. No centro, os vídeos estão colocados como num poço. Experiências. Quanta pressão atmosférica aguenta um homem antes de morrer? Um a um, os fotogramas demonstram. E este professor polaco de quarenta anos e corpo deformado, primeiro prisioneiro de uniforme, depois especimen fotografado a nu, por último uma estrutura óssea. Não era preciso explicar a rapidez e a necessidade. Não era preciso explicar para que servia esta mesa metálica com uma serra mecânica que nos mostram junto a estes membros humanos decepados em desordem.
Este outro muro guarda dois ecrãs. Dois títulos. 'Accomplices'. 'Mobile Killig Units'. Um grupo de visitantes repete as mesmas imagens. Homens saem de camiões de caixa aberta, correm, fazem fila junto à vala comum. Caem sem som. Na margem direita do ecrã, rostos em diagonal esperam a vez. No outro ecrã, diapositivos. Um linchamento, três takes. Antes, durante, depois. Os homens são espancados pela multidão. Reanimam-nos com baldes de àgua. Acabam com eles. As legendas têm poucas palavras. Uma mulher de meia idade, nua, derrubada. Um filme: cadáveres desfeitos descem um rio algures na Sérvia. Obra dos fascistas croatas, lê-se. Homem ou mulher, um corpo cravado de lanças vive ainda. A câmara guarda-lhe a agonia. No help, no haven. Quem esteve aqui? Quem filmou? Quem viu?
A partir desta sala, os olhos evitam-se.
De uma ala para a outra, a ponte de vidro imprime mil nomes sobre o céu. Quem os escolheu entre seis milhões? Não há lugar para todos, só exemplos. Como esta pirâmide de fotografias que atravessa três andares, a arqueologia snap-shot de Ejszyszok, uma aldeia na Lituânia, de maioria judaica. Famílias a sépia coloridas em pastel, adolescentes de traje de banho, velhas senhoras de negro, meninos de caracóis e rendas. Década a década, até que eles vieram. Em dois dias, 25 e 26 de Setembro de 1941, 3000 pessoas morreram. Já não há judeus em Ejszyszok.
Porque é que ningu'em nos avisou, pergunta Ellie Wiesel, escritor, jornalista, prémio nobel, judeu, sobrevivente e membro da comissão de honra do museu, no seu discurso de inauguração. O mundo sabia. O mundo sabia e não bombardeou os carris que levavam aos campos da morte. Nem bombardeou os campos da morte. Perdão? Não é disso que se trata, aqui. "Acreditamos na absoluta necessidade de contar esta história. Sei que não podemos, que nunca poderemos explicar. Não porque eu não possa explicar. Mas porque não me compreenderiam."
Compreender. A memória da Europa há muito relegou estes problemas de consciência para a obrigação das efemérides ou de um ocasional auto de fé de algum criminoso nazi apanhado na rede dos Simons Wiesenthals. Nem as diatribes de Jean Marie Le Pen e apaniguados, nem a turbulência reciclada da nova Alemanha, nem vandalismos em cemitérios judeus, nem o eco mais ou menos fiel de imagens ancestrais nas fotos da ex-Jugoslávia fizeram reviver a impossibilidade que fulminou o pensamento nos anos depois da guerra. Jeshajahu Weinberg, director do museu do Holocausto, diz nas entrevistas que o intento do projecto é perturbar as conciências. Claro. Mas a que ponto se perturbam as consciências? E para quê? Com que objectivo? Para um mundo melhor? Para um homem melhor? Como esquecer que esta história acaba, no primeiro andar, com a formação do estado de Israel? E poderia deixar de ser assim? E poderia existir este museu e não ser um repto, uma acusação, o penhor de uma dívida insanável? E poderia existir um museu assim e não ser um instrumento?
Pode-se falar do dinheiro, que veio em parte do governo americano e na maioria de doações privadas. Da comunidade judaica americana, obviamente. Pode-se falar de propaganda, e de simbolismo, e de coisas óbvias como o facto de Israel dever a sua existência ao holocausto e ao sentido de culpa dos ganhadores da guerra. Expiação de um crime. Voilá. Também se pode falar da perfeição estética do projecto, concebido como uma gigantesca instalação segundo as mais recentes técnicas artísticas e perfis tecnológicos. Pode até estabelecer-se um paralelo entre esta experência e o trabalho de alguns artistas contemporâneos que exploram os temas da vitimização do corpo, da subjugação, da tortura. Pode-se dizer que este não foi o primeiro nem será o último dos genocídios, e que teve de especial apenas o facto de ter sido mais metódico do que qualquer outro que se conheça, incluindo o dos índios americanos, o dos arménios ou o dos incas e dos guaranis pelos exércitos de conquestadores espanhóis. Pode-se perguntar: o que é ser judeu? Antes e depois.
Os objectos. A madeira torturada dos beliches de um campo, o vagão de mercadorias onde mal se respira e couberam cem pessoas, as malgas de metal torcido onde se comia. E centenas de tesouras, pentes, escovas, certificados de esperança num tempo de assassinos. O cabelo, derramado numa imensa vitrine. Os sapatos. Dito assim, parece nada. É preciso ver. E o forno crematório em réplica, e a mesa de metal em que despojavam dos corpos as últimas coisas. Ouro, claro, e tudo o mais que houvesse.
A vã súplica destas tiras de papel, nestas linhas dos que não voltaram. Querido senhor, venha buscar-me... Lembre-se de mim... Ou os que regressaram, estas vozes que se ouvem num corredor de vidro, fundidas num coro insuportável. Os restos do getho de Varsóvia. As réplicas das portas. Os desenhos das crianças nos campos (as crianças desenhavam, nos campos, desenhos coloridos). Chega.
Pode-se pensar que já se sabe tudo, mas nunca se sabe tudo. Pode-se pensar que já se viu tudo, mas ainda não se viu tudo.
Também há histórias de heróis, sim. Longas linhas por países, com o sueco Raoul Wallenberg 'a cabeça, e Aristides Sousa Mendes algures para o fim. Mas é tão pouco para este silêncio.
Entre as réplicas de dois postes de betão e arame farpado, frente aos artefactos do forno crematório, Ellie Wiesel lanceta a memória. "Never shall I forget that smoke. (...) Never shall I forget those flames which consumed my faith forever. Never shall I forget that nocturnal silence which deprived me, for all eternity, of the desire to live. Never shall I forget those moments which murdered my god and my soul and turned my dreams to dust. Never shall I forget these things, even if I am condemned to live as long as god himself. Never."
Foi um filósofo alem'ao -- evidentemente alemão -- Theodor W. Adorno, que o disse: após Auschwitz, não é mais possível. Pensar. Lembrar, sem dúvida. E escrever. Lamentar os mortos, chorar os vivos. E esquecer.
Ergue-se contra isso a dor. Um museu. Mas a verdade decretada é que se esquece. Sempre. É esse o óficio da memória: fazer crer que é possivel. Pensar, viver . E não ter visto tudo, nunca.
|| f., 16:35
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dúvida
|| f., 16:04
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quarta-feira, abril 26
Esclareçam-me: com anestesia que graça é que tem?
[Imagem retirada
daqui. Ao que parece este outdoor já está afixado em Almada e Lisboa, pelo menos]
|| JPH, 16:08
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Jornalismo de antecipação
O
Expresso enganou-se. Só com doses cavalares de boa vontade poderemos considerar que Cavaco Silva "puxou as orelhas" aos deputados no discurso que fez ontem no Parlamento. Aliás, o PR até disse, como que se justificando perante o semanário, que a "credibilidade do nosso sistema político" poderia ser um tema - só que ele achou que não deveria, preferia antes "lançar um olhar sobre a nossa sociedade".
O fracasso da notícia levanta o problema do jornalismo de antecipação, que se pratica muito na política (e também na economia, e aqui até com verdadeiras consequências económicas, que no jornalismo político não acontecem).
Defendo o jornalismo de antecipação. Em tempos ultra-concorrenciais como os de hoje, jornalismo político a sério num jornal (é de jornais que falo) não sobrevive sem antecipações. Um jornal, pelo menos, não sobrevive - e isto se quiser ter algum crédito enquanto produtor de jornalismo político. Às vezes, perante acontecimentos de agenda que serão merecedores de extensiva cobertura televisiva - e sabendo-se, portanto, que no dia seguinte dificilmente os jornais poderão dizer algo de verdadeiramente novo - a antecipação é o único valor noticioso acrescentado que um jornal pode dar aos seus leitores. Não o fazer implica, num jornal, subordinar-se ao esmagamento televisivo, ou seja, resumir-se a um jornalismo de acta (por mais colorido que seja) e pouco mais. O respeito dos jornais pelos seus leitores passa sobretudo pela vontade de lhes dar
novidades, ou seja, contar-lhes coisas que não sabiam.
Agora, tenho perfeita consciência que o jornalismo de antecipação é altamente arriscado. É talvez aquele onde o problema da confiança nas fontes mais se coloca - e aqui, obviamente, não pode haver fontes reveladas, só anónimas. O que aqui conta é a ponderação do risco que se assume, o que passa por saber exactamente qual o grau de informação que a fonte detém. E esta ponderação só pode ser feita de forma sensata e fria - no fundo é de sensatez e frieza que falamos - quando está liberta de condicionamentos como editores e directores que só querem a notícia "dê lá por onde der" e de páginas que têm de ser preenchidas "custe o que custar", que é precisamente aquele ambiente de redacção em que se fazem mais asneiras.
Por outras palavras: jornalismo de antecipação não se compadece com jornalismo de salsicharia. Exige muita experiência de quem o faz; exige que quem o faça tenha suficiente peso na sua redacção e perante os seus chefes para poder dizer "não, não há notícia"; exige ainda mais experiência de quem o edita; exige, enfim, a sensatez minima de se saber que não se fazem antecipações com a antecedência com que o
Expresso fez esta.
Por mim, lembro-me sempre do que me dizia o meu principal professor de jornalismo, Fernando Cascais: "Na dúvida, não escrevas." Lembro-me sempre quando, na dúvida, escrevo. Raras são as vezes em que não me estatelo.
|| JPH, 14:19
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Habituem-se
A direita está desgostada com Cavaco Silva. Que fez ontem um discurso "social-democrata" (extraordinário!), que não é "liberal" (quem diria?), que isto e aquilo e aqueloutro. Mas calma, muita calma. Eu recordaria que a esquerda também se zangou bastante com os "seus" Presidentes: com Eanes (o PS mais soarista), com Soares (por ter convocado as legislativas antecipadas que deram a 1ª maioria a Cavaco) e com Sampaio (por ter nomeado Santana). Faz parte da história esta obsessão dos Presidentes quererem demonstrar com muito empenho que são mesmo de "todos os portugueses", portanto também daqueles que não o elegeram. Vá lá, habituem-se.
PS1.
Ontem defendi que só por puro delírio se poderia detectar no discurso de Cavaco Silva alguma dissonância séria com Sócrates. Mantenho o que disse. Mas evidentemente só por delírio meu poderia achar que esta lua-de-mel durará para sempre. Isso não acontecerá. Basta, para tal, que Sócrates falhe na recuperação económica do país. Não imagino um Cavaco Silva muito diferente dos outros Presidentes que já passaram por Belém. Nenhum se deixou desgastar por culpa de fracassos alheios.PS2.
Filipe Nunes Vicentes foi, que eu tenha reparado, o único bloguista nacional que reparou na potencial carga populista do discurso "social" de Cavaco. Não é preciso conhecer demasiado o personagem para saber que esse perigo de facto existe. Ontem foi o dia para o pré-populismo dos pobrezinhos. Assim à laia de Expresso, antecipo que o discurso do 5 de Outubro, dia por excelência da famigerada "ética republicana", será o escolhido para o populismo anti-"politiquices". E, evidentemente, para mais sonoras sugestões de grandes "pactos" nacionais para isto e para aquilo. Veremos.
|| JPH, 12:56
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terça-feira, abril 25
Sempre!
[Retirado
daqui]
|| JPH, 21:18
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Serviço público
Está
aqui o discurso do Presidente da República nas comemorações parlamentares do 25 de Abril.
|| JPH, 21:06
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Vá lá, esforcem-se, não conseguem nada melhor?
Há quem pergunte: e o que teria sido do 25 de Abril (de 1974) sem o 25 de Abril de 1975 (eleição da Constituinte)? E também quem pergunte: e o que teria sido do 25 de Abril de 1974 e do 1975 sem o 25 de Novembro? E eu também posso perguntar: teria havido 25 de Abril (de 1974) se a intentona de Março (do mesmo ano) não tivesse falhado? Pois pois, boas perguntas, pois claro. Melhor só mesmo estas: e o ovo, teria nascido sem a galinha? E a galinha, de onde veio?
|| JPH, 19:40
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Pura desonestidade (II)
E já agora que estamos numa de fazer posts que mais não são do que
tentativas de condicionamento da opinião que amanhã se lerá nos jornais, então que se antecipe também a leitura que José Pacheco Pereira (JPP) fará dos títulos e comentários nesses mesmos jornais de amanhã dando conta do óbvio conforto de Sócrates perante o discurso de Cavaco. Muito evidentemente, JPP denunciará o tendiciosismo pró-PS (ou pró-esquerda em geral) do jornalismo político português, da condescendência "comunicacional" com o "estado de graça" do PM, enfim, o blá-blá-blá do costume. Por outras palavras: o chamado "pack-comentário". E a realidade dos factos? Ora, isso, a realidade, por amor de Deus, a realidade é mais ou menos como o Natal: o que um homem quiser. Apostam comigo?
|| JPH, 16:25
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Pura desonestidade
É
este comentário de José Pacheco Pereira às supostas diferenças entre o discurso social de Cavaco Silva nas celebrações parlamentares do 25 de Abril e "o discurso desenvolvimentista e tecnológico, muitas vezes deslumbrado, do primeiro-ministro".
Pura desonestidade porque toda a gente ouviu Cavaco invocar
explicitamente um plano governamental em preparação (o Plano de Acção Nacional para a Inclusão) para propor uma "mobilização geral, uma verdadeira campanha em prol da inclusão social".
E pura desonestidade porque toda a gente se lembra até que ponto Sócrates fez do combate à exclusão social (nomeadamente dos idosos, a mais grave) uma bandeira de campanha (entretanto já começada a ser posta em prática, através do Complemento Solidário para Idosos), bandeira que evoluiu em paralelo (e não excluíndo) a do plano tecnológico.
Enfim: um comentário desesperado na sua ridícula tentativa de ver diferenças entre o Presidente e o Governo onde elas manifestamente não existem. Se alguma coisa distancia Cavaco e Sócrates não é aquilo que José Pacheco Pereira pateticamente refere mas sim o facto de o PR continuar a insistir (como já tinha feito na Justiça) em pactos alargados de acção (portanto envolvendo o PSD, pelo menos), quando se sabe perfeitamente que para Sócrates lhe basta a sua maioria absoluta. Esse sim, é o "fosso potencial".
PS1.
Antecipo que nos eventuais comentários a este post venham tiradas do género "blogue porta-voz de Sócrates" e o mais que facilmente se adivinha. Por uma vez façam-me o santo favor de comentar a essência do que foi escrito. E o que foi escrito resume-se em duas palavras: o discurso de Cavaco não revelou qualquer dissonância de fundo face à governação de Sócrates, muito pelo contrário.PS2. Falar em "fossos potenciais" entre o PR e o PM a propósito do discurso de Cavaco é tão muleta do comentário político como submeter esse mesmo discurso à grelha analítica esquerda/direita. São ambas simplificações vulgares nestas ocasiões. O argumento - delirante - invocando um Cavaco "social" e "humano" contra um Sócrates "tecnocrático" e "desumano" visa apenas esconder uma incomodidade: a de não ser possível neste momento usar um (Cavaco) para fazer oposição ao outro (Sócrates).
|| JPH, 15:06
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segunda-feira, abril 24
amos oz
há catorze anos, fui a israel pela grande reportagem. tinha conhecido amos oz num jantar literário, em lx, e tinha trocado algumas palavras azedas com ele sobre israel. depois, quando fui lá, pedi-lhe uma entrevista. fui a casa dele. lembro-me de uma espécie de cave cheia de livros, oescritório dele, onde passámos horas a conversar, do autocarro que apanhei em jerusalém e da metralhadora que um soldado de 18 ou 19 anos me pôs sobre os joelhos, sem pedir licença ou sequer um sorriso ou um olhar, quando se sentou ao meu lado, como quem diz: estás aqui, fazes parte disto, desta guerra. é possível que quem vai a israel fique a sentir isso para sempre -- eu sinto. mas, como diz a outra, isso agora não interessa nada. o que eu queria era falar de amos oz e de como ele definiu o que é ser judeu e o que é israel e o que é 'o processo de paz'. e aqui vai:
'O passado tem resposta para tudo. Mas nunca coincide nas versões. Quem começou, quem chegou primeiro. Quem tem direito a Jerusalem. Quem arrisca mais. E quem vai ceder. À medida que decorre tempo sobre a data em que pela primeira vez as delegações palestiniana e israelita se sentaram a uma mesa, é mais difícil encontrar quem acredite que vai sair dali alguma coisa. Entre os homens de boa vontade, claro, se é que tal coisa existe. Sobretudo aqui.
"Isto não é uma disputa metafísica. É algo muito mais simples: um conflito de terras, de propriedades. A esquerda amante da paz, na Europa, parece não acreditar em conflitos, apenas vê desentendimentos. Pensam que isto é uma questão de terapia de grupo. O que os israelitas e palestinianos precisam é de um divórcio, não de uma lua de mel. A questão é perceber como vai ser possivel continuar a viver no mesmo apartamento." Amos Oz tem a postura pragmática de alguém que acalentou muitos sonhos e teve a infelicidade de concretizar alguns. É um dos escritores mais relevantes de Israel. E dos mais polémicos, também. A direita não gosta dele e ele não gosta da direita. Shamir? "É um dos piores governos que tivemos. Sobretudo em termos económicos e no que respeita às negociações. Mas estou mais optimista que nunca sobre o processo de paz. Só não me pergunte quando."
Nasceu em Jerusalem, há 53 anos. Nos livros descreve-lhe as ruas de memória, a luz da manhã, os cheiros e as lojas, os imigrantes russos e polacos, os árabes e o domínio britânico. "Eu fui um miúdo da intifada a gritar e a mandar pedras aos ingleses." Depois foi a guerra. Os exércitos todos da zona contra um país recém-fundado. "Passámos fome, fomos bombardeados... Sabiamos que se perdessemos, íamos morrer. Ainda hoje. Se Israel perder uma vez, quer dizer genocídio." O que é ser israelita? Repete a pergunta, a meia voz. "Para mim...É uma escolha. Em primeiro lugar, por causa da lingua, que é belíssima. I belong to my language." E ser judeu? "Essa é uma questão metafísica. Qualquer ser humano que seja maluco o suficiente para se chamar judeu é um judeu." E Israel, o que é? "Para mim, representa uma data. Foi há 45 anos, a 29 de Novembro de 47, quando as Nações Unidas decidiram dividir a terra entre israelitas e árabes. Só havia um rádio na zona. Eram 2 da manhã e estavam 2000 pessoas na rua para ouvir a transmissão, em silêncio. Devia ter visto a alegria. Não era o Carnaval do Rio. As pessoas choravam como crianças. As lojas abriram-se, distribuiram-se bebidas. Às 4 da manhã, o meu pai meteu-me na cama e deitou-se ao meu lado. Percebi que ele estava a chorar. E disse-me: 'Filho, quando eu tinha a tua idade, na Rússia, apanhava na escola por ser judeu. E o meu pai, e o meu avô. Tu podes apanhar na escola, mas não por seres judeu.' Até hoje, estas palavras são para mim a raison d'être do estado de Israel."
Na adolescência, Amos Oz rebelou-se contra o pai e foi viver para um kibbutz. Entrou nas duas guerras que se seguiram, 67 e 73. Na sua opinião, foram guerras de sobrevivência. Mais uma vez. "Sou pela paz, mas não sou um pacifista. Não sou adepto de estender a outra face." Hoje vive com a mulher e os filhos, em Arad, uma cidade em expansão no meio do deserto, perto do mar morto. Feia como quase todas as cidades israelitas, construídas com carácter de urgência e um dinamismo assustador. Mas ele fala dela com o encanto de alguém que assiste a um milagre, o mesmo milagre que perpetua o seu país. "Grandes esperanças é a alcunha do estado de Israel."
Um dia, num livro, disse que se se iniciasse um processo de paz Israel se partiria ao meio. O que é que se está a passar? "Uma guerra civil, mas com palavras, não com tiros. "Quem contra quem? "É mais um mosaico que uma barricada. Sobretudo por uma questão de prioridades. Nenhuma outra nação na História teve de optar entre democracia e terra." Como é que vê a questão dos territórios? "Depende. Penso que Israel tem problemas legítimos de segurança nos Golan, por exemplo. E que os terrenos desocupados devem ser negociados." E os colonatos? "Não deviam nunca ter sido construídos. E devem parar agora. No caso de Gaza, se eu fosse o 1º ministro de Israel, saía de lá no dia 1 de Abril e entregava a zona às UN. Não temos nada que fazer ali." Aceita a ideia de uma nação palestiniana? "O primeiro passo é reconhecer que o outro é quem ele pensa que é. É irrelevante dizer que os palestinianos não eram uma nação há 100 anos. Não eram. Ou que foi Israel que os fez pensar em si próprios como tal. Não vamos pedir-lhes direitos de autor." Dialogaria com Arafat, se fosse preciso? "Não gosto dele. Mesmo nada. Mas se falar com ele significasse a paz, falava já amanhã. No Médio Oriente, quando as pessoas dizem nunca, as pedras começam a rir."'
(excerto de morrem mais de mágoa, gr, 1992)
|| f., 18:02
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1506, ainda
a propósito da discussão que continua sobre o massacre de 1506, nomeadamente na caixa de comentários a
este post da natureza do mal, gostaria de acrescentar o seguinte:
dicionário lello (prático ilustrado) - 1990:
judenga - tributo de 30 dinheiros, que os judeus pagavam por cabeça, em memória e pena de terem vendido jesus por trinta dinheiros.
judeu - natural da judeia ou que descende dos habitantes desse país; aquele que segue a religião judaica; usurário; homem de má índole; diz-se de quem viaja muito: judeu errante.
judia - flexão feminina de judeu; mulher de raça ou religião judaica; mulher travessa ou escarninha.
judiar: o mesmo que judaizar; fazer judiarias, apoquentar alguém; escarnecer, zombar.
judiaria: grande porção de judeus; bairro de judeus; pirraça, chacota, maus tratos.
dicionário de sinónimos porto editora (depósito legal 1992):
judaizar: judiar; usurar.
judeu - agiota; alvacora; avarento; cachorra; cigano; cruel; cuxiú; enxergão; fariseu; hebraico; idumeu; israelita; judaico; judio; malvado; mau; nazareno; negocista; palestino; perverso; satanás; serra; sírio; travesso; trocista; usurário.
judiação: chacota; escárnio; judiaria; maldade; malvadez; mofa; motejo; perversidade; tormento; troça; zombaria.
judiar: apoquentar; atormentar; enganar; escarnecer; judaizar; maltratar; mofar; regatear; ridicularizar; zombar.
judio - hebraico; judaico; judeu; maldoso; maléfico; travesso.
|| f., 17:51
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sexta-feira, abril 21
ao vivo no enterro
uma das minhas colegas do dn, a ângela, foi ao enterro do francisco adam. chegou ao jornal com um relato alucinado: o de uma cerimónia fúnebre à qual acorreram milhares na perspectiva de ver as suas estrelas, de falar com elas, tirar fotos com elas, comungar com elas de um 'momento único', fazer parte daquilo. talvez aparecer na tv, ou mesmo dar uma entrevista. entrar na novela.
no dia seguinte, li os relatos dos outros jornais. ela também. chegámos à conclusão que ela tinha estado num enterro diferente -- só lemos descrições emocinadas, lacrimosas, trágicas. nada sobre os 'olha ali o tó jó!', os 'posso tirar uma foto contigo?', os 'já viste? tá ali a diana! vês as calças dela? vou comprar umas assim!' os 'aquela ali não é conhecida? é, é! ai, como é que ela se chama?'
isto foi o que ela viu. os outros não?
|| f., 21:56
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e agora, uma coisa séria
laramie, no maria matos. a história de mathew sheppard, o miúdo de 22 anos que foi espancado até à morte por dois miúdos da mesma idade, porque era gay.
o texto é inteiramente baseado nas entrevistas efectuadas por um grupo de teatro em laramie, após o crime. ou seja, parece mentira, mas não é (a ficção é muitas vezes mais verdade, mas aqui a verdade é verdadeira ficção).
no início da peça, uma estrada com montanhas ao fundo faz as vezes de wyoming. laramie é no wyoming. as montanhas podem ser de brokeback.
esta peça e esta história são a caminho (o caminho para) brokeback.
não sei como será com vocês, mas a mim deram-me jeito uns kleenexes. aprovisionem-se, é melhor.
|| f., 21:45
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posta de memória
'o que este país precisa, meus senhores, é trabaaaaaaaaaalhoooooooo!'
(paulo portas, algures entre abril de 2002 e fevereiro de 2005, enquanto ministro da defesa)
actualização 2006:
'não vim ao parlamento na quarta feira porque estava a perder o bronze e depois ficava mal no fundo branco anil da sic-not'
(tradução: trabaaaaaalhooooooo político)
|| f., 21:41
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ó jotapêagá, pá
essa posta sobre a natureza do prof cavaco tá de ananazes
|| f., 21:38
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mais uma vela para a fogueira
ajunto aqui, em nome da verdade (a quem tento honrar com o máximo respeito e fidelidade) que caso não tivesse ido ao largo de s. domingos no dia 19 em trabalho, iria sem ser em trabalho. mas isto sou eu, que tenho a fama e pretensão (e muitas vezes o proveito) de me dirigir a mim própria.
e de ter a mania de execrar todas as formas de discriminação com base no preconceito.
(mesmo se, confesso, tenho um preconceito muito arreigado contra as pessoas com double standard. mas ninguém é perfeito, nem sequer eu)
|| f., 21:10
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bom, já que tou a falar de jornais, posso falar de causas, não?
pois é. há momentos
assim, inesquecíveis, comoventes, até. pode uma jornalista de causas encontrar, por causa disso, um jornalista -- ou assim-- supostamente anti jornalismo de causas, por causa de uma causa comum?
pode.
mas deve? (resposta pelos do costume).
e love u too, outro
f.
|| f., 21:04
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já vos falei da manchete do jn?
sim, i can't get over it.
mais-medidas-que-nos-farão-sofrer-vêm-aí.
vêm aí quando? como? para quê? como é que as reconhecemos, a ver se as evitamos? têm sotaque, sinais distintivos particulares, alguma marreca? por que é que temos de sofrer pela medida grande, mas também pela medida pequena? as medidas têm como objectivo apenas fazer-nos sofrer, ou há mais horrores escondidos? como medir o sofrimento causado por estas medidas? há algum elixir ou unguento que possamos usar? alguma fórmula mágica? alguma medida que se possa tomar contra essas medidas? ou isto é só sofrer, como dizia o outro?
hum?
|| f., 20:59
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isto sim, é uma manchete
"vêm aí mais medidas que nos farão sofrer" (jn, today)
|| f., 20:57
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Natureza morta
Isto é a foto oficial do nosso Presidente da República. É, pelo menos, o que me diz a
insubmissa Bárbara, e eu acredito - porque é verdade, sei que é verdade: é mesmo a foto oficial.
É esquisita, esta foto, mesmo sendo, aparentemente, uma foto oficial igual às outras todas.
Reparem: não há ali, naquele rosto, um esboço de sorriso. Aliás, nem um esboço de sorriso nem sequer um esboço do que quer que seja: temos um rosto inerte, rigorosamente inexpressivo.
E, além disso, assimétrico. São todos, note-se. Não é algo que faça do Presidente uma excepção. Mas o problema é que ele está - do pescoço para cima - rigorosamente de frente para a fotografia. Do ponto de vista de quem vê, o lado esquerdo do rosto é diferente do direito (olhem para as imediações do nariz e para as sobrancelhas e até os olhos, em que um parece maior que o outro). E está macilento. E percebemos que só olhou de frente para o vidro da objectiva, não para nós, que estamos para lá da fotografia. É essa a única impressão humana que retiro do retratado, vendo a foto: cansado, macilento, indiferente. É o que me parece, não me levem a mal.
E para lá do pescoço, está torto. Parece uma fava fotografada a meio corpo. As cortinas, atrás, ajudam a esta impressão, porque não caiem a direito. A medalha pendurada na jaqueta está descaída. A jaqueta, ela própria, está torta. Parece que deixou descair os ombros. Ficou como se tivesse uma pequena barriguinha (que não a tem, o homem é um atleta). Este não é o Cavaco que conhecemos. Mudem lá isso, sff. O país não elegeu uma natureza morta.
|| JPH, 19:24
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Os meus ídolos estão todos mortos
Pois estão. O Céline, o Morrison (Jim), o Alexandre O'Neill, o Pessoa (versões Alberto Caeiro e Álvaro de Campos), o Cunhal, o Rimbaud, o Baudelaire, o Chatwin (Bruce), esses todos, que fazem os imaginários de adolescentes comuns em tempos comuns, adolescentes que precisam de paisagens para ver e de pensar que o mundo é maior do que não é. Esses todos. Não seriam ídolos se não estivessem mortos.
De todos, andava esquecido de um deles. Hoje foi-me recordado e daqui agradeço a
quem o fez. Bem haja. Bendita sejas, blogosfera que estais entre nós, bem amado seja o fruto da vossa memória, tanto no céu como na net, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte, amén.
|| JPH, 18:29
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Freitas do Amaral: uma previsão
Freitas do Amaral irá demitir-se de MNE no dia 30 de Junho de 2006, à tarde. No dia seguinte decorrerá o jogo Portugal-Inglaterra dos quartos de final do Mundial da Alemanha. Freitas será substituído por Luís Amado, que sairá da Defesa, pasta que será ocupada por Nuno Severiano Teixeira. Freitas alegará motivos de saúde.
|| JPH, 14:49
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quinta-feira, abril 20
deixem-me trabalhar
ó jotapêagá, não estás careca de saber que também eu sou uma moira do trabalho político?
|| f., 21:30
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Recado à xôtora Fernanda Câncio
Ó xôtora, a senhora pensa que isto é o Parlamento? É que não é, garanto-lhe eu, não é. Portanto, toca lá de blogar, ó xaxafavori, qu'é pra isso que (não) lhe pagam. Cumprimentos
|| JPH, 21:20
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Confirma-se: baldaram-se em "trabalho político"
"
Estamos em campanha interna para as distritais e fui embora antes de votar por isso, convencido de que haveria quórum."Ricardo Gonçalves, deputado do PS, justificando, segundo a Lusa, a sua ausência na fatídico plenário parlamentar
|| JPH, 20:26
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Choque tecnológico em São Bento...
OOooops! Ali pelas bandas de São Bento há uns probleminhas.
Na semana passada foi a falta de quórum. Hoje é o voto electrónico que não funciona. Deve ser o choque tecnológico.
E que tal o Simplex?!
|| portugalclassificado, 18:11
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Get a life, man
Francisco Trigo de Abreu reflecte sobre a vida e a escrita.
|| asl, 17:05
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quarta-feira, abril 19
olha
não me ocorre nada. será dos pólens? do calor? do sol? do vento?
tou em catalepsia neurónica (que não neurótica)
tou imprestabilíssima.
|| f., 14:49
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Sinónimos
Neura =
Toco (popular minhoto, I suppose) =
Ferro em brasa (Breakfast at Tiffany's, Capote)
|| asl, 14:36
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Manifs
Espero que a manifestação da Rua de São Domingos tenha gente: é provável, até porque o acto miserável da turbamulta anti-judaica ocorreu há 500 anos. Na última manifestação em que participei (pela despenalização do aborto, em solidariedade com as mulheres julgadas na Maia) estavam meia dúzia de gatos, aliás gatas. Agora imaginem que me dava para convocar uma manifestação de homenagem às vítimas dos crimes da guerra colonial. Acham que aparecia alguém? Duvido.
|| asl, 14:30
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Não vos tínhamos avisado já?
O Instituto de Conservação da Natureza (ICN) alerta para o facto de quase metade das espécies de vertebrados em Portugal estarem em risco, em especial devido à destruição dos seus habitats(Da imprensa on-line)
|| asl, 14:25
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As saudades qu'eu já tinha dele
Questionado pelo
24 Horas, Pedro Santana Lopes recusou-se a dizer se vai hoje, ou não, à inauguração do Casino Lisboa. "Já tenho a decisão tomada mas primeiro tenho que informar quem me convidou", justificou. Muito justamente, o jornal titulou assim a pequena notícia: "Santana Lopes faz
suspense até ao fim". São assim, as pessoas importantes: deixam-nos em suspenso. Está-lhes na massa no sangue, esta inata sabedoria.
Repare-se, por exemplo, que Lili Caneças faz o mesmo (também em declarações ao nosso tablóide de referência). Questionada sobre a
toilette, diz que não tem certeza. Será conforme a meteorologia. Se fizer bom tempo, escolherá um "conjunto mais primaveril, em tons rosa clarinho", com uns sapatinhos Chanel. Se chover, então o trajar será outro: "um conjunto mais clássico, ao estilo de Valentino: um top preto justinho [ui, isto promete], calças largas em baixo", além de uns sapatunchos Yves Saint Laurent que diz ter comprado [???] "este ano em Barcelona".
Isto é
in, muito
in.
O que é
out, muito
out, é dizer que não se vai à festa do ano só porque se foi sujeita recentemente a uma cirurgia a pedras nos rins e não se pode "sair à noite". Foi o que disse Maria de Belém. Lamento, srª deputada, mas devo dizer-lhes que operações dessas estão completamente
out para uma senhora do seu nível. São coisas de lúmpen-proleta, não podia ter inventado outra coisa qualquer, as extenuantes obrigações da vida parlamentar, sei lá? Tch, tch,
shame on you, shame on you.
PS. Seja como for, da leitura das crónicas do 24H resulta claramente que o Prémio Isto Há Coisas Que Só À Chapada vai, sem sombra de dúvida, para Margarida Prieto. Então não é que a senhora esposa do sr. António Damásio confessa que o vestido que levará à festa "não é novo", tendo-o até já usado "algumas vezes"!!. Meu Deus, meu Deus! Como diria Pacheco Pereira - e com toneladas de razão, como sempre - são coisas como estas que revelam o atraso cultural do nosso país. Pois são, lá isso são.
|| JPH, 11:23
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terça-feira, abril 18
Post pouco pós-pascal...
Fico muito triste. Eu que pensava que ia ser um pecador a
tempo inteiro - passo a vida agarrado à Internet, deito um olho à SIC-Notícias a toda a hora do dia e trabalho para os jornais - agora parece que
já não... e tal.
Eu, que até queria, amiúde, ir consultar a página do Vaticano na Internet para ler as recomendações do bispo penitenciário (que título tão auspicioso...) que sugeriu os novos pecados para ler a Bíblia, fico defraudado, é claro que fico defraudado!
Sim, porque se há pecados é para se usarem. Com parcimónia, é certo, mas usai, usai! Até porque alguns pecados haverá (não digo todos, claro) que podem ser bastante saudáveis e benéficos para a saúde!
|| portugalclassificado, 21:36
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Deputados faltosos (i)
Não deixa de ser hilariante ouvir Paulo Portas dizer que o primeiro erro em todo o caso das faltas foi anular o dia de trabalho de quinta-feira e que isso "é um convite à ponte". Mas, já agora, não é dever dos deputados estarem no hemiciclo na hora da votação?
Não deixa de ser hilariante ouvir Guilherme Silva dizer que o Parlamento devia ter fechado na semana da Páscoa, como já conteceu no passado, e que nada disto terria acontecido.
O PS, com 49 deptados faltosos, quer agir e Alberto Martins promete que quem faltar às votações terá SEMPRE uma falta. Dá vontade de fazer um sorriso amarelo. Dá vontade de perguntar se o Governo e a maioria do PS terão coragem para tomar esta medida. Já estou a ouvir o "aparelho" do PS por aí a ranger os dentes à "coisa". E não será só no PS. Vamos ver o PSD. Voltaremos ao assunto.
No meio disto tudo, o PSD, com 50 deputados falsos, e Marques Mendes estão em silêncio. Ele há silêncios...
|| portugalclassificado, 21:07
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segunda-feira, abril 17
Enfim, a hemeroteca reabriu
É hoje, É hoje. A hemeroteca reabriu e parece que está melhor.
|| asl, 18:50
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A CIDADE VAGA
A Cidade Vaga, de Miguel Cardina, ex-Olho do Girino. Um regresso feliz
|| asl, 18:28
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domingo, abril 16
Correcção no subsídio para a sociologia do engate
A minha amostra de "blogger de engate" telefonou e denunciou um erro deste subsídio para a sociologia da blogosfera. Em abono da verdade, recusa-se a ser amostra. Parece (diz ele) que, por definição científica já estabilizada, um "blogger de engate" nunca se apaixona. Logo, estando apaixonada a amostra deste estudo, é a prova provada de que nunca foi um "blogger de engate". Um subsídio viciado, este. Agora que o senhor escreve menos, é um dado científico.
|| asl, 22:38
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Subsídios para a sociologia da blogosfera
O blogger de engate quando se apaixona, pára. Marimba-se na função social e política da blogosfera.(Eu queria fazer um link, mas depois ELE, que serviu de "caso prático" para este subsídio, matava-me)
|| asl, 16:01
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quinta-feira, abril 13
Um país inteiro em tolerância de ponto
Se dúvidas tivesse de que nada iria acontecer aos senhores deputados que faltaram às votações na quarta-feira, dissiparam-se depois de ouvir Vitalino Canas, porta-voz do PS.
«Se essas justificações se enquadrarem no que está previsto na lei maturalmente é uma ausência justificada. Se não se enquadrar no que está previsto na lei já disse o presidente da Assembleia da República, e muito bem, que será aplicada a sanção», concluiu.Como a palavra do deputado "faz fé" na justificação das faltas e lhes basta responder "trabaho político" para a falta ser justificada, a não ser que os deputados sejam acometidos por um acesso de sinceridade - "faltei porque o voo para o Funchal era às 18:00" ou "tinha um jantar de amigos lá em casa" -, nada lhes irá acontecer. Por muito que Jaime Gama prometa fazer aplicar o regimento.
Enfim, o país está em tolerância. Só não está quem não pode.
Desculpem a insistência nos poeminhas do Millôr Fernandes.
(Retirado do livro
Pif-Paf, Ed. O Independente, 2004)
Poeminha de homenagem à preguiça universal
Que nada é impossível
não é verdade;
todo o mundo faz nada
com facilidade.
|| portugalclassificado, 19:12
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Falta de quórum
Do meu posto de observação verifico, sem surpresa, que Lisboa está vazia. O trânsito parece o de um domingo normal. Ainda não é feriado mas não interessa. O povo partiu para gozo de merecidas folgas. Há falta de quórum no Parlamento? Normal, normalissimo. O Parlamento é o espelho da Nação. Nem mais nem menos, nem melhor nem pior. O resto é a inveja a falar.
[Na imagem: A
Inveja, fresco na capela Scrovegni, em Pádua. Autor: Giotto di Bondone, n. 1267, Vespignano; m. 1337, Firenze.]
|| JPH, 17:13
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Dedicado à malta da liberdade de expressão
"A nova lei antiterrorista britânica, que classifica como delitos a glorificação do terrorismo e a difusão de publicações terroristas, entra hoje em vigor" Da LusaVá, apareçam, digam qualquer coisa, até pode ser à Nanni Moretti, pode ser qualquer coisa de esquerda.
|| asl, 17:13
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Assis
Um poema do grande Fernando Assis Pacheco, dedicado ao meu amigo JPH. et pour cause
O cu da MaruxaUm cu que se desvela em Agosto em Ourense
redondo para olhar um cu magnificente
um cu como um bisonte
o teu cu Maruxa adivinhado num restaurante
eu rimo tanto cu que trago na memória
o teu fará por certo mais história
é um cu para a glória é nena impante
rodando na cadeira el’ deixa-nos suspensos
quase presos Maruxa pelos beiços
lembra-me nédio raxo assim forte de febra
lêveda e alva nas Burgas cozinhando
se de soslaio agora se requebra
é como canta Maruxa! igual que um pássaro
ao qual neste mesón péssoro vénia
teu ouriflâmio cu me faz insónia
|| asl, 15:50
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Corporativismo (e um recado interno)
Registe-se, embora com algum atraso, a criação de
um novo blogue de senhoras jornalistas, algumas das quais têm o prazer de me conhecer. No jornalismo (excepto no desportivo e nos cargos de chefia), as senhoras já são esmagadoramente maioritárias. A ver vamos se não acontece o mesmo na blogosfera jornalística. Por aqui, no Glória, mantemo-nos fiéis, desde o princípio, à regra das quotas
fifty-fifty: dois homens, duas mulheres, dois que trabalham (eu e a Câncio), dois que fingem que trabalham (o Nuno e Ana).
|| JPH, 15:33
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Frases que me impõem respeito
Bombyx mori é o inventor de uma das séries mais giras da blogosfera. Não sei se já se lhe impôs isto:
EM CRETA CONHECI UM CRETINO
|| asl, 14:49
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quarta-feira, abril 12
Erotismo e Salazar, que futuro? Um poema de Millôr
Um poema de Millôr Fernandes para fazer
pendant com o post do JPH do Salazar e do Hotel Borges.
Poesia sobre a teoria do conhecimento (epistemologia)Era uma vez uma pequena chamada Liaque diziaque quando um rapaz a convidava a um coquetelela já sabia o que ele queria.Sabia,mas ia.
|| portugalclassificado, 17:34
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Salazar e o Hotel Borges
Foi um amigo meu que me contou esta história. Um amigo que já me deu provas de ser um gajo sério, incapaz de inventar.
Ele tinha lido algures que o dr. Salazar tinha por hábito frequentar, com amigas de ocasião, o Hotel Borges, em pleno Chiado. Conservador como era, pedia sempre o mesmo quarto, o 300 ou o 302, não tenho a certeza.
Um dia esse meu amigo, curioso, decidiu pegar na namorada e levá-la ao Borges, que, embora decrépito, conseguira sobreviver ao passar dos anos (julgo que ainda lá está). Perguntou na recepção se o dito quarto estava livre. Estava. Assim que entrou percebeu tudo.
Uma divisão quadrada, grande. Numa parede a janela, virada para a rua. Na outra, oposta, um enorme armário embutido na parede, de portas corridas. E estas, de uma ponta à outra, forradas a espelhos, reflectindo a cama toda, por sinal também enorme.
Feliz com a descoberta, o meu amigo teve assim mais uma razão para se divertir imenso naquela noite. A namorada, ao que ele me contou, é que ficou sem perceber porque razão ele, ao longo da noite, lhe fazia trocadilhos ordinários com a frase "manda quem pode, obedece quem deve".
Ocorreu-me esta história
lendo hoje o Filipe Nunes Vicente: "
Não sei se será assim, mas os homens que gostam de copular em quartos espelhados são seres frágeis e generosos."
Quanto ao Salazar não me parece. Quanto ao meu amigo, acertou na
mouche.
|| JPH, 14:44
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terça-feira, abril 11
Sociologia do engate na blogosfera: um ganda post de outrem
Sobre esta matéria acho que nunca se debruçou o Pacheco Pereira. Mas é um verdadeiro tratado sobre a coisa na blogosfera. A China Blue, da
Sociedade Anónima, é a autora da pérola que não resisto a reproduzir. É comprido, mas vale a pena.
os blogues de engate
E eis que aqui a vossa amiga chaina volta ao ataque com uma dissertação de consistência filosófico-antropológica sobre essa realidade fascinante que são os tcharaaan!, blogues de engate. Sim, vou falar-vos da estirpe de machos (e fêmeas, e fêmeas, mas os machos interessam-me mais!) que anda blogoesfera fora em afanosas manobras de sedução. E são as seguintes, as conclusões da minha pesquisa alargada (isto é um lençol, depois não digam que não avisei!):
O estilo.
O gajo do engate aposta muito na prosa poética, um valor seguro: com poesia tout court arriscar-se-ia a passar por totó, pois é muito fácil, mesmo para as leigas, constatarmos a mediocridade de um poema de dez sílabas: é aquele que nos dá vontade de rir. A prosa poética disfarça mais e melhor, pois permite ser-se medíocre sem se dar tanta bandeira. Por princípio, só os gajos completamente passados dos carretos se atrevem à poesia pura e dura no blogue - mas esses, por acaso e estranhamente, até facturam, e bem: as gajas gostam do atrevimento de uma alma de poeta que lhes mostre as vísceras moídas - uma coisa assim tipo ary dos santos mas sem a parte da bicha histérica.
O gajo do engate pode, por outro lado, limitar-se a fazer rir as gajas a bandeiras despregadas com a sua estupidez ou inteligência, independentemente do estilo. Estes são os que não precisam de mais nada, pois as gajas abrem-lhes logo as perninhas (consta que tem a ver com a libertação de endorfinas: a associação sexo/riso não é por acaso) e são eles os melhores conhecedores do género feminino. Ou seja, papam-nas todas em fila (embora sejam mais raros de encontrar que agulha no palheiro da sociedade equestre portuguesa).
A linha.
A linha editorial do gajo do engate assenta na exploração ad nauseum do amor insatisfeito: a ideia de que duas almas gémeas sofrem do mal do desencontro neste limbo urbano que é o nosso, num registo tipo lobo-antunes-do-paleolítico-inferior (mas sem alferes), é absolutamente irresistível para a sopeira chorosa que toda e qualquer gaja guarda dentro de si. Os posts que usualmente brotam da imaginação de um gajo destes são a dar para o abstracto, tipo norma em branco, por forma a que cada uma das gajas-leitoras se reveja naquilo, à sua própria luz: um blogue de engate cultiva a abrangência místico-temática, questão a que voltarei.
O design.
Convém que um blogue de engate tenha uma ambiência a dar ares de sóbrio-gótico-depressivo. Vai daí que os templates tendam a ser brancos ou pretos e sem grandes mariquices pictóricas, não vão as gajas questionar-lhes a virilidade e o bom-gosto. A única coisa em que um gajo destes concede, é nas fotos. Pensando melhor, blogue de engate que se preze tem que ter fotos! Porque, ou se é um ganda maluco que manda bojardas em poesia ou prosa (v. supra, em estilo) e se está cagando para a estética (que também os há e a facturarem bem!) ou há que enfeitar um bocadinho a coisa a modos que para disfarçar a falta de génio. Até porque (lá está!) não há gaja que resista ao reflexo da lua nova no olho da gaivota. Para além de que uma fotozinha ajudar a criar a aura de gajo-national-geographic: um macho sensível de tele-objectiva às costas e barba de 3 dias. As gajas gostam disso (no fundo, há momentos em que as gajas gostam de quase tudo, basta sentirem-se sozinhas).
A ambiência, portanto, tem que ser assim um bocadinho a atirar para o neurótico-desamparado, a fim de despertar nas gajas aquela coisa da protecção dos mais fracos, ou seja, o sentido do resgate. E é fácil, convenhamos, porque o instinto maternal é coisa tão inata numa gaja que faz com que esta, quando sem filhos, dê em maluca a embalar nenucos, cães ou gatos, e tenha desejos súbitos de sentar outras pessoas no seu colo, catar-lhes piolhos e, basicamente, infernizar-lhes a existência. Logo, nada melhor para atrair a atenção e o regaço de uma gaja, do que apelar-lhe ao consolo; uma gaja saudável é uma verdadeira máquina de consolar: traz incorporadas doses inesgotáveis de amarfanhanços implacáveis dentro de si.
O modus operandi.
Temos, então, o gajo a despejar umas figuras de estilo bonitas e a gaja lá caída, a sorver aquilo tudo, o pito aos saltinhos. Tarda nada e já está a suspirar durante a hora coca-cola light, ah!... se aquilo ao menos fosse para mim... Excitada ante a possibilidade, deixa um comentário espirituoso a dar-se a conhecer, que entende muito bem, também já passou por isso, um beijinho e tal... A não haver caixa de comentários, serve o mail.
O gajo, entretanto, tratou de se assegurar, junto do namorado da prima de um conhecido de um amigo que tem blogue e vai a jantares (isto é um penico, senhores!) que a gaja não é nenhum camafeu com quem se envergonhe de ser visto na rua e dá-lhe, subtilmente, trela, a par com o número do telemóvel. Aqui chegados, um parentesis: convém que a faixa etária de ambos seja mais ou menos idêntica, para facilitar a identificação nostálgica e os temas de conversa (lembras-te do calimero, quando éramos miúdos? E a abelha maia? opá, e os festivais rtp da canção, isso é que era, os festivais...) .
A coisa rotiniza-se: ele escreve, ela comenta ou emeila, e se ela também tiver blogue é muito mais fácil, porque ele faz a mesma coisa: durante umas semanas, esfregam-se mutuamente os egos como palhetas ao sol e a coisa pega fogo que é um tiro. Depois vem a fase do enamoramento e o gajo já a ver-se a facturar, embora saiba que tem de ter calma: antes de lhe mostrar que a acha boa, tem de lhe dizer muitas vezes que a acha esperta e fascinante e única, uma Simone, uma Sophia, um Pessoa de saias! Convém também que o gajo mitigue o entusiasmo com alguma apreensão, tipo, meu deus o que estamos a fazer, onde isto irá parar? Todas as gajas gostam de se sentir um pedaço de mau caminho: não há nada que nos dê tanta vontade de fazermos disparates como alguém achar-nos tão irresistivelmente podres de boas que até fica agoniado. Sabermos que nos sobrepusemos a outra qualquer dentro da cabeça de um gajo, assim como uma camadinha fresca de massa folhada, é meio caminho andado para ele nos facturar, olareolaseé.
Ele, por sua vez, vai avançando com um elogio entusiasmado para logo a seguir recuar, deixando a gaja maluca de tanta curiosidade - porque esta coisa do virtual é gira e tal, mas às tantas a gaja quer é saber se o gajo é estrábico, anão ou cheira mal da boca. Cai então na conversa do café ou do copo e pronto, já está: o que quer que aconteça depois, o gajo já facturou (o que quer que aconteça, porque nem todos os blogues de engate têm como fim uma boa foda: muitos, vêm-se logo nos preliminares e, alguns, até, engatam só para fazer amigos e amigas ou para aumentarem a lista telefónica... juro!).
É claro que um gajo destes passa rapidamente para outra, uma vez saboreada a presa. O que lhe dá gozo é a caça, é sentir-se o caçador (odeia sentir-se encurralado!), pelo que, na noite seguinte, mais um post e já nova gaja em perspectiva, espera lá que há que há aqui uma que um dia destes me disse que... xacá adicioná-la ao Gtalk ou ao messenger. O problema é que, tirando algumas boas amizades ou fodas com direito a fogo de artificio, que a espaços possam acontecer, um blogue de engate acaba por se reduzir a um blogue engatado, preso a um esquema repetitivo e até sórdido, que as gajas acabam por topar após se terem desbroncado umas com as outras (coisa que fazem com regularidade, diga-se).
Consequências.
Consequências? Está-se mesmo a ver: o gajo corre sérios riscos de acabar pendurado pelos tomates num tronco de árvore, como objecto de sacrifício, num daqueles rituais celtas no meio da floresta, onde muitas gajas nuas dão vivas à fertilidade e à sabedoria superior da deusa-mãe-natureza-gaja, enquanto dançam Madonna. O que, dado o pendor kinky do gajo, não será, necessariamente, mau para ele.China Blue
|| asl, 21:22
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O travão emocional
E. queixa-se de que recebe mails frios: É como se a escrita te travasse. A escrita é técnica e mentira. Não escrevo mails aos meus amigos: tenho ali uma mão-cheia de adiados. Já nem as sms me servem para mais do que informações objectivas.
E. sugere que se trata de uma consequência profissional. Não, é uma opção pela verdade, a autêntica, antes de a gramática, a composição, os estribilhos e as máscaras aparecerem para a perturbarem. Um dia destes a gente vê-se.
|| asl, 18:03
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post esquerdalho (actual.) *
as manifestações de rua ainda mudam decisões dos governos? a resposta, por estranho que pareça, é sim. pelo menos em frança. depois de semanas e semanas de vozearia nas ruas de paris, villepin teve de meter o cpe na gaveta. não deixa de ser interessante que isso aconteça quando são cada vez mais as sondagens (e as corporações) a moldar as decisões dos governos... ao fim ao cabo, este caso em frança devolveu a alguns (inda que brevemente) a centelha do poder popular... nem faltam as (poucos apropriadas) comparações com o maio de 68 e aquela imagem dos trabalhadores a juntarem-se aos estudantes nas ruas...
mas pronto, lá que o villepin meteu a viola no saco, meteu!
*
com um dia de atraso
|| portugalclassificado, 14:48
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segunda-feira, abril 10
Dias sem bloggar
estive de férias uns dias. dias e dias sem jornais. sem rádios. sem telejornais. um stress!
|| portugalclassificado, 19:55
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Lisboa é uma sinfonia
JPH, nada mudou no Tóquio de há seis meses para cá. O sr. João tinha saudades nossas. O Incógnito, enfim, está no mesmo lugar. A Sara passa a abrir o Baliza às segundas-feiras só com música portuguesa. Continua a comer-se muito bem nos "Bichos" da Susana e da Anabela, a nossa "casa de jantar" preferida. A bem dizer, isto fica tudo em caminho. E o Chiado, de manhã ou à tardinha, é um dos bons sítios onde se passar a Primavera. (A FNAC tem dois livros do Drummond de que tu havias de gostar (sobre bundas e coisas assim) levei-os no sábado, não empresto já). Ah, dei cabo de um petit orçamento nos alfarrabistas ao pé da Bertrand. E para terminar à la Câncio, tens que ver o saco Armani... Beijos
|| asl, 17:37
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O template tá bonito mas
Eu gosto desta arrumação. Mas não se podem fazer títulos compridos. O que eu queria dizer no título anterior era que "E o JPH nem é dos gajos que eu conheço dos que mais gosta de bola". Pronto, lost in translation.
|| asl, 17:35
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E o JPH nem é dos gajos que conheço que mais gosta de bola...
|| asl, 17:32
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Coimbra é uma canção
No domingo fui à bola e gostei. Foi muito divertido.
Houve bilhetes à borla. Houve golos (quatro, dois para cada lado). Houve expulsões (cinco, todas para o mesmo lado, sendo três a jogadores, uma ao treinador e outra ao médico). Houve polícia a trabalhar. Houve sol e houve chuva. Houve até, ocasionalmente, futebol, mas a isso liguei pouco (quem me tira as repetições da TV tira-me tudo). Houve conforto (era um estádio do Euro), lugar para estacionar quase à porta, cafézinho ao intervalo, casas de banho limpinhas e um abraço (que não pedi) de um adepto desconhecido quando a "equipa da casa" marcou. Houve jornalistas ameaçados de linchamento. Houve um SMS que mandei para um amigo com um resultado intercalar, a que ele me respondeu "manda-me o resultado só no fim porque senão dá galo" - e deu, tinha razão, deu mesmo. Houve a liberdade de fumar sem que ninguém me chateasse. E houve, depois, uma conferência de imprensa em que o presidente da "equipa da casa" usou a expressão "filho da puta"(ouvi na rádio). Melhor era impossível.
Finda a experiência - e estando eu quase a atingir a meia idade - julgo ser altura a altura de, finalmente, escrever aqui o Grande Lema Nacional: o futebol é assim mesmo. Custou mas foi. Sinto-me outro.
|| JPH, 14:49
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domingo, abril 9
acidentalmente, um ultimato
juro que se leio mais alguma posta a anunciar
o fim do blogue mais a despedirem-se do blogue mais a elocubrar sobre a imensa, quiçá inigualável, importância do blogue que agora (não, plos vistos) findou mais a dar alfinetadas nos blogues que abruptamente continuam e que brutamente têm mais audiências ocasionando nada acidentais dores de cotovelo mais a descrever a festa do fim do blogue e o fim da festa do fim do blogue mais a proclamar as festas sem blogue que se seguirão em nome do blogue ao blogue com festas mais a recordar os imorredouros blogues que antecederam o não menos imorredouro blogue que vai morrer mais a anunciar os blogues que se seguirão ao imorredouro que vai morrer mas que no fundo nunca por nunca morrerá na memória e no sentir e não sei quê dos que o fizeram e leram e comentaram e imitaram e vilipendiaram e invejaram mais a despedir-se dos outros blogueiros do blogue mais a fazer o elogio (fúnebre?) do fundador do blogue mais o auto-elogio dos autores do elogio ainda vou, juro, de bombista suicida garantir o acidente.
bolas.
acabem lá isso, abram outro, não abram, reabram esse, mas deixem-se desses panegíricos piegosos, pá.
|| f., 23:26
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o bem amado, endide
ai lôbe iu,
carlos lima. mas 3 blogues 3? ó home, iço até paresse mále. aliás, tenho para mim que tanto direito de pernada ainda te leva à agência funerária (e pode ser como a de 7 feet under...)
|| f., 23:22
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sexta-feira, abril 7
O McCarthy a que temos direito (III)
Faço um apelo: que as minhas palavras sobre o nosso pequenito Luciano McCarthy do Amaral não sirvam de pretexto ao Acidental para interromper o seu muito
anunciado encerramento. Prometeram - agora cumpram!
|| JPH, 16:07
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O McCarthy a que temos direito (II)
Ainda na Atlântico (pág.12) o nosso pequenito Luciano McCarthy do Amaral revolta-se contra o facto de Hollywood só produzir activismo esquerdista (pró-gay, anti-Bush, etc.). E pergunta-nos se não seria "muito mais interessante" que Hollywood fizesse filmes sobre o "gulag" na URSS ou sobre os massacres de Che Guevara?
O nosso pequenito McCarthy do Amaral movimenta-se, pelos vistos, nos territórios das ideias muito-mas-mesmo-muito-simples. À condenação de um activismo limita-se a propor outro, de sinal contrário. Isto é falta de ambição: Luciano McCarthy do Amaral já só se contenta com um jogo de soma nula.
Mas seja: então que Hollywood produza filmes sobre o Gulag e o Che e até - porque não? - Mao Tsé Tung. Sobre o Che, em particular, estou ansioso, visto conhecer pouco da "obra" do homem. Já quanto ao Gulag e a Mao, símbolos de momentos históricos que conheço um pouco melhor, permita-me Luciano McCarthy do Amaral duas sugestões, a bem do activismo que propõe.
No caso da URSS é de evitar aquele episódio escabroso em que Londres - por acordo com Estaline - devolveu a Moscovo centenas de refugiados políticos russos, muitos dos quais se suicidaram pelo caminho, por preferirem a morte às suas próprias mãos do que às mãos do ditador.
Quanto a Mao, convém não dar demasiado a ideia de como a colaboração activa dos EUA lhe foi útil para vencer a guerra contra o Exército Nacionalista de Chang Kai Chek.
Há por aí literatura disponível sobre o assunto, em português e tudo.
|| JPH, 15:03
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O McCarthy a que temos direito
Luciano Amaral, o nosso pequenito McCarthy, insurge-se na Atlântico contra o activismo esquerdista do cinema produzido em Hollywood. Dá exemplos concretos:
Syriana,
Good night, and good luck,
Capote,
Brokeback Mountain,
Capote,
Munich. Usa argumentos colhidos nos melhores manuais da demagogia miserabilista/populista tão cara ao dr. Salazar: "
'Denunciar' em democracia, do alto das mansões de Bel-Air, com dezenas de criados, amas ou assistentes, cabeleireiros e treinadores pessoais, não custa nem significa nada." (pág.12).
É claro que tudo isto foi escrito pelo nosso pequenito McCarthy em condições bastantes desconfortáveis: fardado de Marine, sobrecarregado como um burro com a M-16, o colete anti-bala e os óculos de visão nocturna, suado e empoeirado até aos ossos, nos curtos intervalos entre as suas arriscadas patrulhas pelas ruas de Bagdad.
Só pode ser: se "
não significa nada" produzir cinema anti-Bush "
do alto das mansões de Bel-Air", presumo que, por maioria de razão, também "
não significa nada" escrever a favor dos bravos soldados colocados no Iraque - como o nosso pequenito McCarthy já fez dezenas de vezes - sentado no quentinho de uma redacção ou de um escritório, a anos-luz, em distância e conforto, do caos de uma guerra.
Enfim: o nosso pequenito McCarthy lamenta que aos Clonneys e aos Spiebergs e aos Ang Lees e outros "
não custe nada" produzirem a sua propaganda ocidentalófoba. Por ele custaria alguma coisa, olá se custaria. Como custou, por exemplo, a todos os perseguidos do senador McCarthy. Anda nostálgico, o nosso pequenito McCarthy do Amaral. Já não se fazem filhos da puta como antigamente.
|| JPH, 13:47
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quinta-feira, abril 6
Berardo
Não me escandaliza que um edifício do Estado albergue a
colecção Berardo (ou grande parte dela). Não me escandaliza que, a prazo, o Estado negoceie com o proprietário a compra da colecção (a qual, no panorama da arte contemporânea, é de facto muito importante). Já me faz uma certa confusão que a colocação da colecção no CCB torne impossível- pela sua enorme dimensão - que outras colecções por lá circulem. CCB é sigla de Centro Cultural de Belém. Não de Centro Cultural Berardo.
[Na imagem,
March, 1986, de Gilbert & George]
|| JPH, 15:38
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Assistência técnica
Está
aqui (ou
aqui) o template
Autumn Hues onde o novo Glória Fácil se inspirou. Depois é só pegar nele e mudar tudo.
|| JPH, 15:27
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quarta-feira, abril 5
Barcelona-Benfica (XIX)
85m00 - Segundo golo dos gajos. Marcou o Eto'o. Adiante. Nada mais desadequado à pre-publicação de um romance do que o formato de um
blogue. Pura e simplesmente blogues e livros não encaixam: em dimensão, em tempo de leitura, em interactividade. Além do mais, há-que dizê-lo: no que toca a romances históricos a "senhora dôna" Agustina não me convence. Digo-o depois de ter lido as "biografias" (aspas, muitas aspas) da Florbela Espanca e do Marquês de Pombal.
|| JPH, 21:19
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Barcelona-Benfica (XVIII)
72m00 - Luisão marcou agora um livre, aí a uns 40 metros da baliza dos gajos. Por pouco não acertou na bandeirola de canto.
|| JPH, 21:18
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Barcelona-Benfica (XVII)
71m00 - Os comentadores da RTP dizem que o Benfica se "começa a aproximar" da baliza do Barcelona. Já rematam à entrada da área.
|| JPH, 21:16
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Barcelona-Benfica (XVI)
70m00 - Ena, um remate do Benfica à baliza. Aleluia!
|| JPH, 21:09
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Barcelona-Benfica (XV)
60m00 - Devia ser fuzilado três vezes seguidas, o Simão, pelo golo que agora falhou. Ele há tipos que só à chapada! (Ou o golo foi anulado? Olhem, já nem sei. Isto de ver bola e blogar ao mesmo tempo é areia demais para a minha camioneta.)
|| JPH, 21:03
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Barcelona-Benfica (XIV)
54m35 - Saiu o Giovani, entrou o Caragunis ó lá comé qu'se chama.
|| JPH, 20:55
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Barcelona-Benfica (XIII)
49m15 - Canto para o Barcelona!
|| JPH, 20:54
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Barcelona-Benfica (XII)
48m24 - Canto para o Benfica!
|| JPH, 20:50
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Barcelona-Benfica (XI)
Intervalo II - Algumas pessoas mais idosas têm-se queixado do tamanho das letras do Glória Fácil ser agora muito pequenino. Tentaria resolver o problema.
|| JPH, 20:48
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Barcelona-Benfica (X)
Intervalo - Estou a ficar velho. Aqui há uns anos não ligava pevide aos futebóis.
|| JPH, 20:39
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Barcelona-Benfica (IX)
48m05 - Intervalo. Devemos especular: haverá uma ligação entre o resultado e a ausência de Gabriel
O Pensador Alves dos comentários da RTP? Fica a dúvida.
|| JPH, 20:31
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Barcelona-Benfica (VIII)
39m35 - O Morettttttto voltou a tirá-la de lá de dentro, com um pé, depois de um atraso miserável de uma besta qualquer do SLB.
|| JPH, 20:20
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Barcelona-Benfica (VII)
31m20 - Porque é que o maradona tem
anúncios no blogue dele e eu não tenho no meu?
|| JPH, 20:15
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Barcelona-Benfica (VI)
25m00 - Tenho a impressão que os apanha-bolas têm mais tempo de posse de bola que o Benfica.
|| JPH, 20:11
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Barcelona-Benfica (V)
18m35 -
Golo do barcelona.
Marcou o dentuças.
|| JPH, 20:05
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Barcelona-Benfica (IV)
15m00 - Passado um quarto de hora de jogo deve ser devidamente assinalado que o guarda-redes do Barcelona já tocou duas vezes na bola. O Benfica, pelo seu lado, conseguiu passar três vezes para o meio-campo do adversário. Neste preciso momento em que escrevo o Moretto (grande guarda-redes, acho que já disse) voltou a tirar a bola dos pés do Deco.
|| JPH, 19:57
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Barcelona-Benfica (III)
10m00- Afinal Moreto escreve-se com dois tês. Grande guarda-redes, este More
tto, sempre o disse.
|| JPH, 19:55
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Barcelona-Benfica (II)
7m45 - Deco agride selvaticamente Moreto, que fez mais uma grande defesa. Grande guarda-redes, este Moreto, sempre o disse.
|| JPH, 19:54
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Barcelona-Benfica (I)
Aos 4 minutos o Barcelona falha um penalti contra o Benfica. Ronaldinho marcou e Moreto defendeu. Grande guarda-redes, este Moreto, sempre o disse.
|| JPH, 19:53
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melancolia ou lá o que é que este tempo faz
fui à
praia e chovia.
e lembrei-me disto:
The thrill is gone
The thrill is gone
I can see it in your eyes
I can hear it in your sighs
Feel your touch and realize
The thrill is gone.
The nights are cold,
For love is old,
Love was grand when love was new,
Birds were singin',
and so were you
Now it don't appeal to you...
The thrill is gone.
This is the end,
So why pretend
And let it linger on?
The thrill is gone.
Now it don't appeal to you,
The thrill is gone
(por chet baker, claro)
|| f., 18:09
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u do little, but u do fun
por
este andar ainda vou ter saudades do acidental. muito bom, indeed.
adorei sobretudo a parte da barbie e do ken (é o meu upbringing suburbano -- só que nessa altura essas coisas faziam-se com a cindy, que é tipo a tia mais velha da barbie. mas o menino deve ter a modos que pelo menos menos dez anos que eu, o que significa que entre os outros vários gaps nos separa também o geracional).
só um ou outro reparo (tinha de ser, não tinha?):
oscar wilde com acento no o? why? só se a ideia era traduzir -- mas faltou o selvagem/tresloucado/indomável, então
e prada nos anos 80 era ainda e só uma marca de sacos, malas e carteiras (fratelli prada, cuja magnífica loja iniciática ainda existe, com esse nome, em milão, numa daquelas galerias cujo nome agora não me vem). só nos noventa é que a miuccia começou a fazer roupa e sapatos. tal como a gucci, cuja produção de roupa e acessórios só se 'sexyzou' com o tom ford (que é aquele gajo que apareceu na capa de uma das últimas vanity fair tipo dejeuner sur l'herbe mais a scarlet e a kyra -- ele é o que está vestido) também na década de 90, a prada é uma marca cuja glória é relativamente recente. (agora george rech?! really. é visitar a sucursal portuguesa, ali na esquina da castilho com a joaquim antónio de aguiar, para ficar esclarecido/a: para tias sim, mas daquelas senhorecas, dââââah).
em todo o caso, sim senhor. o menino faz-se (perdoe que, pobre e mal agradecida, me não ofereça para o encaminhar nesse desiderato), mesmo se o name dropping ainda deixa algo a desejar. mas, agora me lembro, as respostas eram para o mail, com requisito de foto, não eram? então?
|| f., 16:28
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Simplex
Meninas, eu nestas coisas dos templates sou assim um bocado gaja. Não há semana que não vá ao cabeleireiro. Decidi-me portanto por uma nova permanente, assim muito simplex, e espero que gostem. Fica, para memória futura, uma imagem do antigo. Vá lá, elogiem-me a obra.
|| JPH, 13:51
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terça-feira, abril 4
Polémicas
O Nuno Simas gostaria muito de poder escrever sobre esta polémica dos brócolos e do Corte Inglês e das empregadas domésticas. Infelizmente não pode. Está de férias nas Maldivas.
|| JPH, 20:42
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bró-co-los, faz favor
ooooops again: dei um erro. pedi à empregada para comprar bróculos. estou envergonhadíssima.
que erro. que vexame. que traição ao meu propalado ideário, a todas as minhas causas, presentes, passadas e futuras.
até já me chamaram 'a provedora dos bróculos' (dessa gostei, confesso. gosto das coisas com graça, que hei-de fazer?).
mea culpa. mea enormíssima e indesculpabilíssima culpa.
não é bróculos, é brócolos.
brócolos
brócolos
brócolos
brócolos
(faz de conta que escrevi isto cem vezes no quadro negro e fui para o canto com orelhas de muito muito burra)
fascinante, o que uma posta sobre o preço exorbitante do quilo de bró-co-los num supermercado de luxo suscita por aí. para a semana a ver se escrevo sobre o preço das lentilhas no lidl, depois de uma descrição pormenorizada da lida da casa feita pour moi-même. sim, qu'isto de empregadas/os domésticas/os não se admite, sobretudo às gajas libertadas de esquerda.
(não menos fascinante é haver uns anonymus que fazem colecção das coisas 'parolas' de que eu 'me gabo' aqui e ali ao longo de um ano de blogue, tipo ler a vanity fair, usar botas prada -- posso acrescentar outras marcas chorudas, querem? -- e possuir agendas gucci, para, na primeira oportunidade, alinharem tudo em variegadas caixas de comentários como prova de que sou uma ganda parola armada ao pingarelho. chiça, fui desmascarada. mas será, dúvida, dúvida, que vão assentando os vários items num moleskin ou numa palm pilot? vai-se a ver e somos almas gémeas. respostas para a nossa caixa de correio, por favor, com foto de corpo inteiro e catálogo de marcas de guarda roupa e cosmética mais lista de names que costuma 'drópar')
|| f., 17:58
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em homenagem às fatais femmes de ménage
here she comes
you'd better watch your step
she's going toooo
break your heart in two
yes it's trueeeeee
it's so hard to realize
just looking to her fox coloured eyes
she's going to play you for a foooooooool
yes it's true
cause everybody knooows
she's a femme fatale
the things she does to pleeeeeease
she's a femme fatale
she's just a little teeeeeease
wowowowo
|| f., 17:37
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jota pê agá, u rule!
ok. sim, sim. mas tens de pedir com jeitinho. talvez rogar, mesmo -- não basta requerer. mas não faço feriados nem passo bem a ferro nem sei fazer camas como deve DE ser. cozinho bem, porém. juro. várias modalidades típicas. e sou óptima a escolher bróculos.
|| f., 16:46
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de deus (moita)
eheh. você às vezes até tem graça, ó
rodrigo.
e neste caso tem até muita. sobretudo (mas não só) pelos milhares de caracteres que gastou para exprimir o seu espanto pelo facto de eu ter uma empregada doméstica (a nomenclatura é, informo-o com pesar, a mais vulgarizada, sendo mesmo assumida por quem desempenha este tipo de funções -- por exemplo no título das respectivas representações sindicais -- e no decreto-lei que estabelece as normas por que se rege a actividade). mas também por considerar digno de nota (e de boa e longa nota) que eu peça à dita que desempenhe as tarefas em vez de lhas ordenar com voz de comando.
o que demonstra várias coisas.
uma é que tem a sorte de não viver, como a maioria das pessoas que eu conheço, refém da sua assessora de residência/adjunta de salubridade doméstica. as outras são as do costume.
|| f., 16:41
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segunda-feira, abril 3
Ponto de ordem
De: João Pedro Henriques
Para: Fernanda Câncio
Assunto: produção blogueira
Data: 03 ABR 06
Exma. Srª.
V.Exa pode, evidentemente, produzir 50 mil caracteres de posts num só dia. Li-os todos avidamente, como sempre, e aposto que não fui só eu. Darão todos imensamente que falar - uns mais do que outros, é certo -, e ainda bem.
Ora acontece que não é pelo facto de este blogue não nos pagar salários vai para três anos que devemos abandonar um comportamento profissional. O JEMQHEN (José Eduardo Moniz Que Há Em Nós) deve sempre ter em atenção as audiências. Isto não é menos sério lá por ser a feijões.
Digo isto baseado na experiência: quando V.Exa produz 50 mil caracteres num só dia tem tendência a meter folgas (não autorizadas, claro) nos quinze dias seguintes. Portanto, na impossibilidade prática de V.Exa. me prometer que nos próximos 15 dias produzirá, todos os dias, 50 mil caracteres com o mesmo calibre dos de hoje, eu peço-lhe - apenas isto - que doseie a coisa.
É assim: até os pode escrever todos no mesmo dia (se calhar é melhor, não vá a inspiração pedir asilo). Mas faço-o usando aquele mecanismo do
Save as Draft, que está mesmo ao ladecos do
Publish Post. Depois, dia a dia, vai ao
Edit Posts, abre os seus posts que estão em
Draft, e publica-os, um por dia. V.Exa., que até já sabe fazer linques - algo que acolho em si como uma verdadeira revolução copernicana - certamente não achará isto complicado.
E, além do mais, parece-me que algumas das histórias que contou hoje - por exemplo
aquela da sua amiga cuja empregada encontrou "nas pregas do edredão" um "artefacto muito realista e extremamente bem apessoado" - têm um carácter verdadeiramente intemporal (digamos assim), não perdendo por isso serem publicadas hoje ou noutro dia.
Para a matilha que nos consome isto hoje foi
filet mignon (na foto) a mais, é só o que quero dizer. E digo-lhe isto a si e não aos nossos restantes colaboradores porque esses, enfim, parecem-me ter passado à clandestinidade ou estar em vias disso, se produzissem mil caracteres por mês já não seria mau todo.
Com os protestos da mais elevada consideração, despeço-me cordialmente
|| JPH, 20:46
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Couves & Alforrecas
Num país onde acreditássemos minimamente na Justiça teríamos a certeza que aquela jogada de marketing que foi meter uma
providência cautelar contra o livro do JPG iria logo para o caixote do lixo assim que entrasse no tribunal. E que os autores até corriam o sério risco de sair do caso condenados por litigância de má-fé.
Mas não, vivemos em Portugal. E portanto não sabemos. Sabe-se lá se aquilo não apanha pela frente um juiz (ou uma juiza) desvairada que até dê razão à tal da providência. É que eu queria aqui poder escrever, com a máxima certeza, que essa ideia de estar em curso um processo de judicialização da crítica é um enorme disparate, não é nada disso, o que está em causa é mesmo só uma jogada de marketing para voltar a trazer a autora em causa às primeiras páginas dos jornais, agora que está a dias de lançar mais um livro, no caso uma coisa intitulada, segundo me disseram,
Diário da tua ausência (só um título é todo um programa, temos de reconhcer, ela sabe criar expectativas, se calhar aprendeu com o Saramago). Mas não, não posso. Com os tribunais que temos nunca se sabe.
Também me apetecia dizer que isto por cá está tudo ao contrário. Os supostos "malditos" são levados ao colo pela crítica (Luíz Pacheco - que foi muito mais editor do que escritor - é talvez o caso máximo); Já os vendedores de "bestas-céleres" são, eles sim, verdadeiramente malditos, porque não há gato sapo na nossa erudita
intelligentsia que não goste de lhes dar pancada.
Ora isto pode querer dizer que eu estou a criticar o JPG (que criticou a Rebelo Pinto e editou o Pacheco) mas não. Ao menos ele leu os livros da Rebelo Pinto e só depois é que escreveu o que escreveu. Isso, em tudo o que já li sobre os livros da senhora, parece-me fazer toda a diferença.
|| JPH, 18:41
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she'll build u up just to put u down
ó, outro
f. tu não te atrevas a deixar-me (nos?) para aqui a falar sozinha(os?).
marca urgente jantar emergência blogues
(just kidding with the tittle, of course -- it's my ff day)
|| f., 18:21
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oooooops
isto das pessoas que fazem por nós o chamado trabalho doméstico é um assunto muito mas muito complicado.
não podemos passar sem elas -- acreditem, já tentei -- mas também quase nunca podemos com elas.
creio que elas sentem o mesmo em relação a nós, sendo que, para mal dos nossos pecados, a reciprocidade só se aplica à segunda asserção: é que essas pessoas parecem ter sempre outros pardieiros para limpar, varrer, engomar e dar brilho, e ao mínimo remoque põem-se a milhas.
tipo: ó x, tem de ter mais cuidado, partiu o aspirador todo e no processo de partir o aspirador partiu as esquinas todas da casa. isto num tom o mais simpático possível, tentando não ranger os dentes e não deitar chispas pelos olhos, o que só é possível se se passou para aí uma hora a gritar impropérios e chamar nomes à pessoa antes de ela se materializar à nossa frente. resposta: já percebi que é muito exigente e não está contente com o meu trabalho e também não admito que me falem assim, portanto o melhor é fazermos contas já aqui.
isto para não falar das conversas que as pessoas que nos limpam a casa têm com outras pessoas sobre nós e a nossa casa e, sobretudo, o facto de não deixarmos a casa limpa para elas não terem de a limpar.
deve ser por estas e outras que há quem tenha a tradição de arrumar a casa e limpar 'a maior' (adoro esta expressão) no dia/hora anterior ao dia/hora a que a a pessoa vem. há coisas que, definitivamente, não queremos que aquela pessoa com a qual temos uma relação desproporcionadamente íntima veja/encontre/perceba.
não dá jeito nenhum, por exemplo, ter companhia daquele género intempestivo nos dias/horas aprazados para a pessoa, sobretudo quando a casa não tem duas portas e não há maneira de sair pela janela.
não dá jeito deixar fotos alusivas ou outros artefactos figurativos à mão de varrer naqueles dias. pelo que é difícil manter a coisa num certo nível -- mas possível, com muito esforço. o problema é que às vezes as pessoas trocam as horas e os dias. e como têm a chave da nossa casa e o desagradabilíssimo hábito de entrar por ali adentro e virar tudo ao contrário, as tragédias acontecem.
como a que aconteceu a uma amiga minha hoje de manhã: depois de um fim de semana muito bem sucedido em que uma noite foi passada na casa dela e outra na casa de outrém, quando meteu a chave na porta hoje de manhã (ou a meio do dia, não percebi bem), deu com a pessoa toda contente a vasculhar-lhe as intimidades mais recônditas, no caso um artefacto muito realista e extremamente bem apessoado que ela, nos transportes da alvorada de sábado, tinha perdido nas pregas do edredão.
e que fez a pessoa? pôs-lhe aquilo debaixo da almofada, tipo dentinho de leite à espera de um milagre da fada madrinha.
apre.
a desgraçada da minha amiga, se lhe desse para hiperventilar, tinha-se hiperventilado toda no momento em que levantou a almofada, depois de a pessoa lhe explicar que tinha resolvido 'mudar os dias'.
vai daí, voltou a sair de casa sem ai nem ui. ainda deve estar no café a ler jornais e a pensar como vai, doravante, encarar a pessoa.
bom, pelo menos, pensei eu, a pensar na miranda de o sexo e a cidade, não lhe substituiu aquilo por uma santinha. já é qualquer coisa.
|| f., 16:53
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homenagem
o patriotismo porém não me impede de gostar muito muito de comidas de outras paragens. e de as querer fazer em casa.
passei a fase oriental militante (comprava ingredientes japoneses e thai em tudo quanto era sítio, quando não existiam à venda em portugal, e lá vinha eu de mala carregada de wasabi, caril verde, molho de peixe, pickles de gengibre e algas secas, a arregalar os olhos aos suspeitosos inspectores de alfândega), com woks, cestinhos de bambu para o vapor e óleos de sésamo por todo o lado. era muito bom mas cansativo: tinha de passar a vida no martim moniz à procura de coisas que vinham nos livros de receitas e que não havia em lado nenhum.
também me interessei furiosamente pelas especialidades mexicanas, obrigando os meus convidados a enfardar tortillas, fajitas e o meu prato preferido, frango com chocolate, cujo preparo ainda hei-de, um dia destes, divulgar por estes lados.
mas acabei por me fixar, no dia a dia, na cozinha italiana.
o casa nostra fez muito por isso -- talvez porque é o restaurante onde me sinto mais em casa e porque sou amiga do seu cozinheiro dos primórdios, o jorge paixão.
quando não podia passar sem o rottulo -- a torta de requeijão com espinafres que ainda hoje figura na lista --, o jorge explicou-me como se fazia. ainda a cozinhei tal qual umas três vezes, mas aquela coisa de fazer massa italiana é um pedaço extenuante. de modo que adaptei: o rottulo passou a lasagna.
e é assim:
uma embalagem de lasagna seca (ou fresca, mas eu costumo usar a seca) verde ou normal;
um pirex alto, quadrado ou rectangular;
azeite;
requeijão (o número depende dos comensais, mas têm de ser pelo menos quatro);
espinafres congelados ou frescos (daqeles já lavados, claro);
tomate em lata ou fresco;
alho;
mangericão;
noz moscada;
queijo parmesão (em fatia, nunca ralado, esse nojo);
queijo mozarella em barra, em fatias finas (ou aqueles sacos de mozarella desfeito que se vendem para as pizzas)
sal;
pimenta.
numa tijela grande mistura-se o requeijão com os espinafres (previamente descongelados e escorridos ou semi cozidos, no caso dos frescos) até ficar uma massa uniforme, semi esverdeada.
tempera-se com sal e pimenta e noz moscada (esta sem exagerar) e um pouco de parmesão ralado na altura.
numa panela deita-se um pouco de azeite e alhos esmagados. quando começa a aloirar, deita-se o tomate (pelo menos 2 latas grandes ou o correspondente em tomate fresco) e mexe-se até ter um molho saboroso (não há forma de explicar: é ir provando e aferindo a consistência), juntando as folhas de mangericão e sal a gosto. se o molho ficar muito grosso, pode-se acrescentar um pouco de água.
no pirex coloca-se um pouco de azeite no fundo e, se se gostar muito de alhos (i do), alguns alhos esmagados. sobre isso a primeira camada de lasagna, cobrindo o fundo totalmente. sobre esta camada, um pouco de molho de tomate, mais uma camada de lasagna, uma camada de requeijão, outra de lasagna, outra de tomate, e assim por diante. a última camada deve ser de tomate, sobre o qual se rala mais um pouco de parmesão e se coloca, em seguida, a mozarella para derreter, cobrindo totalmente a lasagna.
vai ao forno com lume esperto durante cerca de meia hora, até que a massa da lasagna fique cozida (afere-se isso com um garfo) e a mozarella gratinada.
e prontoS. depois digam se saiu bem
pode-se seguir o mesmo método com bacalhau -- substituindo o requeijão e os espinafres por um guisado de bacalhau com cebola (para quem gosta de cebola, eu odeio) ou pimentos (much better). ou com cogumelos: no caso dos pleurotos, pode-se prescindir do molho de tomate e fazer uma lasagna só de pleurotos guisados. o essencial é que tenha muito molho, para garantir que a massa coza. também se pode usar beringelas, mantendo o molho de tomate. note-se que esta variante de lasagna não tem bechamel -- i do hate it e só serve para engordar.
|| f., 15:16
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desmentido
andam praí a dizer que eu uso moleskins (e que me gabaria disso, fazendo mesmo questão de o afirmar).
não, nope, sóli.
não sei onde foram buscar a ideia -- há ideias e buscas delas tristemente convencionais -- mas never.
o que eu uso são cadernos da papelaria fernandes. há cerca de 1050 anos. daqueles de capa dura, cinza azulada ou preta, da família dos altos estreitos de contabilidade, mas em tamanho pequeno, rectangular, e sem aquelas linhas verticais encarnadas (também existem com folhas brancas ou pautados).
apanhei a mania de um jornalista mais velho há cerca dos tais 1050 anos e nunca mais quis outra coisa. são do melhor que há para reportagem: resistem à humidade e aos puxões, não perdem folhas ao menor mau trato, são óptimos para quando se tem de escrever em pé (quase sempre é preciso escrever em pé) e não se quer ficar com uma tendinite para manter aquilo direito (que é o que acontece com os blocos de notas) e em caso de necessidade podem servir de arma ou escudo (nunca experimentei mas intuo-lhes uma boa performance a esse nível). e arrumam-se lindamente, como livrinhos. tenho prateleiras deles, muito alinhadinhos -- em tempos tinham rótulos, que davam um jeitão para encontrar entrevistas de antanho, mas esse modelo foi descontinuado. agora dá o triplo do trabalho encontrar as coisas.
também há ou havia uns parecidos na papelaria emílio braga, que cheguei a comprar quando -- horror, horror -- a fernandes ficava sem stock, mas cheiravam mal. não sei porquê, devia ser da cola, mas era um pivete insuportável. ainda hoje cheiram mal (os que lá tenho em casa).
qual moleskin qual carapuça. nisto dos cadernos, como em muitas outras coisas -- cães, por exemplo, só de raça portuguesa, do favorito serra de aires ao fabuloso castro laboreiro, mas de preferência sem pulgas nem carraças (há tratamentos para isso) -- sou incuravelmente patriota.
|| f., 14:58
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